Saúde
Alagoas tem aumento de 75% no número de casos de sífilis
Especialista faz alerta para aumento do número e recomenda uso de preservativos: ‘Pessoas estão facilitando muito’
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima mais de um milhão de infecções diárias por sífilis em todo o mundo. A preocupação em torno da proliferação dos casos também é uma constante em Alagoas, que registrou 483 casos em 2017, um aumento de 75% em relação ao ano anterior, quando foram contabilizadas 275 notificações.
No Brasil, a doença foi classificada como epidemia pelo Ministério da Saúde em 2016. Dados do Ministério apontam que no estado são 768 casos para cada 100 mil habitantes nos últimos sete anos, período em que a doença tornou-se de notificação obrigatória.
Outro dado que chama a atenção é a quantidade de gestantes infectadas por sífilis. A doença pode ser passada para o bebê durante a gestação e dar origem à sífilis congênita que prejudica o desenvolvimento do feto.
O número de gestantes com sífilis em todo o estado chegou a 582 no ano passado, aumento de 42% em relação ao ano anterior (2016), quando foram notificados 408 casos. Já as notificações de sífilis congênitas totalizaram 332 casos em 2017 e 314 casos em 2016.
O médico infectologista Fernando Maia destaca que o aumento nos casos tem provocado cada vez mais preocupação em torno do assunto.
“A gente tem percebido um aumento importante no número de casos, principalmente nos últimos dois anos, e a gente tem atendido muita gente que nunca tinha tido, muitos casos novos, pessoas de todas as faixas etárias. É algo preocupante, porque é uma doença altamente contagiosa e que pode trazer complicações graves. Quando a doença acomete mulheres grávidas pode trazer problemas importantes para a criança”, destaca.
A diminuição do uso de preservativos é considerada uma das principais causas para o avanço da doença. De acordo com o infectologista, a população tem ‘se descuidado’ quanto à proteção.
“As pessoas estão facilitando muito, descuidando muito da sua proteção individual. Muita troca de parceiros. Não estão usando o preservativo adequadamente e isso aumenta muito a chance não só de sífilis, mas de outras doenças que estão no mesmo aspecto. A orientação é reduzir o número de parceiros. As pessoas precisam ser mais seletivas e, se for ter relação sexual, independente do sexo, independente se estiver contaminada ou não, tem que usar preservativo, sempre”, esclarece o médico.
Segundo o Ministério da Saúde, nos últimos cinco anos, foi observado um aumento também no número de gestantes com sífilis, o que pode provocar a morte prematura de bebês além de complicações e má formações.
“A elevação da taxa de incidência de sífilis congênita e as taxas de detecção de sífilis em gestante por mil nascidos vivos aumentaram no país cerca de três vezes passando de 2,4 para 6,8 e de 3,5 para 12,4 casos por mil nascidos vivos, respectivamente. Existe um amplo espectro de gravidade, que varia desde a infecção não aparente no nascimento aos casos mais graves, com sequelas permanentes ou abortamento e óbito fetal, com mortalidade em torno de 40% nas crianças infectadas. Se a gestante receber tratamento adequado e precoce durante a gestação, o risco de desfechos desfavoráveis à criança é mínimo”, aponta o Ministério.
Ainda segundo o Ministério da Saúde, Alagoas tem um dos maiores coeficientes de mortalidade por sífilis a cada 100 mil nascimentos, chega a 7,7.
“Preocupação é que aumento permaneça”, diz técnica da SesauSandra Gomes, coordenadora do Programa de Combate às ISTs/Aids e Hepatites Virais da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) explica que têm sido empreendidos esforços para conter o avanço da doença no Estado.
“Apesar de ser uma doença secular e de fácil tratamento é uma doença que tem crescimento nos casos. A preocupação é que esse aumento permaneça. Inclusive esta semana foi lançado um projeto de resposta rápida à sífilis e foi colocado como município prioritário em Alagoas, a capital Maceió, exatamente porque é nela que se concentra o maior número de casos. A gente entende que o diagnóstico é o primeiro passo para que seja combatido esse avanço. Temos três ações itinerantes agendadas para esse mês de abril. Estamos buscando populações diferenciadas”, diz.
A coordenadora ressalta ainda que outros complicadores estão envolvidos, como a necessidade de tratamento amplo, envolvendo parceiros sexuais. “Existem várias questões que explicam esse aumento. A gente prioriza muito as questões da gestante e do bebê e o que a gente percebe é que o parceiro também precisa ser tratado. Porque quando a mulher está infectada e faz o tratamento, muitas vezes é reinfectada porque o parceiro não foi tratado também. As orientações são para que as testagens sejam feitas em ambos, tratamento em ambos e uso de preservativo sempre”
O diagnóstico de sífilis pode ser feito por meio de testes rápidos. Segundo o Ministério da Saúde, ano passado foram investidos R$ 6,3 milhões nesse tipo de exame.
“Todos os postos de saúde e centros de referência fazem o teste rápido para sífilis. As unidades de saúde no interior do estado também realizam. Principalmente para o público prioritário que é o de gestantes. Porque uma das questões principais é combater a sífilis congênita [em bebês] e a sífilis em gestantes. A partir do momento que a pessoa é diagnosticada ela é encaminhada diretamente ao tratamento, que é muito simples, feito com penicilina benzatina”, explica Sandra Gomes.
A DOENÇA
O Ministério da Saúde explica que a sífilis faz parte da lista de infecções sexualmente transmissíveis (IST’s). Ela é causada pela bactéria Treponema pallidum. E pode ser transmitida por meio de relações sexuais sem proteção com parceiros infectados. Outra forma de infecção é a transmissão da mãe para o bebê, durante a gestação ou parto. Neste caso, há de 70% a 100% de chance de contágio.
A doença é classificada em quatro estágios (sífilis primária, secundária, latente e terciária) e tem diversas formas de apresentação clínica. Desde feridas indolores nas regiões de genitais, até lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, no estágio final da infecção, o que pode demorar décadas após o surgimento dos primeiros sintomas.
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