Saúde

Diagnóstico tardio de autismo interfere na qualidade de vida do paciente, afirma psiquiatra

De acordo com estudo, no Brasil há aproximadamente dois milhões de pessoas com Transtorno do Espectro Autista

Por Assessoria 07/04/2022 17h06
Diagnóstico tardio de autismo interfere na qualidade de vida do paciente, afirma psiquiatra
Fonoaudiólogo Dener Cardoso Melo - Foto: Divulgação

Durante este mês, a campanha Abril Azul é realizada para conscientizar a população sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), que acomete aproximadamente dois milhões de pessoas no Brasil, segundo dados do Center of Diseases Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos. Porém, esses números podem ser ainda maiores, já que no país há dificuldades para que o espectro seja diagnosticado.

Desde a infância, o doutorando em psiquiatria e fonoaudiólogo Dener Cardoso Melo, 27, lida com as particularidades do que hoje ele pode denominar como autismo. Recentemente, Dener obteve o diagnóstico de TEA, após anos de dúvidas e angústia por se sentir deslocado em meio aos comportamentos e interações esperados em sociedade, e afirma que se sentiu aliviado.

“Eu fui uma criança muito retraída, que preferia brincar sozinha. Demorei a falar, apresentava dificuldades para me socializar com outras crianças e preferia estar com adultos. Eu sempre fui muito sensível a certos sons, texturas e cheiros. Outra coisa que é muito comum em autistas, e que sempre foi perceptível, era meu interesse em organização, rotinas, rituais. Então, ao receber o diagnóstico, eu senti o maior alívio da minha vida. O alívio de saber que tudo o que eu sinto e sou é real, que as minhas dificuldades nunca foram por preguiça ou frescura”, conta.

Interferência na qualidade de vida


O jovem já havia se consultado com médicos psiquiatras antes, por ser acometido pela depressão e ansiedade, mas o diagnóstico para TEA nunca foi estabelecido. Quando ele mencionou a sua hipótese para alguns profissionais, lhe disseram que independente do resultado para TEA, ele havia aprendido a ser “funcional”. Porém, Dener garante que poderia ter tido uma melhor qualidade de vida se tivesse sido diagnosticado ainda na infância.

“O diagnóstico de certa forma valida nossa vivência como pessoa autista e ter um diagnóstico na infância nos garante mais suporte, porque temos acesso a um tratamento interdisciplinar que vai nos ajudar a ter uma vida com mais qualidade. Infelizmente, eu cresci sem acesso a isso. Tive que aprender sozinho a lidar com minhas dificuldades e esconder muitas características para ser mais aceito na sociedade, o que me custou minha saúde mental”, afirma.

Atualmente, Dener é acompanhado por um médico especialista e por um psicoterapeuta. Como possui TEA nível 1 de suporte, também conhecido como um estágio leve do espectro, outros profissionais e tratamentos não são exigidos para o seu caso.

Importância do diagnóstico na infância


Segundo a médica psiquiatra e professora do Centro Universitário Tiradentes (Unit/AL) Paula Zanfolin, o TEA é um transtorno de neurodesenvolvimento que pode acarretar em dificuldades motoras, de comunicação e de socialização. Ainda segundo a médica, no Brasil, o diagnóstico para TEA costuma ser dado tardiamente devido à dificuldade que profissionais de saúde sentem para identificar o transtorno. Isso acontece porque as características do autismo podem ser confundidas com outras patologias ou psicopatologias, como surdez, outras síndromes, traumas e psicoses.

“O ideal seria o diagnóstico na infância, até os 2 ou 3 anos, e não existe exame complementar que diagnostique o transtorno. Usamos exames para afastar causas orgânicas e genéticas, como epilepsia, paralisia cerebral, síndromes genéticas entre outras. O tratamento e os estímulos multiprofissionais e multifuncionais são essenciais para a boa evolução dos sintomas e o melhor prognóstico do quadro”, explica.

Como identificar e tratar o paciente com TEA?


Para identificar o TEA ainda na infância, a médica orienta que os pais, professores e pediatras devem estar atentos às mudanças abruptas de comportamento, como o olhar fixo e lateralizado, enrijecimento dos músculos, contrações involuntárias de membros, distúrbios do sono, irritabilidade, regressão no desenvolvimento, sensibilidade a sons, dificuldade para interagir com outras crianças, seletividade alimentar, andar na ponta dos pés, rigidez à mudanças na rotina, maneirismos, além de outras características.

O tratamento para o TEA é disponibilizado de acordo com as características de autismo apresentadas pelo paciente. Ainda segundo a psiquiatra, os tratamentos oferecidos são a psicoterapia, a fonoaudiologia, a fisioterapia, a terapia ocupacional e a psicopedagogia.

“O trabalho multidisciplinar é fundamental para melhorar a qualidade de vida das pessoas com autismo. Existem modalidades de musicoterapia e equoterapia que podem complementar os estímulos e melhorar a qualidade de vida, a inserção social. Medicamentos podem ser utilizados como apoio, mas não são peça fundamental, já que não tratam a causa, apenas minimizam sintomas externalizantes”, pontua.