Política
Prefeito de Pilar reclama de exagero do MPE em caso de número de desabrigados
Renato Filho diz que generalização prejudicou cidades e até mesmo despertou desconfiança em quem doou donativos
Pilar foi uma das cidades mais afetadas pelas fortes chuvas que atingiram Alagoas nas últimas semanas. Mais de quatro mil pessoas tiveram suas casas comprometidas e agora procuram reconstruir suas vidas. Para o prefeito Renato Filho (PSDB), o Ministério Público generalizou ao informar que o número de desabrigados e desalojados no estado tinha sido superfaturado. Em entrevista à Tribuna Independente, ele analisa como resolver os problemas decorrentes das enchentes e a atuação dos governos estadual e federal.
Tribuna Independente – Como reconstruir uma cidade ou parte dela após esse período de chuvas e inundações?
Renato Filho – Não é fácil porque a gente não está só reconstruindo obra física. Estamos reconstruindo o sonho de muita gente que perdeu praticamente tudo. Foram milhares de pessoas afetadas pela enchente. Nós estamos hoje voltando a normalidade, mas calculando o tamanho do prejuízo e tem sido muito difícil, porque os problemas são diversos pela cidade.
Tribuna Independente – Em sua análise, enquanto prefeito está havendo demora por parte do Governo Federal, na chegada de recursos para ajudar os municípios nesta reconstrução?
Renato Filho – Nós já tivemos um grande apoio do Estado, fora as doações que chegaram e não foram poucas, de toda a parte do Brasil e até do exterior. A parte emergencial isso não faltou, mesmo o governo federal não tendo chegado. O papel do governo federal agora é chegar junto na reconstrução não só das partes públicas, mas também das partes privadas que foram afetadas pela cheia. Nós agora queremos a celeridade do governo federal nesta reconstrução. É importante que os recursos cheguem agora nas obras emergenciais e residuais, que são aquelas que ainda podem acontecer de uma chuva que venha por consequência da que já veio.
Tribuna Independente – Escolas foram atingidas? Pilar receberá alguma quantia desses R$ 18 milhões destinados à recuperação de escolas estaduais e municipais que tiveram a situação de emergência decretada por causa dos danos provocados pelas chuvas?
Renato Filho – Nós tivemos quatro escolas afetadas. Ainda não sabemos, porque a verba veio, mas nós vamos ter que nos habilitar. O FNDE esteve no município logo depois da enchente para analisar os danos nas escolas. Após isso nós vamos agora apresentar o nosso projeto dos danos. Nós tivemos danos elétricos, hidráulicos, de pintura e nos tetos.
Tribuna Independente – Enquanto prefeito de primeiro mandato, após quase seis meses de gestão, com essa situação no município, a sua administração recomeça do zero?
Renato Filho – Acho que a gente passou por uma fase que não esperávamos, mas é um novo olhar pela cidade, pelas pessoas. Era algo que ninguém estava esperando acontecer. Nós vamos precisar dar uma atenção maior a essas famílias. Atingidos pela enchente foram em torno de quatro mil pessoas, desabrigados cerca de 300 e desalojados hoje nós não temos, pois todos já retornaram para suas casas. Eles até para sair de casa, a família com dois metros de água em cima dela não queria sair de sua residência, com medo de que alguém roubasse o que eles tinham. Mas, aí começa a aparecer os problemas, casas caindo, com rachaduras. Daí, eu coloco no relatório oficial dizendo que tenho um determinado número de casas afetadas. Aí, no outro dia aparece uma pessoa dizendo que sua casa está com paredes rachadas.
Tribuna Independente – Como solucionar esses problemas?
Renato Filho – Uma boa pergunta. Acho que o Ministério Público está participando disso e é bom que participe porque quem estiver usando de má-fé nesse momento tem que ser penalizado. Nós tínhamos um prazo até para poder tentar algo sobre a situação do município e eu apresentei meu cadastro com água passando dos dois metros de altura. Como é que eu poderia ter uma análise real dessa situação? Não tinha como. Hoje já é uma nova realidade, pois estamos com uma equipe de engenheiro indo de casa em casa e dando um laudo real da situação das moradias, das áreas de risco, dos prédios públicos.
Tribuna Independente – Qual a avaliação que o prefeito faz em relação a polêmica do número de desabrigados contestados pelo Ministério Público, houve generalização? E o caso de Colônia Leopoldina?
Renato Filho – Eu acho que estão generalizando a situação que foi pontual. Ao mesmo tempo todos os prefeitos estão sendo punidos dessa forma por terem agido com eficiência. Eu procurei agir com eficiência, ser rápido na resposta para sociedade e não deixar a situação de desastre por mais tempo para querer que as pessoas ficassem com sentimento de pena do município só para ajudar. O caso de Colônia que foi amplamente divulgado, o prefeito já deu várias declarações de que foi um erro de preenchimento. Acho também que não tem que estar penalizando essa situação porque ele já demonstrou que foi um erro. Particularmente, lá em Pilar nós colocamos quatro mil que foi o número de casas, multiplicado por um número possível de pessoas que tiveram suas residências atingidas e tiveram que sair, mas quando a água baixou todo mundo voltou para casa. Estamos com problemas também com pessoas que estavam em abrigos e escolas. Imagine uma escola ter 200 pessoas, cada um com sua personalidade. E outra situação, maioria dessas pessoas estavam com alimentação nos três horários, colchões novos e a noite música ao vivo da igreja para poderem esquecer a tragédia, quem queria sair disso? Ninguém queria. Nós fomos punidos porque agimos com rapidez e com eficiência. Todo mundo se ajudou para que as coisas fossem normalizadas e que a gente não pudesse viver numa cidade de caos. Não podemos generalizar, repito. Eu quando vi a matéria no Jornal Nacional dizendo que municípios teriam superfaturados número de desabrigados fiquei muito chateado e até liguei para o presidente da AMA dizendo que precisávamos nos posicionar. Ficou feio até pra mim ficar pedindo doação de fora e aparecer isso no Jornal Nacional como apareceu. A forma como foi exposta aquela situação deveria ter sido com mais cautela, não em respeito só as leis, as pessoas, mas em respeito a todo mundo que foi solidário.
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