Saúde

Realização de transplante de órgãos cai 68% em Alagoas

Foram apenas oito realizados de janeiro a abril deste ano no estado contra 25 no mesmo período de 2020, todos de córnea

Por Ana Paula Omena com Tribuna Independente 21/05/2021 08h57
Realização de transplante de órgãos cai 68% em Alagoas
Reprodução - Foto: Assessoria
“Estamos vivendo momentos bem delicados por conta da pandemia que tem reduzido o número de transplantes, uma vez que, com a Covid-19 dando positivo é contraindicação absoluta para quem quer doar”, salientou a coordenadora da Central de Transplantes de Alagoas, Daniela Ramos. O levantamento da Central indicou que o número de doações de órgãos caiu 68% em Alagoas, de janeiro a abril de 2021, quando comparado com o mesmo período de 2020. No primeiro quadrimestre deste ano, foram realizados apenas oito transplantes em Alagoas contra 25 no mesmo período do ano passado. Todos de córnea. Segundo os dados, não houve transplantes de rins e coração nem em 2020 nem este ano. Apesar de Alagoas ter sido credenciada para realizar transplante de fígado ainda em 2020, nenhum procedimento foi realizado naquele ano, quando ainda não havia equipe para o procedimento. No entanto, na sexta-feira (14), Alagoas realizou o primeiro transplante de fígado. A partir de agora, todos os alagoanos que necessitem deste procedimento, não terão mais que migrar para outras regiões do Brasil. Daniela Ramos ressaltou que não foi sentido tanto a recusa de doadores este ano, continuando com os mesmos 40% do ano de 2020, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). Para ela, o maior desafio tem sido o potencial doador de fechar o diagnóstico de morte encefálica e não ser contaminado com o vírus. Antes da realização do primeiro transplante de fígado na semana passada, Alagoas teve até uma outra doação autorizada para o procedimento. “Mas o Ministério da Saúde exige que seja feito o RT-PCR até 24h antes da captação dos órgãos, e nesse caso deu positivo para a Covid, uma tristeza... Mas continuamos firmes com o nosso trabalho e na esperança da vacinação para todos”, destacou Daniela Ramos. De janeiro a dezembro de 2020, apenas 34 transplantes de córnea foram realizados em Alagoas e nenhum de rim, coração ou fígado. De acordo com a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, devido à pandemia os transplantes sofreram uma queda de 20% no Brasil. Segundo levantamento da entidade, de janeiro a dezembro, passados, foram realizados 7.362 procedimentos. Em 2019, haviam sido 9.189 transplantes realizados ao longo do ano. Para 2021, a ABTO se diz otimista, uma vez que há um maior conhecimento sobre a covid-19 no país. De acordo com o presidente da entidade, Huygens Garcia, mesmo aumentando o número de casos, existe um pouco mais de experiência com a situação. Ele lembra que: “no começo, quando tinha um doador que estava em uma unidade com um paciente de Covid, a gente já descartava. Agora, nós fazemos o RT-PCR, então não estamos mais descartando doadores”, frisou. 450 pessoas encontram-se na fila de espera atualmente no estado   Dados da Central de Transplantes de Alagoas revelam que atualmente 450 pessoas estão na fila de espera no estado por doadores de órgãos. A maioria deles, conforme o levantamento, aguarda pelo transplante de córneas, com 314. Aqueles que estão no aguardo por transplante de rim são 131, de coração são três e fígado, um. O primeiro paciente a receber um novo fígado em território alagoano foi Jorge Ricardo Queiroz de Andrade, de 57 anos, que foi vítima de uma cirrose, em decorrência de uma hepatite. Seu Jorge Ricardo recebeu o órgão de uma enfermeira, que tinha 43 anos e foi vítima de um Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico (AVCH). Depois de se inscrever na Lista de Transplantes de Pernambuco, uma vez que Alagoas ainda não realizava este procedimento, ele passou a integrar a fila de Alagoas no último dia 11 de março e, dois meses e dois dias depois, conseguiu, finalmente, realizar o procedimento, em um tempo considerado recorde. [caption id="attachment_449637" align="aligncenter" width="640"] Educador físico Jorge Ricardo foi o primeiro contemplado com um fígado novo no estado de Alagoas (Foto: Acervo pessoal)[/caption] Seu Jorge Ricardo atuava como educador físico, e esperava por um transplante de fígado desde 2018. Ele contou que em 2015 estava tentando a cura com medicamentos, mas após anos descobriu que precisava receber um órgão novo. Diante da necessidade de conseguir um transplante, seu Jorge redobrava os cuidados para não contrair o coronavírus, mesmo já tendo tomado a primeira dose da vacina contra a doença. “Ficava em casa. Só saia para o médico, fazer exames, consultas e procedimentos, como a parassíntese, que é a retirada de líquidos da barriga. Nesses últimos dois meses, retirei 26 litros no Hospital Universitário (HU) e 12 litros na Santa Casa”, disse seu Jorge. “Era atleta e educador físico, trabalhava como motorista; técnico de futebol, treinador de goleiros, funcional com jovens e adultos em escolinha de futebol com várias equipes, além de trabalhos sociais. Vou voltar com tudo”, vibrou. (com assessoria)