Política

Grito dos Excluídos denuncia a fome em Maceió

“Você tem fome e sede de quê?” é lema dos movimentos sociais na manifestação que ocorre nas ruas de Maceió neste 7 de Setembro

Por Emanuelle Vanderlei – colaboradora com Tribuna Independente 07/09/2023 09h01
Grito dos Excluídos denuncia a fome em Maceió
Grito dos Excluídos traz reflexão sobre questões sociais no Dia da Independência do Brasil - Foto: Divulgação

Em Maceió, o feriado do 7 de setembro, além do tradicional desfile da independência, terá o Grito dos Excluídos. Uma iniciativa da igreja católica junto com os movimentos sociais e sindicais que traz pautas como moradia, educação, direitos, cultura, e reforma agrária.

De acordo com Carlos Lima, coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o grito que coloca como lema “A Vida Em Primeiro Lugar” está em sua 29ª edição. “Esse estamos com o tema ‘Você tem Fome e Sede de quê?’. Aqui em Alagoas, como no Brasil todo, é uma articulação da igreja através das suas pastorais sociais e dos seus organismos, com os movimentos populares e sindicais”.

O Grito é um contraponto ao dia da pátria, comemorado no Brasil como dia da independência. “Na Semana da Pátria, no Dia da Pátria, ao invés do grito do Ipiranga, as margens do Ipiranga, fazemos o grito dos excluídos e das excluídas para dizer que não pode ser independente um país que não alimenta a sua nação, um país que não cuida das suas crianças, um país que não tem espaço para os mais velhos, um país que cria, a partir da sua política econômica, uma quantidade de excluídos e excluídas enormes”, explica Lima.

Segundo ele, a igreja abraça as questões sociais. “A igreja faz uma reflexão de como pode celebrar a independência do Brasil se questões históricas não foram resolvidas, como o acesso à terra, a questão da política da reforma agrária, como a questão da educação. A mortalidade infantil também era muito grande no país na época que surgiu o grito, e o Brasil participava como atualmente participa, do mapa da fome, da miséria”.

O coordenador da CPT explica o fundamento religioso que permeia a atividade política. “A igreja compreende que a vontade de Deus é que todos sejam felizes, e que não haja nenhum tipo de exclusão, nem econômica, nem social, nem política. Essa articulação tem favorecido, tem fortalecido os mais empobrecidos, aqueles que estão às margens da sociedade. O grito é uma articulação nacional que tem essa capacidade de reunir, de refletir. Realiza rodas de conversas, sempre no sentido de colocar para a sociedade que existe uma exclusão que é fruto, que é resultado de um modelo econômico excludente e, ao mesmo tempo, colabora com a organização daqueles que estão à margem, daqueles que o sistema excluiu”.

A organização do protesto anual tem o objetivo de colaborar com a organização de movimentos, de comunidades, sempre também no sentido de garantir o protagonismo dessas comunidades. “Por exemplo, no Grito nós vamos ter as comunidades sem-terra, nós vamos ter o povo de rua, então é sempre esse diálogo no sentido de que essas pessoas sejam vistas pelo sistema, mas também no sentido de que essas pessoas se organizem para enfrentar o sistema e possam construir uma sociedade que a gente tem como ideal, que é uma sociedade de fraternidade, de igualdade, de equidade, no sentido de que a riqueza tem que ser distribuída para todos. Não podemos conviver com um país onde alguns ganham milhões, trilhões e uma boa parte do povo, 33 milhões de pessoas, não tem o que comer. Então, especialmente em um combate à fome e à miséria no país, o Grito se ocupa dessa pauta desde o seu início, há 29 anos atrás”.

O ATO

A organização convida para participar do ato público nesta quinta-feira (7). “Nós pretendemos reunir em torno de duas mil pessoas, tem uma boa articulação na cidade de Maceió e também no entorno. E a gente acredita que vai ser um grito bem participativo e bem atual, porque a questão da democracia, a questão da desigualdade social ainda é um tema que precisa ser aprofundado e discutido no Brasil”.

A atividade acontece pela manhã. “Nós vamos concentrar às 9 horas na Praça Sinimbu, vamos ter um momento celebrativo, onde vamos, seguindo a orientação nacional, fazer uma reflexão bíblica e teológica. E depois a gente segue no desfile de 7 de setembro, no sentido de dialogar com a comunidade e da importância de que a gente fortaleça pautas antigas para a sociedade, tipo a pauta por moradia, a pauta por educação, a pauta por direitos, a pauta por cultura, a pauta por reforma agrária”, disse Lima.

O grupo vai ser dividido em alas. “Cada organização que se identifica com aquela ala vai ali junto. O Sinteal [Sindicato dos Trabalhadores da Educação de Alagoas] vai trabalhar educação e direitos, a CPT, os movimentos do campo, o movimento agrário vai trabalhar reforma agrária, terra e reforma agrária e assim por diante”.

Para Carlos Lima, a necessidade de fazer esses questionamentos existe desde a chegada dos portugueses ao Brasil. “O grito sempre tem essa tarefa de tentar mexer nas estruturas, melhorar o Estado no sentido de atender os pobres, os excluídos e as excluídas, frutos do modelo econômico que atua no país praticamente desde 1500 e coloca uma parte da sociedade, uma parte significativa, à margem, enquanto alguns lucram e lucram muito”.