Saúde

Áreas com vacinação abaixo da meta registram casos de febre amarela

Meta é que 95% da população residente em área de recomendação tome a vacina

Por Texto: Monique Oliveira com G1 27/01/2018 19h15
Áreas com vacinação abaixo da meta registram casos de febre amarela
Reprodução - Foto: Assessoria
Para a maioria das vacinas, como a febre amarela, a meta indicada para garantir a imunização da população numa área considerada de risco e evitar a disseminação do vírus é de 95% de cobertura. O dado é do Ministério da Saúde. Isso significa que, mesmo com as doses de vacinas chegando aos municípios, para garantir que os casos sejam contidos, 95% da população alvo precisa estar vacinada, ou seja, além de haver a vacina no posto, é preciso fazer com que as pessoas efetivamente se imunizem. Essa meta ideal não foi atingida, no entanto, em várias das localidades em que há casos de febre amarela em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Em Minas Gerais, dos 23 municípios com casos confirmados, 15 estão abaixo da cobertura vacinal de 95%. Alguns municípios que registram casos (confirmado ou sob investigação) têm uma cobertura bem abaixo do esperado: é o caso de Ponte Nova (44,54%), Porto Firme (54,55%) e Santa Luzia (41,93%). No Rio de Janeiro, que apresentou 15 casos, a maior parte dos casos ocorreu em municípios que não atingiram a meta de cobertura. O município de Valença, que apresentou 9 casos, tem cobertura vacinal de 80% , embora tenha ampliado o período de vacinação para chegar a 100%. Também o município de Teresópolis, no Rio, com três casos confirmados, está fazendo um esforço para chegar próximo à meta, mas continua abaixo, com 91%. A expectativa é também chegar a 100%. Já em São Paulo, segundo o último boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde do estado, divulgado em 22 de janeiro, dos 80 casos autóctones ocorridos desde janeiro de 2017, a maioria ocorreu em áreas sem recomendação para a vacina. "Em relação à distribuição geográfica, nove casos ocorreram em áreas com recomendação de vacina contra febre amarela e 71 casos em áreas sem recomendação", informa boletim da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. Nos municípios paulistas com área de recomendação da vacina antes da transmissão atual, a meta, em média, não foi atingida. A Secretaria de Saúde informa uma taxa de cobertura acumulada de 80% nos últimos dez anos. Já o Distrito Federal, que registrou três casos em 2017, diz que foram aplicadas 207.581 doses da vacina contra a febre amarela em dezembro e que todos os centros de vacinação possuem vacinas. Também, segundo a secretária de saúde do DF, o índice de cobertura vacinal no território é de 96%. O DF informou também que, dos três casos, um foi autóctone (com infecção dentro do próprio território). Trata-se do caso de um vigilante que morava em Planaltina, mas foi infectado na região de Saan, de mata, onde trabalhava. Não há dados, no entanto, sobre a cobertura vacinal dessas regiões. A importância da cobertura vacinal Em saúde pública, o dado da cobertura vacinal (a porcentagem de pessoas vacinadas dentro da população-alvo) é o que vai realmente vai indicar se as campanhas e ações estão funcionando. "A cobertura vacinal é um dado importantíssimo e é o que vai realmente fazer a diferença. Em 2016, Minas Gerais teve o pior surto visto em décadas, e muitas das regiões já tinham recomendação de vacina há dez anos", diz Renato Kfouri, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações. "Isso foi um sinal de que as pessoas não estavam vacinadas ". O especialista cita também que estudos feitos em São Paulo em regiões com áreas de recomendação para a vacina antes dos novos casos mostraram uma taxa de cobertura vacinal de 30 a 40%. "Isso não chega ao mínimo", comenta. Mas há dificuldades para atingir a meta e a cobertura. Além da quantidade de vacinas e da infraestrutura necessária para garantir a vacinação de todos, a questão com a cobertura vacinal nesse momento é que ela precisa ser feita em um curto espaço de tempo. "Quanto mais rápido a cobertura for atingida, melhor, mas sabemos que há dificuldades de infraestrutura", diz Kfouri. "O Brasil vai começar a vacinar este ano todas as crianças contra a febre amarela, mais isso é algo para o futuro, para garantir uma geração de imunizados em décadas", diz. Uma boa taxa de cobertura da febre amarela, também, é uma estratégia para se evitar a transmissão urbana da doença. Quanto maior o número de não vacinados, maior a chance de que o Aedes, mosquito que vive em áreas urbanas e não está transmitindo a febre amarela, passe a transmitir o vírus. Os dados no Brasil Segundo o boletim epidemiológico mais recente do Ministério da Saúde, divulgado no dia 23 de janeiro e referente a dados de desde julho de 2017 a 23 de janeiro de 2018, o país registrou 130 casos de febre amarela: São Paulo (61), Minas Gerais (50), Rio de Janeiro (18) e Distrito Federal (1). Os dados destoam dos dados das secretarias, que, com períodos e velocidade de atualização diferentes, costumam apresentar outros dados. Em São Paulo, o número divulgado é de 111 casos confirmados (boletim de 22 de janeiro, com dados desde janeiro de 2017); no Rio de Janeiro, são 15 casos (boletim 22 de janeiro, com dados desde janeiro de 2017); em Minas, 47 (boletim de 23 de janeiro, dados desde julho de 2017). Em informações enviadas por e-mail no dia 18 de janeiro, o Distrito Federal disse que três casos de febre amarela foram confirmados em 2017 e três evoluíram para óbito. Desde junho de 2017 até 17 de janeiro, foram confirmados 22 casos em Minas com 46 sob investigação. No Rio de Janeiro, a assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde informou que, com os 6,7 milhões de doses disponíveis, é possível ter uma cobertura de 46%. Em São Paulo, no boletim epidemiológico divulgado no dia 22 de janeiro de 2018, o estado registra 250 casos suspeitos de febre amarela desde janeiro de 2017, com 111 confirmados. Desses, 80 foram de infecção ocorrida no próprio território, com 71 deles fora da área de recomendação para a vacina. Na área de recomendação, toda a população entre 9 meses e 59 anos deve tomar a vacina (desde que não haja outras restrições de saúde). Já nas áreas sem recomendação, só toma o imunizante quem for viajar.