Política
Mesmo com redução de recursos, Valéria Correia cita avanços na Universidade
Em seu primeiro ano à frente da Ufal, reitora conta os principais problemas encontrado na instituição nesse período
Professora do curso de Serviço Social, Valéria Correia tomou posse como reitora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) em 22 de janeiro de 2016. Completado um ano à frente da maior instituição de ensino de Alagoas, ela revelou os principais problemas encontrados pela instituição e como pretende imprimir sua marca na Reitoria.
Em visita à Redação da Tribuna Independente, Valéria Correia cita a diminuição de recursos para administrar a Ufal e as medidas que vem adotando para superar esse tipo de dificuldade.
“Estamos fazendo um ano de gestão e, logo de início, enfrentamos grandes desafios, como o contingenciamento de recursos. Depois houve descontingenciamento de recursos para o custeio, o que foi positivo. Porém, seguimos com capital em 50%. Por isso, tivemos que adotar algumas medidas, criteriosas e pensadas, para conter gastos. Criamos um Grupo de Trabalho para revisar alguns contratos e outro sobre energia, porque queremos a Ufal com suficiência energética. Encontramos a Universidade com muitos problemas em infraestrutura, inclusive nos prédios novos, mas os estamos resolvendo”, diz.
Sobre a sustentabilidade energética na Ufal, a reitora completa que esse projeto ainda está no início e que também pretende implantar um biodigestor no Restaurante Universitário (RU).
“Vamos, ao menos, iniciar esse processo no Campus A.C. Simões, mas não sei se conseguiremos implantar nos demais campi. Vamos participar de um edital da Aneel para implantar energia solar em alguns prédios e também um biodigestor no RU”, explica.
PESQUISA
Problemas estruturais na Ufal já vêm de longa data, mas nem só de tijolos a instituição sobrevive. O tripé: pesquisa, ensino e extensão é uma importante característica da Universidade. Mesmo diante do corte de recursos, a reitora tem conseguido modelar a política de atuação da Universidade em relação à sociedade.
“Tivemos corte de bolsas na pós-graduação, o que nos gerou dificuldades, mas tivemos algumas novidades na extensão. Abrimos um edital novo sobre atividades extensionistas em círculos comuni-tários, com o objetivo de priorizar projetos que dialoguem com a sociedade, principalmente no entorno dos campi, na capital e interior”.
Mais proximidade com os movimentos sociais
A segunda edição do Fórum Social Alagoano – a primeira foi realizada em 2004 – terá quatro temas centrais: saúde; educação; soberania alimentar e agricultura familiar; e cultura e arte.
“Queremos escutá-los [movimentos sociais] para formular políticas de extensão e de pesquisa nessas áreas”, comenta Valéria Correia, que reafirma – como fizera em sua campanha para a Reitoria – a abertura da Universidade aos movimentos organizados, especialmente os do campo.
“Quando os movimentos agrários estiveram em Maceió no ano passado, durante o abril vermelho, que relembra um massacre de trabalhadores rurais, eles sempre passavam pela Universidade, mas só passavam. Em 2016, eles foram acolhidos pela instituição e organizamos um debate com eles”, relata.
A reitora também ressaltou a postura de diálogo que manteve com o movimento estudantil durante a ocupação da Reitoria, no último mês de outubro, e com técnicos administrativos e professores em suas greves, também no final de 2016.
“Nossa relação é dialogo e respeito à autonomia dos movi-mentos. Com os servidores, tivemos negociações muito equilibradas. Essa é nossa postura, respeito e diálogo”, diz Valéria.
CONJUNTURA
O primeiro ano da professora Valéria Correia à frente da Ufal coincidiu com um dos períodos mais conturbados da História brasileira. Em 2016, a então presidenta Dilma Rousseff (PT) foi afasta do cargo e a crise política – e econômica – que se arrastava no país desde 2015 segue em voga.
“A situação política do Brasil afetou a Ufal, do ponto de vista financeiro e do ponto de vista politico. Neste último, a Universidade se posicionou, através do Conselho Univer-sitário, contra a Proposta de Emenda Constitucional [PEC] 241, hoje 55. Fizemos um estudo que mostrou que se a medida fosse aplicada em 2006, em 2016 teríamos apenas 50% dos recursos que temos hoje. A Ufal não estaria funcionando”, crava.
Segundo ela, a intenção da PEC 55, na educação, é acabar com a gratuidade no ensino superior público.
“O debate por trás disso é quebrar a gratuidade da Universidade. Já há outros projetos no Congresso para derrubar a gratuidade na pós-graduação. Isso é precedente. Primeiro se cobra na pós e depois na graduação. E não é a elite que está na universidade pública, que em tese, pode pagar para estudar”, afirma Valéria.
DISCURSOS DE ÓDIO
Além da instabilidade política e enfraquecimento da economia, o atual momento do Brasil também tem como reflexo a proliferação de discursos de ódio e intolerância. Para Valéria Correia, isso é algo que preocupa.
“Tenho me preocupado que isso se manifeste na Ufal. A Universidade é um espaço plural, onde todas as ideias devem ser respeitadas de forma democrática. Porém, não posso permitir homofobia, racismo e intolerância religiosa e política, até porque não se pode permitir acirramento de preconceitos. Isso é algo que não se permite na sociedade e na Universidade é que não pode ocorrer”, afirma.
Mesmo assim, a reitora garante que o único caso concreto de intolerância que a Ufal presenciou em seu primeiro ano de gestão foi o caso dos jovens – um deles usando vestimen-tas do Exército Brasileiro – que foram ao Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Ar-tes (ICHCA).
“Tomamos uma medida enérgica para apurar. Aquilo foi uma declaração de ódio aos estudantes de esquerda que, segundo quem praticou aquele ato, se concentram no ICHCA. Fizemos nota de repúdio e cobramos a devida apuração do caso junto à Polícia Federal e ao Exército”, diz Valéria.
Valéria Correia ressalta que foi preciso tomar medidas criteriosas para conter os gastos na Ufal (Foto: Sandro Lima)
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