O jurista, ex-deputado federal e escritor Aldo Arantes realizou, nesta quinta-feira (15), uma palestra e o lançamento do livro Domínio das Mentes, na Associação Comercial de Maceió, no bairro de Jaraguá. O evento, que teve início às 19h, atraiu um grande público, reunindo membros da imprensa, intelectuais e representantes da sociedade alagoana interessados no debate sobre comunicação, política e poder.

Aldo Arantes destacou que o título da obra sintetiza com precisão o conteúdo proposto. Durante palestra, ele alertou para a nova forma de atuação da extrema direita, que, diferente do passado, não toma mais o poder por meio de golpes militares, mas sim pela conquista da mente das pessoas. “Qual é o caminho da conquista das mentes? É a chamada guerra cultural”, explicou. Segundo ele, esse processo se baseia na negação da ciência e da história, na pregação do ódio e da violência, e na manipulação da fé em benefício de ideias reacionárias e neoliberais.

Aldo apontou que a mentira sempre foi usada em disputas políticas, mas o diferencial das fake news atuais é a eficácia proporcionada pelas redes sociais, que, com uso de algoritmos, atingem milhões de pessoas rapidamente. “O algoritmo identifica onde a pessoa está, o que ela está fazendo, o que ela está pensando”, disse. Ele também mencionou que o domínio mental tem base científica, relacionando o estímulo da dopamina à dependência das redes sociais. “As redes cumprem esse papel, com estímulos positivos e negativos, e a pessoa é captada. É o tal do domínio das mentes”, afirmou, lamentando que até pessoas aparentemente inofensivas acabem radicalizadas nesse processo.

O autor criticou o fato de que setores democráticos subestimaram a luta ideológica, enquanto a extrema direita se apropriou do conceito de guerra cultural, desenvolvendo instrumentos para massificar suas ideias. “A esquerda subestimou essa dimensão da luta”, disse, mencionando teóricos marxistas como Gramsci e Raymond Williams. Aldo citou ainda o pesquisador João César de Castro Rocha, que aponta a existência de uma “midiosfera bolsonarista”, formada por redes sociais e plataformas da extrema direita. Para enfrentar esse cenário, Aldo propõe um plano de luta com 14 pontos, contrapondo ideias negacionistas e progressistas em áreas como economia, política, direitos humanos e meio ambiente. Ele defende, por fim, “uma unificação de forças em torno de um programa dessa natureza”, como resposta à ofensiva conservadora global.

Presente no evento, o deputado estadual Ronaldo Medeiros (PT) destacou a importância do livro Domínio das Mentes, de Aldo Arantes, diante do cenário político atual. Para ele, a obra é fundamental especialmente neste momento em que a extrema direita avança e as big techs, por meio das redes sociais, exercem forte influência sobre a população. “Ler o livro é despertar, é despertar para o novo mundo”, afirmou o parlamentar, ressaltando que muitas pessoas, sobretudo os jovens, têm suas mentes dominadas sem sequer perceber. Ele exemplificou com a situação de trabalhadores de aplicativos, como motoristas de Uber, que desejam direitos, mas rejeitam a regulamentação. “Você não tem direitos sem ter regulamentação”, pontuou.

Medeiros reforçou que o domínio das mentes leva, muitas vezes, à alienação em relação aos próprios direitos. “Hoje, a maioria, se adoecer, não tem nenhum direito trabalhista, nem previdenciário”, alertou. Para ele, é preciso romper com essa lógica que leva ao simples ato de sobreviver, em vez de viver com dignidade. “Eu não quero sobreviver, eu creio que nós queremos viver e viver com dignidade. A leitura é imprescindível”, afirmou. O deputado declarou que pretende ler a obra com atenção e usá-la como base de reflexão e atuação. “Aldo tem uma história riquíssima, de alguém que lutou contra a ditadura colocando sua vida em risco. Isso a gente deve ao Aldo”, concluiu, recomendando a leitura a todos.

Também presente no evento, o ex-secretário de Comunicação de Alagoas e colunista do Jornal Tribuna Independente Ênio Lins afirmou que o lançamento do livro Domínio das Mentes tem dois significados importantes. O primeiro está relacionado à própria obra, que aborda temas centrais do debate contemporâneo, como a luta de ideias, a guerra cultural e o papel das redes sociais. Segundo Ênio, trata-se de uma batalha atual pela cidadania e pela democracia, e o livro toca exatamente nesse ponto crucial.

O segundo aspecto destacado por Ênio Lins é o reencontro entre a história de Aldo Arantes e o estado de Alagoas. Militante desde 1961, Aldo esteve ao lado de Leonel Brizola, em 1962, defendendo a posse de João Goulart. Com o golpe de 1964, teve que sair do país para não ser assassinado. Já em 1968, após retornar e viver na clandestinidade, foi preso em Alagoas, no município de Pariconha. Conseguiu fugir da cadeia do Dops em Maceió e permaneceu na clandestinidade até 1976, quando foi preso novamente, sendo libertado com a anistia. Em 1982, foi eleito deputado federal por Goiás, estado onde nasceu, exercendo quatro mandatos, além de ter sido vereador. “Toda vez que ele vem a Alagoas, é um abraço de Alagoas com a história do Brasil”, afirma Ênio.