Saúde

HGE atendeu 324 pacientes vítimas de tentativa de suicídio em 2017

Psicóloga diz que é preciso sensibilizar os médicos e amigos para perceber os sinais dos pacientes

Por Agência Alagoas 18/02/2018 18h09
HGE atendeu 324 pacientes vítimas de tentativa de suicídio em 2017
Reprodução - Foto: Assessoria
Falar em suicídio é bastante delicado. Ao mesmo tempo em que é preciso ter cuidado ao julgar esta palavra, seu debate torna-se cada vez mais importante para a sociedade. À vista disso, o último relatório do Núcleo de Epidemiologia do Hospital Geral do Estado (HGE) apontou que, em 2017, a unidade hospitalar registrou 324 atendimentos relacionados às várias formas de tentativas de suicídio. No mesmo período de 2016, o hospital acolheu 299 pacientes. O levantamento revelou que 194 pacientes foram do sexo feminino e 130 do sexo masculino. O horário de pico à procura por atendimento foi registrado entre 18h às 0h. Considerando esses dados, a psicóloga da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), Dayse Costa, apontou que, segundo estudos científicos, o índice de suicídio nos homens é maior, enquanto as tentativas de suicídio são mais incidentes em mulheres. Isso pode estar relacionado, segunda ela, ao fato de os homens, muitas vezes, apresentarem formas mais fatídicas de cometer o suicídio, ao passo que as mulheres, por sua vez, expressam modos mais brandos, como, por exemplo, tomar remédios. “A questão é que, se as mulheres tentam mais suicídio, uma hora elas acabam aumentando o índice do ato consumado, é possível que isso explique os referidos dados coletados pelo Núcleo de Epidemiologia do HGE”, afirmou. Entre os fatores de risco associados com o suicídio estiveram: afogamento (5), arma branca (16), arma de fogo (2), corte dos pulsos (24), enforcamento (8), atear fogo no próprio corpo (5), ingestão por produtos químicos (33), pulo de altura (8), envenenamento (64), atropelamento provocado (6) e causa não esclarecida (7). Por outro lado, o uso de medicações, principalmente comprimidos (146), aumentou a impulsividade e, com isso, o risco de suicídio. A psicóloga orienta que as famílias e amigos íntimos devem se atentar ao chamado comportamento suicida. Começando com o desejo de morrer, passando por acreditar ser essa a melhor decisão, o planejamento, até, por fim, tomar a atitude. Isso porque, há de se considerar esses “avisos”, não subestimando em hipótese alguma a capacidade que alguém tem de cometer suicídio, mesmo as pessoas aparentemente felizes e demonstrando bem-estar. “Se a pessoa fala que vai se matar, no mínimo isso já passou pelo seu pensamento alguma vez na vida e se ela está externando alguma coisa, ela almeja com esta fala, afetar o outro, nem que seja para chocar. De um modo geral, se a pessoa fala, está demandando algum tipo de atenção e isso não quer dizer que não vá realmente tentar suicidar-se”, esclareceu. “Quando a pessoa está muito deprimida ou se isola, ou quando começa a distribuir suas coisas, bem como delegar funções aos pais e amigos íntimos, a exemplo cuidar dos filhos e animais de estimação, falar com as pessoas em tom de despedida e até deixar mensagens de adeus nas redes sociais são comportamentos que devem ser observados”, orientou. De acordo com a psicóloga da Sesau, algumas pesquisas apontam que o suicídio é hereditário, mas não pode ser considerado como algo generalizante. Isso pode estar associado algum transtorno psíquico que pode ser um traço genético ou a sentimentos mal elaborados em relação ao suicídio de alguém na família, deixando uma marca na vida emocional de quem tenta superar. Conforme Dayse Costa, o suicídio e a depressão são muito relacionados. Mas é muito importante ressaltar que nem todas as pessoas que apresentam um transtorno depressivo têm o risco de cometer suicídio. Existem outros fatores que levam a uma atitude drástica como essa, a exemplo um ato reativo a alguma situação, muitas vezes pretendendo afetar alguém do seu convívio e acabam por perder a própria vida. Outros casos são justificados por delírios devido a transtornos psiquiátricos, ou mesmo o uso de substâncias psicoativas. “Cada caso precisa ser analisado especificamente. O suicídio é uma expressão subjetiva de um grande sofrimento psíquico. É quando a pessoa chega ao ponto de perder total perspectiva de vida. É como se a sua existência perdesse o sentido e a morte pudesse ser a única resposta vigente àquela dor”, explicou. Na opinião da psicóloga da Sesau, morrer já não seria algo temido, mas desejado, uma espécie de fuga para uma pessoa que tenta se matar, haja vista que durante o ato, o indivíduo não deseja morrer, e sim não sofrer. Contudo, quando se chega ao ápice de achar que só a morte acaba com o sofrimento, isso demonstra, pois, um alto grau de perda do sentido de vida. Mitos - Como um sério problema de saúde pública, o suicídio é algo que também traz traumáticas consequências para os familiares e pessoas mais próximas do suicida. Nesse sentido, muitos mitos acabaram sendo gerados sobre o autocídio, os quais podem atrapalhar a efetividade de campanhas e adoção de práticas preventivas que buscam solucionar o problema. Entre os maiores mitos sobre o suicídio, a psicóloga destaca aqueles do senso comum, como o de que o suicida é uma pessoa fraca, que quis chamar a atenção, que não lutou o bastante pela vida e que foi imprudente. “É impressionante que sempre passe pela base dos preconceitos e que a pessoa mesmo depois de tentar um suicídio, às vezes consumado, continue sendo julgada pelos seus atos. Isso é tão forte que as pessoas têm vergonha de comentar que na sua família já teve alguém que se matou. Isso tem a ver com os mitos em torno do suicídio. Sugiro que as pessoas busquem cada vez mais compreensão antes de enveredar pelos sensos comuns”, completou. Atendimento Humanizado – No caso de a família ter uma pessoa com pensamentos suicidas, Laelza Farias, psicóloga e técnica da Supervisão de Atenção Psicossocial da Sesau, sugere que quem passa por situação parecida procure um dos 62 Centros de Atendimento Psicossocial (Caps), que estão distribuídos tanto na capital quanto no interior. “Essas pessoas precisam ser identificadas. Para isso, eles devem procurar conversar com a equipe multiprofissional dos Caps, composta por psicólogos, psiquiatras, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais. Assim, será possível fazer uma consulta bem detalhada, conhecer seus anseios e ajudá-los da melhor forma possível”, recomendou.