Saúde

Mais de 400 pessoas aguardam por um órgão em Alagoas

Coordenadora do serviço de transplantes destaca importância da doação: 'conversem sobre isso'

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 15/03/2019 08h38
Mais de 400 pessoas aguardam por um órgão em Alagoas
Reprodução - Foto: Assessoria
“O apelo que a gente faz é que as pessoas conversem sobre isso, procurem saber, tirem as dúvidas. Porque nós temos aí mais de 400 pessoas em fila aguardando por uma chance de sobreviver, uma chance de ter melhor qualidade de vida, de voltar a enxergar”. É desta forma  que a coordenadora da Central de Transplantes de Alagoas, Daniela Ramos destaca a importância de expressar o desejo da doação. Atualmente o estado tem uma lista de espera de 207 pessoas aguardando por córneas, 2 pessoas aguardando coração, e 236 pessoas a espera de um rim compatível. As informações são do Sistema Nacional de Transplantes, serviço vinculado ao Ministério da Saúde que gerencia a doação de órgãos em todo o país. Segundo Daniela Ramos é preciso que as pessoas que tenham o desejo de doar conversem com suas famílias e conscientizem da importância da doação. “Quando acontece a fatalidade da morte encefálica o corpo é enterrado, ocorre a degeneração do corpo em questão de horas. Então porque não salvar outras vidas? É esse apelo que a gente faz, para que as pessoas se declarem doadores, avisem os familiares que é doador de órgãos”, comenta. Em Alagoas há captação e transplante de três tipos de órgãos: rins, córneas e coração, além da captação de fígado que é encaminhado ao serviço nacional. “Aqui em Alagoas realizamos três tipos de transplantes, o de coração, córneas e rins. E nós fazemos a captação para transplante de fígado que é ofertado à Central Nacional que vê qual estado vai receber aquele fígado”, destaca Daniela. A captação segue um protocolo médico de comprovação da morte encefálica. Seguida por outras etapas que envolvem coleta de documentos e material genético do doador. “A doação acontece de duas formas. A doação por coração parado onde podem ser retiradas as córneas, o paciente vai a óbito e até seis horas após o óbito podem retirar as córneas, mas para isso precisa de autorização expressa da família. Outro tipo de doação é com falecidos, o paciente precisa estar com comprovação de morte encefálica, existe um protocolo e se segue uma resolução do CFM [Conselho Federal de Medicina] que precisam passar por três médicos diferentes, dois que realizam exame clínico com reflexo, teste de apneia para saber se estar respirando. O paciente precisa estar sem sedação por no mínimo 12 horas e vem um terceiro médico para realizar um exame complementar, que é um exame de imagem, para comprovar se o paciente tem algum fluxo sanguíneo no cérebro ou atividade elétrica. Então constatada a morte do paciente a família é entrevistada, porque a família tem o direito de aceitar a doação ou não, uma vez autorizada a gente segue uma corrida contra o tempo para ver toda a questão burocrática, sorologia do doador, precisa passar por exames de histocompatiblidade, para saber se aqueles órgãos são compatíveis para transplante”, explica a coordenadora. Estado registra índice de 44% de recusa familiar em 2018   Em 2017 e 2018 o estado registrou 44% de recusa familiar. A autorização da família é a única forma de o paciente receber um órgão, por isso a necessidade de sensibilização da família, reforça Daniela. “Em Alagoas nós tínhamos em 2016, 71% de recusa familiar, em 2017 conseguimos reduzir para 44% e 2018 conseguimos manter essa taxa em 44%. Existem muitas dúvidas por parte da população. De acordo com o novo decreto 9175/2017 somente pode acontecer a doação se tiver autorização da família. Ou seja, não adianta deixar nada escrito, testamento, nada, se em vida você não sensibiliza família para se um dia acontecer a fatalidade, que evolua para a morte encefálica, se a família não for sensibilizada para isso e chegar a um momento desse e for um não. A decisão da família precisa ser respeitada”, destaca. [caption id="attachment_286447" align="alignleft" width="200"] Daniela Ramos destaca que desconhecimento e medo levam à recusa (Foto: Edilson Omena)[/caption] Diversos fatores são atribuídos para a recusa familiar, mas Daniela avalia que a falta de informação é o principal motiva para a recusa. “O que leva as famílias a recusar é o desconhecimento, o medo. Muitos alegam a questão do corpo íntegro, algo que quando acontece a captação dos órgãos é uma cirurgia eletiva como qualquer outra. Então após a cirurgia o corpo é recomposto, pode ser velado, dependendo da causa do óbito, em caixão aberto, como qualquer outro. Alguns alegam questão religiosa, apesar de nenhuma religião proibir a doação de órgãos”, diz. LISTA DE ESPERA Para ter acesso ao órgão é necessário que o paciente se inscreva em uma lista de espera. A depender do tipo e gravidade do quadro clínico ele é direcionado para um nível da lista. “Os pacientes são inscritos em lista, uma lista única relacionada a cada órgão, por exemplo, para concorrer a um rim vai ser levado em consideração o tempo que entrou em lista, condição clínica, algumas questões são levadas em consideração. É uma lista única de Alagoas”.  explica Daniela.