Política

Braskem terá que explicar estoque de calcita no pátio da unidade no bairro do Mutange

Notícias baseadas em imagens feitas por moradores da região apontam irregularidades praticadas pela empresa

Por Ricardo Rodrigues / Colaborador com Tribuna Independente 28/09/2023 08h20 - Atualizado em 28/09/2023 09h34
Braskem terá que explicar estoque de calcita no pátio da unidade no bairro do Mutange
Calcita ou sal-gema? Braskem terá que explicar porque estoca produtos químicos na unidade do Mutange - Foto: Reprodução

O Ministério Público Federal em Alagoas (MPF/AL) divulgou nota à imprensa, ontem à tarde, informando que abriu um procedimento investigativo para apurar denúncia de estocagem irregular de grande quantidade de material químico (sal-gema ou calcita), no pátio da unidade da petroquímica no bairro do Mutange, em Maceió.

“A fim de investigar notícias jornalísticas divulgadas em Alagoas, o MPF oficiou à Braskem para que preste esclarecimentos dentro de um prazo de cinco dias, obre origem e o armazenamento de materiais ensacados, possivelmente sal-gema, na unidade da empresa no bairro do Mutange”.

“Além disso, o MPF busca informações sobre a supressão de vegetação que tem sido atribuída à empresa, possivelmente ocorrendo entre os bairros do Mutange e Bebedouro, conforme relatado pela mídia e redes sociais”.

Segundo a assessoria do MPF, a Agência Nacional de Mineração (ANM) também recebeu ofício para realizar uma inspeção no local, onde o material ensacado está armazenado; e fornecer informações sobre a existência desse material e as atividades que estão ocorrendo lá.

“Em relação às denúncias de aterramento envolvendo a supressão de vegetação nativa, possivelmente no bairro do Mutange e/ou na região dos Flexais, a Braskem deve explicar o motivo desse procedimento e apresentar a documentação de licenciamento ambiental correspondente à obra”, acrescenta a nota.

O MPF também oficiou a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) e o Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) para que esclareçam, num prazo de cinco dias, as denúncias de supressão de vegetação, e que informem se a Braskem possui autorização ambiental para o aterramento. “Caso haja autorização, os órgãos ambientais devem explicar a necessidade dessa medida, os motivos que justificaram a supressão de uma área de preservação permanente e fornecer todo o processo de licenciamento relacionado à obra. Se não houver autorização, eles devem realizar uma vistoria no local para avaliar a extensão dos danos”.

De acordo com o MPF, a reportagem jornalística se baseou em imagens feitas por moradores da região dos Flexais, que indicam a existência de um grande estoque de sal-gema ensacado no pátio da petroquímica na unidade do Mutange. A partir dessas imagens, os moradores teriam concluído que pode estar ocorrendo a reativação da atividade de mineração na região e a quebra do compromisso firmado pela Braskem de não extrair o minério.

De acordo com o MPF, em uma nota divulgada à imprensa, a Braskem negou que seja sal-gema o material químico armazenado no Mutange e que o mesmo tenha sido extraído recentemente das minas desativadas. “No entanto, a empresa não esclareceu a origem da grande quantidade de sal-gema nem por que o produto, utilizado pela fábrica da petroquímica do Pontal da Barra, está estocado na unidade do Mutange.”

Posteriormente, prossegue a nota do MPF, a Braskem informou que “o material que o vídeo apócrifo afirma ser sal-gema é, na verdade, calcita (carbonato de cálcio), informação esta que consta na embalagem do produto, e que nada mais é do que um insumo utilizado por uma empresa especializada, contratada pela Braskem, nas atividades com equipamento de sonda para o fechamento definitivo dos poços”.

O MPF disse ainda que recebeu uma denúncia do deputado federal Paulão (PT), reportando a publicação de uma matéria jornalística acusando a Braskem de realizar aterramento de manguezais no bairro Mutange e nas regiões do Flexal sem autorização dos órgãos ambientais. A matéria jornalística inclui um vídeo gravado pelo professor da Ufal Dilson Ferreira, que mostra o aterro com pedras e outros materiais em uma área que, segundo o vídeo, era um manguezal.

“A Braskem, por sua vez, afirmou em uma nota à imprensa, que todas as atividades em execução na região são licenciadas e fiscalizadas pelos órgãos ambientais competentes”.

OUTRO LADO

A reportagem da Tribuna Independente tentou ouvir a Braskem, no final da tarde de ontem, sobre a decisão do MPF, mas a assessoria de imprensa da mineradora disse que foi procurada no fechamento e não houve tempo hábil para encaminhamento da demanda à empresa.

Vítimas de Maceió exigem mais transparência da mineradora

O Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB) divulgou nota sobre a decisão do MPF de apurar a estocagem de produtos químicos na unidade da mineradora no Mutange e exigiu mais transparência da empresa na divulgação de suas ações.

“Diante dessa nota do MPF precisamos ressaltar a importância da força do povo em exercer sua cidadania e cobrar transparência da Braskem na divulgação de suas ações”, afirmou Neirevane Nunes, coordenadora do MUVB.

“Se não fosse o olhar atento das pessoas afetadas pela mineradora e que estão acampadas há mais de 10 dias ao lado dos portões da unidade da Braskem no Mutange, o poder público não teria reagido.

Como pessoa afetada pela mineração irresponsável da Braskem e como pesquisadora chamo a atenção aqui para mudança de atitude das pessoas atingidas direta e indiretamente pelo afundamento do solo”, afirmou.

“Toda essa tragédia nos levou a estar mais atentos para o que acontece ao nosso redor e na nossa cidade e a evitar que novos crimes ambientais venham acontecer. Assim foi a atitude da população de Maceió em lutar pra barrar a tancagem de ácido sulfúrico da Timac Agro; assim foi o grande movimento que foi formado a partir da degradação do Manguezal na Garça Torta/Guaxuma, numa ação do Observatório Ambiental Alagoas; assim como os moradores dos Flexais chamaram a Ufal para entender o que estava levando a mortandade de peixes na Laguna Mundaú e a queda da produção de Sururu; e assim foi o que levou os moradores dos acampamentos de resistência do Bom Parto a denunciar a supressão e aterro do Mangue pela Braskem, como também levou os moradores dos Flexais questionarem o depósito de substâncias estocadas na unidade da Braskem no Mutange”.

“Isso significa uma mudança muito importante de percepção e de atitude pós-desastre. A população agora está mais atenta e exige respostas e não qualquer resposta como é o caso do ocorrido há três meses com o alarme que foi soado pela Braskem na unidade do Pontal, que colocou a população do entorno em pânico, esperando quase uma hora para receber a informação que foi ‘engano’. Uma atitude irresponsável por parte da mineradora que até hoje a população do Trapiche e Pontal lembram da situação de horror, com muitas dúvidas sobre o que realmente aconteceu”.