Saúde

Em um ano, número de acidentes com escorpiões sobem 19% em Alagoas

Ocorrências de casos no Estado saltaram de 7.402 em 2016 para 8.839 em 2017

Por Texto: Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 21/04/2018 11h08
Em um ano, número de acidentes com escorpiões sobem 19% em Alagoas
Reprodução - Foto: Assessoria
Os acidentes envolvendo escorpiões apresentaram alta de 19% de 2016 para 2017 em todo o estado. As informações são da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau). Foram 7.402 casos em 2016, e 8.839 ocorrências no ano passado. Segundo a Sesau o levantamento das ocorrências nos primeiros meses de 2018 será fechado no próximo mês. Destes mais de 8 mil casos do ano passado, 45% foram contabilizados na capital segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), um total de 4002 registros. Este ano, as ocorrências chegam a 944. Em Maceió, os bairros do Centro, Levada, Ponta Grossa, Pontal da Barra, Prado, Trapiche da Barra e Vergel do Lago, que compõem o 2º Distrito Sanitário possuem o maior número de ocorrências, foram 1101 ano passado, e 301 já este ano. O aumento nos números reforça o alerta para a população. Segundo o infectologista José Maria Constant, apesar de os acidentes serem considerados leves, pois ocasionam apenas dor intensa. Há um risco potencializado em idosos e principalmente crianças. “Período mais comuns são os períodos mais quentes, mais ensolarados. Esses acidentes são extremamente frequentes e habitualmente as consequências se limitam a dor da picada. Porque os escorpiões que nós temos aqui não são tão violentos quanto os que existem no Sul e Sudeste, mas eventualmente podem ocorrer casos, principalmente em crianças, onde há complicações. Porque a quantidade de veneno que o escorpião injeta não muda se é adulto ou criança, o problema é proporcionalmente mais grave quanto menor o peso, eles podem matar. Em adultos é mais raro, mas podem matar. Não se pode esperar para o caso evoluir”, diz o infectologista. O Ministério da Saúde tem uma classificação de vulnerabilidade, isto é, públicos mais sujeitos aos acidentes como “crianças e pessoas que permanecem maiores períodos dentro de casa ou nos arredores como quintais (intra ou peridomicílio) trabalhadores da construção civil. Ainda nas áreas urbanas, estão sujeitos os trabalhadores de madeireiras, transportadoras e distribuidoras de hortifrutigranjeiros, por manusear objetos e alimentos onde os escorpiões podem estar alojados” explica o Ministério. De acordo com o médico infectologista, o sintoma comum no caso leve é a dor intensa. No entanto, pode haver evolução do quadro com vômito, tontura, aceleração dos batimentos cardíacos, baixa da temperatura. “São situações que aparecem de forma mais comum nos casos graves além de pulso fino, lacrimejamento, queda das pálpebras, e repito podem levar a morte do indivíduo”, esclarece. Segundo a coordenadora de Controle de Vetores e Doenças Transmitidas por Animais Peçonhentos da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Carmem Samico, isto se dá pelo volume populacional e falta de saneamento básico. Mesmo assim, Carmem esclarece que a grande parte dos casos é de apresentação leve. “Em geral, 80% dos acidentes são leves, apenas com dor local embora a gente saiba que a dor é intensa na picada de escorpião. Os acidentes ocorrem mais na mão e no pé exatamente porque não há proteção no momento do contato com o animal. Após o acidente a pessoa deve ser encaminhada para atendimento, porque só um médico pode avaliar o grau do acidente e fazer o bloqueio adequadamente”, pontua. Orientação é procurar serviço de saúde em caso de picada O infectologista faz um alerta para que os acidentes não sejam ignorados pela população. A orientação, também segundo Constant, é procurar um serviço de saúde. “Como a gente não tem como mensurar a gravidade disso, o que a gente aconselha é que logo depois do acidente procurar atendimento médico mais próximo. Não precisa ser um Hospital de referência, mas que seja uma UPA, por exemplo, uma unidade de saúde, o HGE, até o próprio Hélvio Auto, a orientação básica é essa. Como não se pode saber exatamente qual a gravidade, a pessoa deve ser levada ao atendimento médico mais próximo”, ressalta. A automedicação e procedimentos inadequados não são recomendados. A orientação do Ministério da Saúde é não amarrar ou fazer torniquete tampouco cortar ou queimar o local da picada. “Também não se deve aplicar qualquer tipo de substância sobre o local da picada (fezes, álcool, querosene, fumo, ervas, urina), nem fazer curativos que fechem o local, pois isso pode favorecer a ocorrência de infecções. Não dar bebidas alcoólicas ao acidentado, ou outros líquidos como álcool, gasolina ou querosene, pois não têm efeito contra o veneno e podem agravar o quadro”, reforça o órgão ministerial. Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, no Brasil, as espécies de importância em saúde pública são as do gênero Tityus. Como o escorpião-amarelo (T. serrulatus) que pode ser encontrado em todo o país, bem adaptado ao meio urbano e com maior potencial de gravidade; o escorpião-marrom (T. bahiensis), comum na Bahia e regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil; escorpião-amarelo-do-nordeste (T. stigmurus) comum no Nordeste e o escorpião-preto-da-amazônia (T. obscurus) encontrado na região Norte e Mato Grosso. A adaptação ao meio urbano é a principal causa de acidentes, segundo Carmem Samico. “O escorpião é um animal que se adaptou muito bem no ambiente urbano. Ele se adaptou  porque a gente deu condições para ele se adequar. Deu casa, comida e água. A casa são os locais onde eles podem se esconder como frestas, entulhos, esgotos. O esgoto é um ambiente ideal porque tem o esconderijo, o alimento que são as baratas e a água, são elementos para ele se adaptar e viver bem. O ambiente deve estar sempre limpo, sem entulhos, para que ele não se reproduza nesse ambiente”, destaca. As precauções vão além de manter os ambientes limpos, de acordo com a coordenadora. Atenção e cuidado devem ser redobrados para evitar os acidentes “Os acidentes ocorrem muitas vezes quando a pessoa vai mexer no ambiente ‘dele’ como resto de construção deixado por mais tempo, entulhos, lixo que é acumulado. Quando você mexe ali sem usar nenhuma proteção o acidente ocorre. É preciso observar o ambiente ao mexer, manter móveis afastados da parede, verificar quadros, frestas, sempre com proteção nas mãos e nos pés”.