A regulamentação do uso gratuito da cannabis medicinal em Alagoas foi celebrada como uma conquista importante para a saúde pública do estado. Em entrevista à Tribuna Independente, o deputado estadual Ronaldo Medeiros (PT), autor da lei aprovada na Assembleia Legislativa, detalhou os principais desafios enfrentados durante o processo legislativo e comentou sobre as perspectivas para o futuro da política pública.

Segundo Medeiros, o maior obstáculo inicial foi de ordem cultural. “Havia um preconceito muito forte em relação à cannabis por conta da criminalização histórica dessa planta, mesmo quando falamos de seu uso medicinal. Todos os medicamentos são drogas, mas quando se trata da cannabis, o estigma ainda é muito maior. Foi preciso enfrentar esse tabu”, relatou.

Para isso, o parlamentar destacou a realização de audiências públicas com a participação de médicos, cientistas e representantes da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), além de familiares e pacientes que já fazem uso do canabidiol. “Esse processo ajudou a conscientizar os colegas deputados e, assim, conseguimos aprovar a lei com o apoio da maioria”.

Medeiros acredita que a medida representa uma transformação significativa para pacientes com epilepsia, doenças neurodegenerativas e outras condições de difícil tratamento.
“Visitamos associações como a Abrace Esperança, em João Pessoa, onde conhecemos uma estrutura robusta que atende mais de 50 mil pessoas. A história dessa associação começou com a iniciativa de um filho que, sem alternativas, passou a produzir o óleo para tratar sua mãe. Isso mostra que, se o poder público não se organizar, as pessoas vão tentar resolver por conta própria, sem a segurança necessária. Por isso, o Estado precisa assumir esse papel”, afirmou.

Ainda segundo o deputado, relatos de famílias e pacientes que utilizam o medicamento indicam melhorias importantes na qualidade de vida. Para ele, o reconhecimento da cannabis como uma alternativa eficaz e acessível vai ampliar o leque de tratamentos disponíveis no SUS. “A cannabis pode ser mais barata que muitos medicamentos convencionais, o que representa economia para o Estado e, principalmente, alívio para quem mais precisa”, explicou.

Após a sanção da lei, o governo do Estado criou um grupo de trabalho na Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), com participação de profissionais da saúde e pesquisadores da Ufal, para elaborar a regulamentação e organizar campanhas de conscientização. “Conversei pessoalmente com o secretário de Saúde e sua equipe sobre a importância de informar a população. Também defendo que o uso da cannabis medicinal entre na grade curricular dos cursos de Medicina. Algumas universidades particulares já tratam do tema, mas precisamos ampliar isso no ensino público, especialmente na Ufal”, afirmou.

A distribuição gratuita do medicamento, por meio da rede pública, ainda é um desafio a ser enfrentado, especialmente nas regiões mais afastadas do estado. Para Medeiros, é essencial que o governo promova campanhas educativas e organize reuniões regionais para orientar profissionais de saúde e a população. “Temos que seguir protocolos, garantir prescrição médica e, principalmente, informar. O ideal é que esse trabalho seja feito por região, como no Sertão e Agreste, para garantir que a informação e o medicamento cheguem a todos os cantos de Alagoas”, explica o parlamentar.

O ex-deputado estadual Lobão foi um dos primeiros a levantar a bandeira da cannabis medicinal na Assembleia Legislativa, ainda na legislatura anterior. Medeiros reconhece essa contribuição e destaca que o projeto atual é uma continuidade desse esforço. “Lobão foi um dos pioneiros nesse debate. A aprovação e regulamentação agora são frutos de um trabalho coletivo que começou há anos”, reforçou.

Com a regulamentação em vigor, a expectativa é que Alagoas se torne referência nacional na oferta de cannabis medicinal por meio do SUS, unindo política pública, ciência e acesso à saúde para milhares de famílias.