Política
Na última década, Alagoas teve pouca renovação no Legislativo
Reportagem levantou, nesses últimos dez anos, as condições de renovação nos quadros políticos na Câmara Municipal de Maceió e ALE
Ao longo desses 10 anos de existência, o jornal Tribuna Independente vem cobrindo rotineiramente fatos políticos de Alagoas de forma isenta e responsável, apresentando para a sociedade como é realizado o trabalho do Executivo e do Legislativo no estado.
Semanalmente, a reportagem está na Câmara Municipal de Maceió (CMM) e na Assembleia Legislativa do Estado (ALE) para acompanhar o trabalho dos parlamentares e nesses 10 anos, o jornal pode vivenciar poucas mudanças no cenário político do estado, principalmente quando se trata de renovação de nomes que vão ocupar as vagas no Legislativo.
Em algumas análises, a baixa renovação em mandatos pode ser classificada como a perpetuação dos sobrenomes no poder: de pai para filho; de filho para neto; de neto para bisneto; e assim sucessivamente. A saga de um clã político parece não ter fim no Parlamento brasileiro.
CONTEXTOS
No contexto da Câmara Municipal de Maceió, houve uma perceptiva renovação, onde apenas três nomes permanecem com mandatos desde que a Tribuna de Alagoas passou a ser a Tribuna Independente. São eles: Eduardo Canuto (PSDB), Fátima Santiago (PP) e Davi Davino (PP).
Outras figuras alçaram voos mais altos, assumindo cadeiras na Assembleia Legislativa, mas que investiram na candidatura de familiares para que permanecessem mantendo o nome da família no Legislativo Municipal, como é o caso de Galba Novaes (PMDB), que hoje é deputado estadual, mas que tem seu filho Galba Neto como vereador na capital.
Chico Holanda (PP) também fez o mesmo caminho que Galba Novaes, assumindo recentemente uma vaga na ALE, após cassação do mandato do Pastor João Luiz (PSC), que também já foi vereador em Maceió. Mas, na Câmara, a política familiar permanece, pois Chico Filho (PP) adotou a vaga do pai e está em seu segundo mandato.
O deputado estadual Dudu Hollanda (PSD) chegou a exercer dois mandatos ao lado do primo Chico Holanda na Câmara, antes de assumir uma cadeira na Casa de Tavares Bastos.
O ex-vereador Carlos Ronalsa deixou a Câmara de Maceió, mas em seu lugar colocou o filho Dudu Ronalsa (PSDB). Mesmo caso de Zé Márcio, que ao deixar o Legislativo municipal, elegeu seu filho de mesmo nome em seu lugar.
Outros nomes que passaram pela Câmara de Maceió, a usando como trampolim para chegar à Assembleia Legislativa foram Judson Cabral –atualmente está sem mandato, mas preside o Serveal, órgão do Governo - (PT) e Marcelo Victor (PSD), atual 1º secretário da Mesa Diretora.
Sobre o assunto, a reportagem da Tribuna Independente repercutiu com os vereadores Eduardo Canuto e Fátima Santiago, únicos vereadores, além de Davi Davino que permanecem com mandatos desde o início do jornal e que falaram sobre o cenário político atual e o que não avançou nesses 10 anos.
“Eu percebi que a política alagoana tem um ciclo em torno de 40 anos. O último grupo político foi aquele do Guilherme Palmeira e do Divaldo Suruagy, que depois veio esses deputados com alguns números mais expressivos de mandatos. Mas o que eu percebo é que a juventude está tomando mais pé da situação. A juventude está mais próxima. As redes sociais aproximaram isso. Os dois líderes apesar de fazerem oposição um ao outro são dois caras muitos jovens, que são Renan e Rui. Acho que polariza nesses dois”.
Para Canuto, os mecanismos de fiscalização e de controle tem sido mais incisivos. “Essa geração mais nova já vem com essa visão diferenciada. Você tira pelo nosso judiciário. Os promotores de hoje são mais atuantes. Muito menos patrimonioso, muito menos participativo no aspecto da atividade política. Você vê que os promotores quase não têm vínculos com políticos. A tendência é de a juventude assumir o país”.
Pouca mudança pode ser cultural
A Assembleia Legislativa do Estado (ALE) é mais um poder constituído com algumas poucas mudanças quando o trato é a renovação nos mandatos.
Há seis mandatos consecutivos na ALE, o deputado Antonio Albuquerque (PTB) fez uma análise das modificações que ocorreram nos poderes constituídos nesses últimos 10 anos.
“É fato que nos últimos 10 anos sofreram várias modificações, não apenas por mudanças na legislação, que são naturais com aprovação de novas leis, que permitiram ampliaram ou reduziram as prerrogativas desses três poderes e dos dois órgãos de controle externo que são os Tribunais de Contas e os Ministérios Públicos. É evidente que em função dessas modificações, podemos observar várias mudanças para melhor e algumas que eu pessoalmente na análise que faço a luz do que eu vejo acontecer no Brasil e no mundo também teve alguns prejuízos”.
O parlamentar citou o caso do estatuto do desarmamento, o qual ele é contra. “Muitas vezes nós imaginamos que, por exemplo, se nós há 10 anos, veja, como fora ovacionado quase que pela totalidade da população o estatuto do desarmamento. E agora se fizermos uma pesquisa de opinião publica no Brasil nós vamos ver que 90% da população desaprova, porque? Porque a população sabe que o desarmamento cantado em verso e prosa àquela época como alguma coisa em favor da população produziu um grande mal, aumentou a violência, aumentou a criminalidade, desarmou o cidadão e potencializou a capacidade do meliante”.
ANÁLISE
A cientista política Luciana Santana analisou que não houve muitas mudanças no Legislativo de Alagoas, mas que isso não é um comportamento típico de do estado.
“Muitas outras Assembleias e Câmaras municipais têm esse tipo de comportamento. Os políticos visam a manutenção no poder e aí pouco importa qual é o cargo. Então existe o caso do trampolim, onde políticos saem do cargo menores para outros de esferas maiores ou tentam o Executivo que no ponto de vista de recursos é mais atrativo. Isso depende muito da ambição. Também há a situação de quando um parente assume o espaço deixado anteriormente”, afirma.
Para ela, a última década é de permanência familiar em espaços eletivos, essa característica tem mais força no interior.
“Nesses últimos 10 anos, o que eu observei foi que não mudou muito. Tem essa permanência de nomes, de famílias nesses postos legislativos e que tem muito a ver com as próprias características da cultura política”.
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