Política

Lista sigilosa de Fachin cita Lula, Palocci e Cunha, diz jornal

Documentos mostram como o departamento de propina da Odebrecht se estendeu a vários países. Há relatos de pagamentos indevidos no Peru, México, Equador, Venezuela, Cuba e Angola.

Por G1 19/04/2017 09h48
Lista sigilosa de Fachin cita Lula, Palocci e Cunha, diz jornal
Reprodução - Foto: Assessoria

A parcela dos documentos relacionados à delação dos executivos da Odebrecht que ainda está sob sigilo contém citações ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao ex-ministro Antonio Palocci e ao ex-presidente da Câmara, deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), informou o jornal 'O Estado de S. Paulo', que teve acesso a decisões do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Feeral (STF).

Esses casos ainda estão sob sigilo para preservar as investigações. Em alguns, o ministro pediu mais informações ao Ministério Público Federal. Em outros, o pedido de investigação feito pelo MPF foi enviado para outras instâncias do Judiciário. Ainda não está decidido se as investigações desses casos serão abertas ou não.

Campanhas eleitorais no exterior

As revelações dos delatores mostram como o departamento de propina da Odebrecht se estendeu a vários países. A empreiteira teria feito pagamentos mais de R$ 200 milhões, ilegalmente, em obras no exterior. Os delatores mencionaram pagamento de R$ 114,5 milhões em propina na obra do metrô de Caracas, na Venezuela. No Equador, a construção da hidrelétrica Toachi-Pilatón teve, segundo os delatores, propina de R$ 3,1 milhões.

Segundo o jornal, há relatos de pagamento de vantagens indevidas em nove campanhas eleitorais, em um total de R$ 17,43 milhões.

Nas delações, os executivos da Odebrecht falaram sobre doações de campanha no exterior negociadas pelo ex-ministro Antonio Palocci (PT).

Ele teria pedido R$ 9,3 milhões para o candidato à Presidência do Peru, Ollanta Humala, e R$ 5,3 milhões para o marqueteiro João Santana, pela campanha de Mauricio Funes à presidência de El Salvador.

Os delatores relatam ainda o pagamento indevido de R$ 15,5 milhões para Emilio Lozoya, ex-presidente da Pemex, a estatal de petróleo do México, e de R$ 62 milhões para um ministro angolano não identificado.

No caso de Angola, outra petição diz respeito à suposta atuação de Lula para favorecer a empresa do sobrinho dele Taiguara Rodrigues dos Santos.

Segundo delatores, a empresa Exergia teria sido contratada pela Odebrecht, apesar de não ter experiência no ramo.

O contrato previa a prestação de serviços entre 2011 e 2014, quando Lula já havia deixado a Presidência.

As informações e documentos referentes a essa delação serão encaminhados à Justiça Federal do Paraná, a pedido da Procuradoria Geral da República, porque fatos semelhantes já eram apurados anteriormente.

Delatores também contam que Lula e o hoje governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), atuaram para viabilizar as obras da Odebrecht no Porto de Mariel, em Cuba.

O ex-presidente Lula nega as acusações. A assessoria do petista diz que ele vem sendo acusado sem provas. O G1 não conseguiu contato com o advogado de Antonio Palocci.

PMDB

Campanhas eleitorais feitas no Brasil também estão relacionadas nas delações ainda sob sigilo.

Seis delatores fizeram referência à obra da usina hidrelétrica de Belo Monte. Esses documentos serão incluídos em inquéritos já existentes no Supremo Tribunal Federal envolvendo integrantes da cúpula do PMDB.

Delatores apontaram pagamento de R$ 2 milhões para o ex-ministro Henrique Eduardo Alves (PMDB) na campanha para o governo do Rio Grande do Norte em 2014.

Segundo os delatores, o próprio ex-candidato e o ex-deputado Eduardo Cunha teriam pedido o dinheiro à empreiteira.

A defesa de Eduardo Cunha afirma que os delatores apontam atos ilícitos sem qualquer prova do ocorrido, "em uma busca inexplicável" de envolvê-lo nos crimes da Lava Jato.