Saúde

Taxa de cesarianas ainda é alta em Alagoas e chega a 90% na rede privada

Tendência nacional de retração não tem sido observada no Estado

Por Tribuna Independente 17/03/2017 09h57
Taxa de cesarianas ainda é alta em Alagoas e chega a 90% na rede privada
Reprodução - Foto: Assessoria

O último levantamento divulgado pelo Ministério da Saúde aponta que a taxa de cesarianas no Brasil apresentou retração de 1,5%. Em 3 milhões de nascimentos, 55,5% correspondem a partos cesáreos. Alagoas, não tem seguido a tendência e registrou alta de 1,2% em 2016 com relação ao ano anterior. Dos partos realizados no Estado, 54,1% foram por cesariana. Nos hospitais particulares, 90% dos partos são cesáreos.

De um total de 47.883 nascimentos no ano passado, 25.904 foram via cesarianas e 21.979 partos normais no Estado.

Examinando os números da rede privada apenas 10% das mães realizam o parto convencional, isto é, pelas vias naturais. Em 2015, a taxa de procedimentos cirúrgicos na hora de nascer foi de 52,89% e os partos normais representaram 47,11%.

Segundo o obstetra Alexandre Calado, da Maternidade Nossa Senhora da Guia, em Maceió, a opção em realizar a cesariana é, muitas vezes, da própria gestante. O medo e a indicação médica são cruciais na decisão.

“A realidade dos hospitais particulares onde cada um faz o pré-natal com o seu médico é até mais que 90%. Eu não posso entrar nos detalhes porque depende da relação médico-paciente. Muitas vezes a paciente pede para fazer cesárea. A questão particular é bem diferente da do SUS. Existem algumas medidas do Ministério da Saúde em termo de humanizar o parto, as boas condutas obstétricas, isso se aplica mais na pública. Na particular é muito isolado, a gente não tem muito parâmetro para avaliar”, reforça.

Incertezas e complicações durante a gestação são motivações

É o caso de Márcia Cristiane, mãe de Lavínia de 6 anos. Ela conta que assistia muitos vídeos de partos normais na gestação. Como ela sofre de asma, acreditava que poderia ter uma crise ou que não suportaria a dor. As crescentes dúvidas e um deslocamento de placenta no início da gestação determinaram a cesariana.

“Desde o início da gravidez, eu sempre fui muito temerosa do parto normal. Nesse período, tive um descolamento de placenta. Meu marido queria que eu tentasse o parto normal, mas já mais próximo de completar as últimas semanas a médica também viu que eu não tinha passagem”, diz Márcia.

(Foto: Sandro Lima)

Alexandre Calado diz que complicações são mais comuns no parto cesáreo

As cesarianas acabaram sendo o destino dos nascimentos de dois sobrinhos dela, Carlos de 3 anos e Yago de 1 ano. As duas irmãs de Márcia tiveram problemas de saúde na gestação, uma câncer e a outra com hipertensão. Para ela, a cesariana foi a melhor opção em todos os casos.

“Já as minhas irmãs realmente não tiveram muita escolha. Ou era cesáreo ou era. Uma com muito sangramento retal, beirando o sétimo mês de gestação. Fez o parto e com 15 dias teve que voltar para o hospital para fazer constatação do câncer. E a outra teve muitos problemas na gestação por conta de pressão alta”.

Mas o obstetra destaca que as chances de insucesso e complicações nos partos cesáreos são seis vezes maiores que nos partos normais. “Por isso, o número deste tipo de procedimento deveria ser bem menor”, aponta Alexandre Calado.

“Para a mãe é muito melhor o parto normal, até porque melhora essa relação do bebê com a mãe. A taxa de prematuros diminui. Para a mãe e para o bebê é melhor o normal. As complicações mais comuns são hemorragia, infecção nos partos cesáreos. No parto normal, as complicações podem ocorrer, mas são muito difíceis”, explica o médico.

“Acompanhar sofrimento foi desencorajador”

Para Milena de Andrade, mãe do Enzo de 3 anos, o desejo de ter parto normal foi interrompido pela necessidade. “Eu já estava com mais de 40 semanas e uns dias e não sentia nada. Então, a médica concluiu que não era viável arriscar esperar mais o parto normal. Disse que provavelmente eu não ia ter passagem. Então, marcou cesárea”, afirma.

Milena diz que sua experiência na maternidade, enquanto esperava pelo procedimento, causou trauma. Acompanhar o sofrimento desnecessário foi desencorajador, garante a mãe do Enzo.

“Durante a espera pela cesariana, vi o sofrimento das outras mães que foram postas no soro para provocar as contrações. Eu e elas ficamos horas esperando pelo parto. A única diferença é que eu não fui submetida aquela situação terrível. Mas assisti ao sofrimento de muitas mães que iam ter normal e, naquele momento, eu estava achando melhor ser cesárea mesmo. Eu não achei que fosse daquele jeito. Pareceu sofrido demais colocarem no soro por horas, tanto sangramento e estudantes de enfermagem e medicina fazendo toques direto nas mães, como parte da aula deles. As mães pareciam experimentos”, justifica.

No entanto, a cesariana não deve ser descartada ou tida como vilã. Para Alexandre Calado, o procedimento ainda é uma escolha necessária e útil para as gestantes.

“A cesariana é uma ótima opção quando o parto normal não é viável. Você ter condições de fazer uma cesariana para o bem estar materno e do bebê é uma excelente opção. Pelo número muito aumentado podemos dizer que é desnecessário, mas é difícil avaliar, porque cada trabalho de parto é um caso. O que interessa é se o bebê nasceu bem ou não, quer seja normal, quer seja cesáreo. Mas que o número de cesariana é muito alto, realmente é muito alto mesmo”, expõe o obstetra.