Saúde

Como é viver com um aneurisma?

"Em algum momento da vida ele pode romper", diz médico

Por R7 10/02/2017 18h45
Como é viver com um aneurisma?
Reprodução - Foto: Assessoria

Os recentes casos de aneurisma cerebral da ex-primeira-dama do Brasil, Dona Marísia Letícia, e do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, trazem à tona uma debate permanente em relação a esta questão. São casos sintomáticos. Em relação a Marisa Letícia, a informação é que ela estava ciente há alguns anos da existência desta dilatação de uma artéria que irriga o cérebro (o aneurisma) e não passou por cirurgia. Mesmo caso de Eduardo Cunha, que teve tal diagnóstico em 2015, mas não foi operado.

Em ambos os casos, a opção das equipes médicas foi a de observar a evolução dos aneurismas. No caso de Dona Marísa Letícia, ocorreu a ruptura, que levou à sua morte, no último dia 3 em São Paulo. Tal situação demonstra em grande parte que viver com um aneurisma é sempre um risco de que ele se rompa, causando uma hemorragia. Na opinião do neurocirurgião Feres Chaddad Neto, da BP (Beneficência Portuguesa de São Paulo) e professor doutor de neurocirurgia vascular na Unifesp, a grande maioria dos pacientes diagnosticados com aneurisma precisa passar por uma cirurgia o mais rápido possível.

— Pode haver casos em que se prefere o acompanhamento em decorrência do risco do paciente (devido à localização), mas ao meu ver quando o aneurisma está dentro do crânio e tem relação com o cérebro, o ideal é ser tratado com cirurgia, porque em algum momento da vida ele pode romper.

Já a neurologista Lorena Broseghini Barcelos, do Hospital Moriah e membro titular da Academia Brasileira de Neurologia Médica, afirma que, dependendo do tamanho do aneurisma, a cirurgia não precisa ocorrer, sendo necessário apenas um acompanhamento regular do médico em relação a uma eventual evolução da dilatação. Neste caso o paciente poderia até ter uma vida normal.

— Em aneurismas menores que 5 mm, geralmente se observa a evolução, mas quando tem crescimento em exames e ultrapassa entre 5 e 7 mm é indicada a cirurgia. A chance de ruptura em aneurismas menores de 5 mm é ínfima, dependendo também do formato.

Não era o caso do aneurisma de Dona Marisa Letícia, que, segundo os médicos, era de pouco menos de 1 cm, e nem é o de Eduardo Cunha, que tem um aneurisma menor de 7 mm (e não de 5 mm), podendo, segundo sua equipe médica, deixar de ser assintomático. A defesa do ex-deputado, com base nestes argumentos, solicitou nesta semana a revogação da prisão dele.

A causa do aneurisma cerebral (há aneurismas em outras regiões) decorre do enfraquecimento ou defeito da parede arterial. Na maioria dos casos é congênita. Mas fatores como hipertensão e tabagismo também aumentam o risco desta ocorrência. Além de um traumatismo no crânio. Segundo Chaddad Neto, a ruptura hemorrágica do aneurisma apresenta três consequências.

— Quando há a hemorragia, 50% dos pacientes morrem, seja imediatamente ou nos 30 dias posteriores. Dos 50% restantes, 25% saem altamente sequelados. Outros 25% saem bem, só que realmente bem apenas 10%, porque há também o aspecto psicológico que afeta a vida depois da ocorrência.

Cura possível

Lorena lembra que a maioria dos casos de aneurisma precisa da cirurgia porque são diagnosticados após algum sintoma.

— Quando há o diagnóstico, geralmente o paciente já teve manifestações clínicas. Diagnósticos de aneurisma nos exames de rotina são mais raros, se faz muito check-up cardiológico, por exemplo, mas ninguem faz neurológico, com angiotomografia, a não ser que tenha enxaqueca ou cefaleia forte.

Chaddad Neto, por sua vez, conta que a opção pela retirada do aneurisma, que também pode ser via endovenosa (espécie de cateterismo), atualmente tem efeitos muito positivos sobre o paciente.

— Quando retirado o aneurisma, a pessoa está curada. O aneurisma é curável.

O neurocirurgião conta que o diagnóstico evoluiu muito, lembrando que, no passado, muitas mortes na época atribuídas a hemorragia ou a AVC (Acidente Vascular Cerebral) eram na verdade causadas por aneurisma. E ressalta que o ideal é fazer o exame para detectar algum aneurisma, já que, até alguns anos atrás, o exame era apenas angiografia cerebral que, segundo ele, é invasivo.

— Hoje há exames não invasivos que podem ser feitos. No meu consultório às vezes opero pacientes que são acompanhantes e pedem o exame, que diagnostica aneurisma cerebral. Nessa semana atendi seis com aneurisma diagnosticado por exames de rotina, investigando dor de cabeça. Em nenhum havia rompimento. Quando eu diagnostico aneurisma com rompimento, os pacientes chegaram direto ao pronto-socorro.