Política
De defensores do impeachment a investigados na Lava Jato
Políticos assíduos às manifestações “verde e amarelo” constam em lista com graves acusações de ilegalidades
A abertura de inquéritos determinada pelo relator da Operação Lava Jata na Corte, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, contra oito ministros do governo do presidente Michel Temer, além de 24 senadores, 39 deputados federais e três governadores chamou a atenção por trazer nomes de políticos que saíram as ruas para pedir o impeachment da então presidente da República, Dilma Rousseff (PT) e contra a corrupção.
O problema é que maioria deles acabou não se atentando a um provérbio bastante conhecido que diz que quem tem telhado de vidro, não atira pedra ao do vizinho. O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) foi um dos que durante as manifestações a favor do impeachment utilizou-se do discurso anticorrupção e da força da Lava Jato, mas que agora tem vários políticos entre os investigados por corrupção, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.
Apenas na lista de inquéritos remetidos ao STF, estão dois ministros tucanos do governo Temer, seis senadores e quatro deputados. Entre eles nomes conhecidos como Aécio Neves, senador em Minas Gerais e o governador Geraldo Alckmin, de São Paulo. Outras figuras que também eram vistos nas manifestações anticorrupção e que também estão sendo investigadas são os ex-governadores Antonio Anastasia, de Minas Gerais e José Serra, de São Paulo, hoje ambos são senadores. Por ter foro privilegiado eles serão julgados pelo STF.
Um dos exemplos, o senador Aécio Neves, que saiu derrotado na eleição de 2014 foi um dos líderes das manifestações a favor do impeachment.
Ele é alvo de pedidos de investigação relacionados à campanha presidencial de 2014, às eleições ao governo de Minas em 2010, às obras da Cidade Administrativa de Minas e aos empreendimentos do Rio Madeira e das usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau. Marcelo Odebrecht afirmou em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral, que o tucano pediu 15 milhões de reais à empreiteira durante a campanha em que se candidatou a presidente. Outra investigação apura o envolvimento de Aécio em um suposto esquema de fraude em licitações na construção da Cidade Administrativa de Minas Gerais, sede oficial do governo estadual.
Anastasia relatou impeachment e está na lista
O senador Antônio Anastasia ocupou um cargo de destaque durante o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O tucano foi relator e durante os trabalhos no Senado sempre deixou clara as suas posições contra a corrupção denunciada contra o Partido dos Trabalhadores (PT).
Agora, Anastasia também se vê na lista de políticos envolvidos na operação Lava Jato. O senador tucano foi citado nas delações pelo recebimento de R$ 7,3 milhões, em 2009 e 2010, a pretexto de doação eleitoral para campanha ao governo de Minas Gerais.
MAIS ENVOLVIDOS
Outros políticos que serão investigados pelo STF ou pelo STJ após serem citados em delações de executivos da Odebrecht que também têm em comum um passado recente de militância anticorrupção e a moralidade na política são o senador Romero Jucá, do PMDB de Roraima.
Ele é alvo de cinco inquéritos, um deles sobre recebimento de R$ 10 milhões para favorecer a Odebrecht na construção da usina de Santo Antônio; o agora Ministro das Cidades, mas que foi voto decisivo na votação da abertura de processo de impeachment contra Dilma Rousseff, na Câmara, com ele, atingiu-se o mínimo de 342 assinaturas para abertura do processo, Bruno Araújo (PSDB/PE) é acusado por delatores de receber doação de R$ 600 mil não declarados em 2010 e 2012. Blairo Maggi (PP-MT) / Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento teria recebido R$ 12 milhões na campanha para o governo de Mato Grosso no ano de 2006. Ele, também foi às ruas em 2016.
Além também do senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) que teve participação assídua na defesa do impeachment de Dilma. Ele é acusado de ter recebido R$ 800 mil na campanha ao governo da Paraíba em 2014. Como também José Carlos Aleluia (DEM-BA), deputado federal que teria recebido R$ 300 mil em caixa dois em 2010 e R$ 280 mil em doação oficial, com contrapartidas, em 2014, Aleluia foi às ruas de Salvador, em 2015, contra a corrupção. Outro deputado federal mencionado por delatores é Jutahy Júnior - (PSDB-BA). Segundo a delação ele recebeu R$ 850 mil não contabilizados nas campanhas de 2010 e 2014. Ele esteve no protesto de março de 2016 pela deposição de Dilma – evento organizado para a “luta contra a corrupção”.
A Lava Jato deverá gerar o maior julgamento por corrupção da história do Supremo. Em 2014, pesquisadores da FGV do Rio de Janeiro analisaram a duração de processos no STF entre 1988 e 2013.
Segundo o estudo, ações que envolviam direito penal – caso de grande parte das denúncias apuradas na Lava Jato - levaram em média 5,5 anos para serem julgadas. Se seguirem essa média, os julgamentos dos políticos na “nova lista de Janot” que se tornarem réus chegaria a uma conclusão no final de 2022. Um marco na história do STF, o julgamento do mensalão foi concluído quase nove anos após a abertura dos inquéritos.
Odebrecht destinava propinas
Outros tucanos que também sempre estiveram presentes nas passeatas contra a corrupção constam numa extensa lista de investigados no Supremo Tribunal Federal.
É o caso do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. O que complica a situação dele são os depoimentos de três executivos da construtora, Benedicto Barbosa da Silva Júnior, Carlos Armando Guedes Paschoal e Arnaldo Cumplido de Souza e Silva que relataram que Alckmin recebeu mais de R$ 10 milhões de reais do Grupo Odebrecht em caixa dois para as suas campanhas ao governo paulista. Foram 2 milhões em 2010 e 8,3 milhões em 2014, repasses não registrados pelo candidato na Justiça Eleitoral.
Outro crítico da corrupção no país, o senador José Serra, figura em um dos processos ao lado do chanceler Aloysio Nunes. O inquérito versa sobre o suposto envolvimento de Serra em fraude do processo licitatório associado à construção do Rodoanel Sul, em São Paulo. Sucessor de Serra no cargo de ministro das Relações Exteriores, o senador Aloysio Nunes aparece nas delações dos executivos da Odebrecht por ter solicitado vantagens indevidas, a pretexto de doação eleitoral, quando era chefe da Casa Civil do governo de São Paulo.
R$ 1 MILHÃO
Ao vociferar que sempre defendeu trabalhadores e lutou contra a corrupção no governo Dilma Rousseff, Paulinho da Força (SD-SP) também está na lista de investigados. Ele é suspeito de corrupção passiva, ativa e lavagem de dinheiro, segundo dois inquéritos autorizados pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).
Ele teria recebido R$ 1 milhão em pagamentos indevidos da Odebrecht para a sua campanha eleitoral à Câmara dos Deputados em 2014 e também teria recebido R$ 200 mil para outra campanha eleitoral, de 2010.
Paulinho da Força, assim como os demais citados, aguardam as investigações e garantem que não têm envolvimento com corrupção.
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