Política

CPI: Rico Melquiades diz nunca ter usado 'contas demo' para promover bets e nega ganhos extras com perdas de apostadores

Influenciador é investigado pela Polícia Civil de AL por suposto incentivo a seguidores para apostas em casas clandestinas. Pela CPI, ele foi convocado na condição de testemunha

Por G1 14/05/2025 13h39 - Atualizado em 14/05/2025 16h08
CPI: Rico Melquiades diz nunca ter usado 'contas demo' para promover bets e nega ganhos extras com perdas de apostadores
Rico Melquíades, influenciador alagoano - Foto: Reprodução/Internet

O influenciador Rico Melquiades afirmou nesta quarta-feira (14) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets do Senado que nunca utilizou "contas demo" para promover apostas online. O influencer disse utilizar contas pessoais nas divulgações que faz.

🔎As contas demo são fornecidas pelas plataformas de apostas a influenciadores e simulam ganhos fictícios com o objetivo de atrair apostadores.

Rico Melquiades confirmou que tem contratos de publicidade com casas de apostas mas negou ter "envolvimento direto" com empresas irregulares. O influencer também declarou que não recebe ganhos extras com o aumento das perdas de apostadores (leia mais aqui).

Rico reúne mais de dez milhões de seguidores e se autointitula embaixador de uma casa de apostas que não tem autorização do Ministério da Fazenda para operar, mas que funciona em razão de uma decisão liminar.

"Sei o que é uma 'conta demo', não vou ser hipócrita, mas nunca utilizei. A 'conta demo' é uma coisa ilustrativa, que você divulga mostrando o jogo, mas é uma conta real, que você divulga mostrando o jogo. Não é uma conta que não existe. É uma conta real. Porém, é o pessoal que contrata que manda login e senha", afirmou o influenciador.

Convocado a depor como testemunha, Rico Melquiades chegou por volta das 10h30 ao Senado. O depoimento começou às 11h55.

"Gostaria de agradecer a chance de estar aqui hoje e me explicar à CPI. Fui chamado pela Operação Game Over 2, que está investigando influenciadores. Desde já, preciso deixar claro que tudo que corre nesta investigação tramita sob sigilo judicial. Isso não tem nada a ver com a falta de vontade de colaborar ou esconder informações desta comissão. É uma questão legal. Nunca tive envolvimento direto com as empresas, além dos contratos de publicidade", acrescentou Rico Melquiades.

Ele foi convocado pela CPI das Bets do Senado para dar esclarecimentos a respeito dos contratos e de trabalhos de influenciadores para promover casas de apostas e jogos de azar online.

O influenciador é investigado pela Polícia Civil de Alagoas por incentivar seguidores a realizar apostas em casas de apostas clandestinas e ilegais. Ele foi alvo de uma operação em janeiro deste ano, quando teve bens apreendidos e contas bloqueadas.

Na CPI, Rico Melquiades disse não ter noção do impacto das divulgações que faz na vida das pessoas e no vício em apostas. E também afirmou não ter conhecimento de algum seguidor que tenha desenvolvido compulsão por apostas.
Nesse contexto, o influencer disse que "sempre" alerta os seguidores sobre os riscos das bets, a necessidade de apostar de forma responsável e de ser maior de idade para jogar.

"Sempre falo que se trata de um jogo, que ou você ganha ou perde. Nem sempre você vai ganhar. Sempre falo: 'Jogue com cautela'. Nunca mostro ganhos exorbitantes e grandes. Nunca falo que você vai ter mansões nem carros, porque isso é impossível", declarou.

Cláusula da 'desgraça alheia'


Influencer Rico Melquiades nega receber ganhos extras com perdas de apostadores

A CPI apura a existência de cláusulas nos contratos dos influenciadores que garantem a eles um bônus sobre as perdas de apostadores.

Nesta terça (13), a influenciadora Virginia Fonseca foi ouvida pelo colegiado e também negou que haja, nos acordos firmados com bets, uma suposta "cláusula da desgraça alheia".

Ela afirmou, porém, que havia previsão de um bônus contratual caso ela dobrasse os lucros da casa de apostas.

Rico Melquiades, por sua vez, disse que recebia um valor fixo da empresa Blaze e que não há previsão de ganhos extras com a elevação das perdas dos apostadores.

"Eu tinha um contrato com a Blaze de um valor fixo. Eu ganhava aquele valor fixo. Se você entrasse, ou não entrassem, se jogassem ou não jogassem, se não fosse ninguém, eu ia ganhar aquele valor fixo. Nunca ganhei por perdas ou ganhos de outras pessoas. Tenho um valor fixo", declarou.

Assim como Virginia, no depoimento desta quarta, Rico Melquiades tem o direito a ficar em silêncio em perguntas que possam incriminá-lo.

Ele recorreu a esse direito diante de algumas perguntas dos senadores, como quando foi questionado sobre o valor que recebe com a divulgação das casas de apostas.

O influenciador está amparado em uma decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), da última terça.

Depoimentos de celebridades


A CPI das Bets considera como essenciais os depoimentos das celebridades digitais. A relatora, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), acredita que as oitivas vão ajudar a desenhar as estratégias de comunicação e atração de novos apostadores.

Também há o desejo de esclarecer possíveis conflitos éticos no uso de influenciadores digitais e discutir uma possível regulamentação.

A comissão de inquérito das Bets tem até junho deste ano para concluir os trabalhos.