Política

Campanha traz de volta a 'Gangue Sádica'

Escândalo de violência sexual impune há quatro décadas aconteceu em Maceió e tinha como envolvidos figuras de destaque da sociedade alagoana

Por Tribuna Independente 12/11/2020 08h46
Campanha traz de volta a 'Gangue Sádica'
Reprodução - Foto: Assessoria
Um caso nebuloso de crimes contra a mulher, que até hoje permanece impune, e que há 37 anos ficou no imaginário popular, foi trazido de volta ao noticiário local pela campanha eleitoral deste ano, com a divulgação de um vídeo da polêmica comunicadora Maria Aparecida sobre um grupo que ficou conhecido nas páginas policiais da capital como “Gangue Sádica”. O material divulgado chegou a gerar pronunciamento de um dos candidatos à prefeitura de Maceió. Mas o que foi e o que fazia a Gangue Sádica? A resposta está nas páginas antigas dos jornais e na memória de pessoas que viveram a época. A gangue era um grupo de jovens adultos que praticou dezenas de crimes sexuais contra mulheres, casais e homossexuais, que envolveu, inclusive, parentes de pessoas influentes em Maceió. Era nove de junho de 1983, quando os jornais Gazeta de Alagoas e Jornal de Alagoas estampavam em suas manchetes de capa: “Sobrinho de Secretário de Segurança integra gang de estupradores”. O bando era acusado de praticar sequestros e violência sexual contra vítimas escolhidas na orla da capital. A notícia foi anunciada pelo próprio secretário de Segurança Pública da época, Ardel Jucá, em entrevista ao programa Manhãs Brasileiras, do lendário radialista Edécio Lopes. Segundo a Polícia a gangue era formada por 12 pessoas, principalmente, jovens de classe alta, e nos ataques eram utilizadas máscaras para dificultar a identificação, e nas sevícias contra a vítima o grupo usava objetos como garrafas e até cabo do revólver. 26 VÍTIMAS Pelas contas da polícia, segundo os jornais, foram pelo menos 26 vítimas. Depois de ganhar as páginas dos jornais, e das TVs, o caso teve grande repercussão. A Câmara de Vereadores abriu uma Comissão de Inquérito para apurar os fatos. Alguns dias após a divulgação do caso, sem que a Segurança Pública se posicionasse com mais rigor ou iniciasse o inquérito policial, uma grande manifestação, comandada por lideranças femininas, tomou as ruas da capital em protesto contra a impunidade nos crimes contra a mulher e pedindo a prisão dos envolvidos. Na sequência, o que se viu não foram inquéritos ou prisões, mas um vai e vem de desmentidos e negativas dos envolvidos pelas redações dos jornais, e não em depoimentos à polícia. Nas denúncias de 1983, figuravam nomes conhecidos e alguns ainda com destaque na sociedade alagoana ainda hoje. AFRONTA NACIONAL Na última terça-feira (03), o Brasil assistiu estarrecido a inserção do termo jurídico “estupro culposo”, condição que não faz parte do Código Penal, mas que foi usada para defender o empresário André de Camargo Aranha, acusado de estuprar a influenciadora digital Mariana Ferrer. André foi inocentado em setembro, mesmo com provas de que violentou a jovem. O advogado de André, Claudio Gastão, considerou como “estupro culposo”, em que não há intenção de estuprar. Em todo país, mulheres se revoltaram com a sentença, travando uma verdadeira guerra pelas redes sociais contra as agressões sofridas por Ferrer e fazendo o Brasil se perguntar se a impunidade não seria uma das consequências para livrar os agressores, que após a prática do crime, os casos se tornam insolúveis. Uma Proposta de Emenda à Constituição – PEC 75/2019, aprovada pelo Senado em novembro passado, de autoria da senadora Rose de Freitas (Podemos-ES), determina que o feminicídio- ou estupro – poderá ser julgada a qualquer tempo, independentemente da data em que tenha sido cometido. Atualmente, esse tipo de crime prescreve após 20 anos. A PEC está tramitando na Câmara Federal.