Roteiro cultural

Sueli Carneiro é ovacionada durante palestra no Teatro Gustavo Leite

Uma das mais importantes intelectuais do Brasil lotou o espaço para um bate-papo sobre racismo, história e feminismo negro

Por Kamylla Lima / Ascom Bienal 08/11/2025 10h56
Sueli Carneiro é ovacionada durante palestra no Teatro Gustavo Leite
Sueli Carneiro durante palestra no Teatro Gustavo Leite - Foto: Jônatas Medeiros / Ascom Bienal

“Nós vamos contar a nossa história, nós vamos protagonizar as nossas narrativas e cada vez mais nada sobre nós sem nós”. A afirmação foi feita por uma das maiores intelectuais do Brasil, Sueli Carneiro, à Rádio Ufal, no programa Bienal no Ar, nesta sexta-feira (7), na 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas. Logo em seguida, a escritora foi bater um papo no Teatro Gustavo Leite e foi ovacionada pelo público.

Ao lado das professoras Elaine Pimentel e Marli Araújo, mediadoras do bate-papo, Sueli encantou a todos ao contar um pouco da sua história. Filha de um ferroviário e de uma costureira, Sueli cresceu com o senso de coletividade mais aflorado, por ter vivido numa vila operária em São Paulo.

“Nasci na Lapa há 75 anos. Cresci na região de Pirituba, uma região proletária. Sou filha de um ferroviário e de uma costureira, a mais velha de sete filhos. Tive a sorte de ter pais com consciência racial, que desde cedo alertavam os filhos de que sofreriam por conta da cor”, contou.

Vivência


A escritora relembrou as experiências marcantes que moldaram sua consciência política. “Desde os seis anos de idade, tive que coexistir com práticas de discriminação racial. Isso me gerava revolta e indignação. Cresci num tempo em que as pessoas pobres ainda preservavam uma dignidade muito grande. Os trabalhadores tinham orgulho do pertencimento de classe e viviam com altivez. Essa vivência comunitária e solidária me marcou profundamente”, recordou Sueli.

Primeira mulher negra a receber o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Brasília (UnB), Sueli foi uma precursora. Abriu caminhos para que outras mulheres negras ocupassem espaços na academia, na literatura e na política. Fundadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, na década de 1980, ela é uma das principais vozes do feminismo negro brasileiro e inspira gerações com sua força, sabedoria e sensibilidade.

Protagonismo negro


A filósofa e doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) chegou ao Teatro Gustavo Leite trajada num vestido branco em homenagem a Oxalá. Na Bienal com o tema Brasil e África: ligados culturalmente em seus Ritos e Raízes, Sueli destacou a força do povo negro. “Faremos Palmares de novo. Levantaremos a história que tentaram apagar. O opressor não nos libertou. Nós é que faremos a liberdade, com nossas mãos, nossa memória e nossa luta”, declarou.

Com firmeza, Sueli também falou sobre o protagonismo negro e a importância de se reescrever a história. “Esse tempo acabou — o de falarem por nós. Não permitiremos mais. Nós vamos contar a nossa história, protagonizar nossas narrativas. E isso não tem volta”, cravou.

A autora destacou também que o racismo, nos dias atuais, se mostra mais abertamente, o que exige ainda mais resistência. “Não há mais etiqueta para a prática racista. Nos marcos da chamada democracia racial, havia toda uma hipocrisia. Hoje, o racismo se manifesta de maneira mais brutal, mais violenta, mais perversa, exigindo de nós mais resiliência, mais determinação e empenho na luta”, alertou.

E ela reforçou que o debate sobre ações afirmativas e cotas raciais desestabilizou privilégios históricos. “As cotas tiraram a branquitude do conforto. Até então, pessoas brancas ocupavam quase 100% das vagas no ensino público superior. Isso é uma indecência. Cada cota assegurada a uma pessoa negra é vista como um corte em seus privilégios. Mas a política avança, amplia-se, alcança indígenas e pessoas trans. A vitória dessa luta se expressa aí, apesar das resistências”, concluiu.

Sobre a Bienal


A 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas é realizada pela Universidade Federal de Alagoas e pelo governo de Alagoas, com correalização da Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (Fundepes) e patrocínio do Senac e do Sebrae Alagoas.

Sob a curadoria do professor Eraldo Ferraz, diretor da Edufal, o maior evento cultural e literário do estado também tem como parceiros a plataforma de eventos Doity, a rede de Hotéis Ponta Verde, o Sesc, a Prefeitura de Maceió por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semed) e o Instituto Federal de Alagoas (Ifal), além das secretarias de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult), de Turismo (Setur) e de Comunicação (Secom) de Alagoas.

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