Política

Deputados federais de AL contrários a reforma são alvos de Temer

Parlamentares terão nomes exonerados após indicação para cargos federais

Por Tribuna Independente 03/05/2017 09h26
Deputados federais de AL contrários a reforma são alvos de Temer
Reprodução - Foto: Assessoria

Após a aprovação da reforma trabalhista na Câmara dos Deputados, no último dia 26, Michel Temer (PMDB) anunciou que vai exonerar os ocupantes de cargos indicados por “traidores”. Cerca de 80 parlamentares de sua base de apoio votaram contra o projeto. O texto agora tramita no Senado.

Dos nove deputados federais alagoanos, três – Arthur Lira (PP), Pedro Vilela (PSDB) e Nivaldo Albuquerque (PRP) – votaram a favor da reforma trabalhista. Dos demais, dois têm indicados ligados a si em cargos federais no estado: Ronaldo Lessa (PDT) e Cícero Almeida (PMDB).

O nome ligado a Ronaldo Lessa é Israel Lessa, à frente da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em Alagoas, mas sua permanência no cargo não é por indicação do parlamentar.

“Assim que o Temer assumiu a presidência eu entreguei todos os cargos federais que o PDT ocupava aqui em Alagoas, mas numa reunião da bancada alagoana os demais parlamentares decidiram por mantê-lo. Portanto, ele é uma indicação da bancada. E mesmo que a indicação fosse minha eu manteria posição contrária às reformas”, afirma Ronaldo Lessa.

A reportagem tentou contatar Cícero Almeida, que possui duas indicações, uma delas recém-exonerada, mas ele não atendeu aos telefonemas. Rosinha da Adefal também estaria na lista dos infiéis a Temer, mas não foi encontrada para falar sobre o assunto.

O governo de Michel Temer quer que todo o trâmite da reforma previdenciária termine na Câmara dos Deputados até 20 de maio.

Carimbão diz não ter mais indicações

Responsável por diversas indicações em cargos federais no estado desde 2003, o deputado federal Givaldo Carimbão (PHS) garante que não possuir mais nenhum nome ligado a si nesses espaços. Contudo, ele concorda com a cobrança de fidelidade de Michel Temer à sua base de apoio na Câmara dos Deputados em relação à reforma previdenciária.

“O governo está mais do que certo. Quem é governo tem que ter ônus e bônus. Ou não quer ter ônus? Quem pariu Mateus que embale”, diz.

Sobre suas indicações, ele diz que estregou os cargos assim que Michel Temer assumiu a presidência da República.

“Não tenho nenhuma indicação. Entreguei todas. Não deixei nem que ele [Temer] tirasse, quem entregou fui eu. Tomei essa decisão no dia do impeachment da Dilma Rousseff [PT]. Porque votei contra. Eu tinha a indicação da Codevasf [Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba] em Alagoas e da Sudene [Superintendência do desenvolvimento do Nordeste], com o ex-vereador Zé Márcio”, diz.

O deputado revelou que dois ministros “grandes” de Temer tinham ligado para ele na tentativa de mudar seu posicionamento contrário à reforma previdenciária, momentos antes da atender à reportagem.

“Ligaram me oferecendo o Céu e a Terra e eu disse que não. Eu disse que minha única condição é um cargo: que o Temer renuncie e me entregue a Presidência, que aí eu tiro a mensagem de lá [Câmara]. Prefiro ser fraco do poder, mas forte com minha convicção”, diz Givaldo Carimbão.

Pressão não condiciona reversão de votos

Para o cientista político Ranulfo Paranhos, a perda de espaços em cargos federais diminui a força política dos parlamentares, mas não é possível afirmar se a pressão de Michel Temer terá resultado.

“Perde força porque quem ocupa o cargo é um indicado da base política do deputado e sem o espaço vai se cobrar outra coisa. É difícil afirmar se essa ameaça dará resultado porque muitos analisam que votar a favor da reforma tira voto e eleição está próxima. Talvez se houvesse mais tempo, seja para ver seus impactos na economia, seja por causa da memória do eleitor, houvesse mais facilidade”, avalia.

(Foto: Sandro Lima)

Ranulfo Paranhos acredita que se a reforma previdenciária passar, há desgaste na eleição de 2018

Já para Ronaldo Lessa, mesmo com a ameaça de retirar as indicações, Temer precisa recuar no teor da proposta para aprova-la, “mesmo com o fisiologismo”. “Os caras [deputados] têm de ter algum compromisso com o povo, não é possível. Até tem uma turma que se elege sem precisar de nada, o pessoal do cadastro ou financiado pelo agronegócio. Mas esse tema está dividindo muito. A trabalhista já foi apertada, que se fosse a previdenciária não passava”, diz.

Para ele, Temer nem deveria ter posto o tema para votação no Congresso. “Ele devia ter muito tempo de estudo porque é muito séria, é a vida da gente. E ainda os números apresentados estão incorretos. Só da DRU [Desvinculação das Receitas da União] sai 30% da Previdência. Como é que ela dá prejuízo? Ninguém tira dinheiro de onde não tem”, comenta Ronaldo Lessa.