Saúde

Número de mortes por doenças cardiovasculares em domicílio cresce 30%

Foram 228 óbitos de janeiro até o dia 20 de maio de 2021 em Alagoas contra 175 no mesmo período do ano passado

Por Texto: Ana Paula Omena, com assessoria com Tribuna Independente 03/06/2021 10h12
Número de mortes por doenças cardiovasculares em domicílio cresce 30%
Reprodução - Foto: Assessoria
Dados dos cartórios de registro civil de Alagoas registraram um aumento de pouco mais de 30% no número de mortes por doenças cardiovasculares em domicílio entre janeiro até o dia 20 de maio deste ano no estado. Foram 228 óbitos em 2021, contra 175 no mesmo período de 2020. Já os óbitos por infarto, insuficiência respiratória e Acidente Vascular Cerebral (AVC) aparecem no levantamento com redução desde o início de 2021 (janeiro) até o dia 20 de maio, em comparação com o mesmo espaço de tempo do ano anterior. Foram 175 mortes por infarto, contra 275 no mesmo período do ano passado; 121 óbitos por insuficiência respiratória este ano contra 149 em 2020; 110 mortes como causa do AVC em 2021 contra 148 em 2020. Para Cleber Costa, cardiologista, cirurgião cardiovascular e vereador por Maceió, esse aumento de mortes por doenças cardiovasculares em domicílio nos primeiros meses deste ano tem a ver com o medo das pessoas de procurarem uma unidade de saúde para atendimento por receio de contrair a Covid. “Bem como pela falta de atendimento, de assistência, por conta das unidades hospitalares terem seus espaços de UTI todos voltados para atendimento da Covid-19”, frisou o médico. [caption id="attachment_452573" align="aligncenter" width="1200"] Para o cardiologista Cleber Costa, aumento no número de mortes por doenças cardiovasculares em domicílio se deve ao medo das pessoas de procurarem unidade de saúde por receio da Covid-19 e à ocupação dos leitos de UTI (Foto: Assessoria)[/caption] “Há uma falta de programação muito clara por parte das instituições, pois teria de haver uma organização para atender todas as patologias que necessitem de tratamento. Não existe hoje só a Covid-19 matando o povo. O câncer está matando, as doenças cardiovasculares idem, bem como outras. Mesmo uma hérnia pode matar”, destacou. Para ele, a mortalidade pode ter aumentado pelo não tratamento ou pelo tratamento muito retardado. “A falta de organização do sistema de saúde pública tem levado ao aumento da mortalidade cardiovascular, pois as UTIs estão 100% ocupadas pela Covid-19 e os pacientes infartados que necessitem de UTI, por exemplo, não estão tendo essa acessibilidade: estão morrendo em casa ou estão nas UPAs, de ambas as formas sem a assistência devida e necessária”, observou o cardiologista. ALERTA Cleber Costa alerta para a necessidade de as pessoas buscarem atendimento médico para outras doenças que não apenas à Covid-19, salientando que as pessoas com problemas cardiovasculares não devem ter receio de procurar atendimento médico no sistema de saúde, pois é importantíssimo. Segundo o cardiologista, o fato de se retrair, de ficar na residência, aumenta o risco de agravar a situação, podendo dificultar a cura, inclusive podendo vir a falecer. “Por exemplo, ter uma sensação de dor no peito e não ir procurar atendimento por medo de contrair a Covid-19. Aí essa dor se revela um infarto e a pessoa morre”, reforçou. Mais de 1.600 óbitos em casa no Estado este ano No total de mortes domiciliares, o levantamento aponta que foram 1.608 de janeiro a 20 de maio deste ano, contra 1.866 no mesmo período do ano passado. 275 mortes por infarto foram registradas entre janeiro e maio de 2020, 149 por insuficiência respiratória e 14 por AVC. Os dados são do Portal da Transparência, lançado em junho do ano passado, que reúne os óbitos por doenças cardíacas. O módulo foi desenvolvido pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil) em parceria com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). “A parceria com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, que nos ajudou a desenvolver os critérios para o Portal da Transparência do Registro Civil, coloca à disposição dos médicos os dados para uma análise criteriosa dos impactos da Covid-19 na sociedade”, diz o vice-presidente da Arpen-Brasil, Luis Carlos Vendramin Júnior. “O Portal se mostrou um importante instrumento de informações à sociedade e ao Poder Público, gerando o interesse de outras áreas em mapear o impacto da pandemia em sua especialidade”, frisou. Desenvolvido mediante rigorosos critérios de pesquisas na área cardiovascular, o painel traz uma metodologia própria de contabilização das causas mortis, seguindo os critérios hierárquicos das regras da Classificação Internacional de Doenças e problemas relacionados à saúde (CID-10), com o objetivo de identificar a ordem das causas de falecimento de modo a especificar a doença que levou o paciente a óbito. As estatísticas apresentadas na ferramenta se baseiam nas Declarações de Óbito - documentos preenchidos pelos médicos que constataram os falecimentos – registradas nos cartórios do país. PRAZOS DO REGISTRO Mesmo a plataforma sendo um retrato fidedigno de todos os óbitos registrados pelos Cartórios de Registro Civil do país, os prazos legais, para a realização do registro e para seu posterior envio à Central de Informações do Registro Civil (CRC Nacional), regulamentada pelo Provimento nº 46 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), podem fazer com que os números sejam ainda maiores. Isto porque a Lei Federal 6.015 prevê um prazo para registro de até 24 horas do falecimento, podendo ser expandido para até 15 dias em alguns casos. A Lei 6.015/73 prevê um prazo de até cinco dias para a lavratura do registro de óbito, enquanto a norma do CNJ prevê que os cartórios devem enviar seus registros à Central Nacional em até oito dias após a efetuação do óbito.