Saúde

Ambiente climatizado: mocinho ou vilão?

Manutenção de condicionador de ar passa a ser lei e empresas públicas e privadas têm até o dia 4 de abril para adequação

Por Texto: Lucas França – Repórter e Alcilene Vieira – colaboração com Tribuna Independente 17/02/2018 10h33
Ambiente climatizado: mocinho ou vilão?
Reprodução - Foto: Assessoria
Chega o Verão e o que as pessoas mais desejam é se refrescar. Fugir do calor. Por isso, são bem comuns ambientes climatizados como escolas, hospitais, shoppings, entre outros, em que há grande circulação de pessoas. Mas o que muitas delas não sabem é que se o sistema de refrigeração ou o ar condicionado no local não estiver em dia com a manutenção, ele pode trazer sérias consequências para a saúde de quem frequenta e trabalha exposto a ele. Pois bem. Você já sentiu mal-estar, dor de garganta, crise alérgica ou qualquer outro sintoma depois de ficar exposto em um ambiente climatizado? Se a resposta é sim, então saiba que o local estava precisando de uma manutenção em suas instalações e equipamentos de climatização, caso contrário pode causar sérios danos à saúde. Por isso, agora é lei. Todos os edifícios de uso público e coletivo que possuem ambientes de ar interior climatizado artificialmente devem dispor de um Plano de Manutenção, Operação e Controle (PMOC) dos respectivos sistemas de climatização, visando à eliminação ou minimização de riscos potenciais à saúde dos ocupantes. A lei também se aplica aos ambientes climatizados de uso restrito, tais como aqueles dos processos produtivos, laboratoriais, hospitalares e outros, que deverão obedecer a regulamentos específicos. A Lei 13.584 foi aprovada pelo Senado Federal em quatro de janeiro de 2018.  Os locais que possuem ambiente climatizado e não têm um PMOC terão até quatro de abril para se adequar e cumprir a legislação. A recepcionista Ingrid Moraes aprovou a lei. “Eu trabalho em um prédio empresarial que tem um sistema de refrigeração para deixar o ambiente climatizado. Não sei como é feito a manutenção e se é feito, mas vivia resfriada e indo ao médico. E ele disse que poderia ser alergia por conta do ambiente. Com essa lei todos os prédios que tiverem esses sistemas mais potentes terão que fazer monitoramento regularmente. Nós funcionários agradecemos”, expôs. “Monitoramento do aparelho de ar deve ser feito a cada seis meses” Em Alagoas, existem duas empresas que trabalham conforme orientações da Anvisa. Uma delas é a Ambimet que realiza o monitoramento desses ambientes, fazendo a contagem de colônias e caracterização de fungos, considerando que não é permitida a presença de fungos patogênicos e toxigênicos em ambientes climatizados artificialmente. De acordo com o engenheiro ambiental, Idvando Caetano de Moura, todo sistema de ar condicionado deve passar por uma manutenção no mínimo de seis em seis meses. “São feitas análises no local. Deve ser coletados resíduos, encubar por cinco dias para observar se os fungos se reproduzem e daí é feito o comparativo com as normas do padrão legal. São feitos testes antes e depois da manutenção para se ter esse comparativo. Além disso é feita leitura na hora para checar como está o ar, a velocidade, a temperatura enfim é uma analise geral”, explica o engenheiro ambiental. Ainda de acordo com Idvando, em Alagoas a maioria dos prédios particulares e públicos, como escolas, faculdades e algumas secretarias já têm o hábito de fazer o monitoramento. “Trabalhamos com várias empresas que têm um sistema de ar e que sabem a importância desse monitoramento”, comenta Caetano. Para o engenheiro, a lei vem com uma força maior. No entanto, a preocupação é na fiscalização. “Apesar de já ocorrer essa prática de monitoramento. O que existem é uma deficiência na questão de fiscalização. Essa é uma queixa que estamos observando. Existem três vertentes legislativas que falam dessa questão de monitoramento e manutenção. Uma diz que todo sistema que tem acima de 60 mil Btus precisa de um plano assinado pelo engenheiro mecânico. Tem o plano operativo do ar interior, garantia do ambiente adequado tudo consta na norma da Anvisa”, esclarece. Idvando Moura diz que a fiscalização cabe às secretarias ligadas à saúde. OMS reconhece problema após casos de pneumonia e mortes na Filadélfia A Síndrome do Edifício Doente (SED) refere-se à relação entre causa e efeito das condições ambientais observadas em áreas internas, com reduzida renovação de ar, e os vários níveis de agressão à saúde de seus ocupantes através de fontes poluentes de origem física, química e microbiológica. Diz-se que um edifício está “doente” quando cerca de 20% de seus ocupantes apresentam sintomas transitórios associados ao tempo de permanência em seu interior, que tendem a desaparecer após curtos períodos de afastamento. Em alguns casos, a simples saída do local já é suficiente para que os sintomas desapareçam. Os principais sintomas apresentados são: irritação dos olhos, nariz, pele e garganta, dores de cabeça, fadiga, falta de concentração, náuseas, elevação da taxa de absenteísmo (trabalhador que falta ao trabalho), redução na produtividade e na qualidade de vida do trabalhador. Em 1982, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu a existência da Síndrome do Edifício Doente quando se comprovou que a contaminação do ar interno de um hotel na Filadélfia foi responsável por 182 casos de pneumonia e pela morte de 29 pessoas. O Infectologista Fernando Andrade disse que o acúmulo de sujeira no aparelho pode desencadear infecção pulmonar e problemas alérgicos, como rinite, asma e sinusite. Ainda segundo ele, a falta de manutenção dos aparelhos, dissemina no ambiente partículas que podem desencadear transtornos respiratórios. “O ambiente do ar-condicionado é propício para o aparecimento de fungos, ácaros e alérgenos, como pó e poeira”, explica. Ele conta ainda que estão mais vulneráveis a desenvolver infecções respiratórias os idosos, bebês, pessoas imuno comprometidas, os alérgicos, os asmáticos e outros. “Nesses ambientes, além de gripes e resfriados, as pessoas podem desenvolver crises de asma, bronquite e até mesmo infecções respiratórias, como pneumonia”. PAÍS No Brasil, a necessidade de se combater a SED tornou-se evidente quando, em abril de 1998, o então Ministro das Comunicações, Sérgio Motta, faleceu após ter seu quadro clínico agravado em função de fungos e bactérias alojados em dutos do sistema de climatização. A partir de então os órgãos legisladores lançaram portarias e resoluções que estabelecem padrões de manutenção e de qualidade do ar em ambientes climatizados. A Anvisa intensifica cada dia mais a fiscalização no atendimento às exigências legais, acarretando aos estabelecimentos que não cumprem suas orientações multas que podem chegar até R$ 200 mil. Considerando que uma simples gripe pode afastar o funcionário do seu posto por um ou mais dias, a correta manutenção dos sistemas de climatização é também fator decisivo para aumento na produtividade dos funcionários, o que remete à conclusão de que pessoas doentes são sinônimo de empresa doente.