Polícia

PF investiga desvio de verbas da saúde e lavagem de dinheiro em Alagoas

Operação Estágio IV cumpre mandados em três estados e apura irregularidades em contratos emergenciais da Sesau que somam quase R$ 100 milhões

Por Redação com Asessoria 16/12/2025 08h32 - Atualizado em 16/12/2025 10h50
PF investiga desvio de verbas da saúde e lavagem de dinheiro em Alagoas
A Polícia Federal deflagrou, nesta terça-feira, a Operação Estágio IV, voltada à apuração de desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro envolvendo contratos da área da saúde em Alagoas. A ação - Foto: Ascom PF

A Polícia Federal deflagrou, nesta terça-feira (16), a Operação Estágio IV, voltada à apuração de desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro envolvendo contratos da área da saúde em Alagoas. A ação resultou no cumprimento de 38 mandados de busca e apreensão, além da aplicação de medidas cautelares alternativas, entre elas a suspensão do exercício de função pública por 180 dias, todas determinadas pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região. 


Também foi autorizado o sequestro de bens pertencentes aos investigados, incluindo veículos e imóveis de alto valor. A investigação contou com o apoio da Controladoria-Geral da União (CGU), da Receita Federal e do Departamento Nacional de Auditoria do Sistema Único de Saúde (Denasus).

As diligências ocorreram em Alagoas, Pernambuco e no Distrito Federal, com a mobilização de 170 policiais federais e 26 auditores.

De acordo com as apurações, foram identificados indícios de favorecimento em contratos emergenciais firmados pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), entre 2023 e 2025, com duas empresas, sendo uma fornecedora de material hospitalar e outra do setor de construção. As contratações teriam resultado no pagamento de vantagens indevidas a integrantes do esquema.

Os contratos diretos celebrados pela Sesau somam quase R$ 100 milhões, com parte significativa dos recursos ainda em fase de execução.

A investigação também apura o desvio de verbas do Sistema Único de Saúde (SUS) por meio de ressarcimentos superdimensionados de consultas e procedimentos médicos que, segundo a Polícia Federal, não teriam sido realizados. Esses repasses ultrapassam R$ 18 milhões e ocorreram entre setembro de 2023 e agosto de 2025. Apenas em procedimentos de fisioterapia, foram identificados pagamentos incompatíveis com a capacidade operacional da clínica privada envolvida.

Parte dos valores desviados teria sido distribuída a integrantes do grupo por meio de transferências bancárias, saques em espécie e pagamentos indiretos, caracterizando, conforme a investigação, um esquema estruturado de corrupção, lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio.

Ainda segundo o inquérito, pessoas interpostas foram utilizadas para ocultar a origem ilícita dos recursos, especialmente na aquisição de imóveis. O dinheiro público destinado ao sistema de saúde alagoano teria sido direcionado a contas bancárias de investigados e de pessoas a eles vinculadas.

Entre os bens identificados está uma pousada em Porto de Pedras, adquirida em 2023 pelo valor de R$ 5,7 milhões, registrada em nome de terceiros. O pagamento, conforme apurado, teria sido feito por empresários beneficiados pelo esquema. Os recursos também teriam sido usados para viagens internacionais e despesas pessoais.

Durante o cumprimento dos mandados, os policiais apreenderam quantias expressivas em dinheiro, em moeda nacional e estrangeira, além de duas armas de fogo.

O nome da operação faz referência ao estágio mais avançado de alguns tipos de câncer, em alusão ao impacto considerado grave das práticas investigadas sobre o sistema público de saúde em Alagoas.

Secretário de Saúde é afastado

O Governo de Alagoas informou que foi oficialmente comunicado sobre a operação realizada pela Polícia Federal no âmbito da Secretaria de Estado da Saúde e que após tomar conhecimento dos fatos, o governador Paulo Dantas determinou o afastamento do secretário de Estado da Saúde pelo período de 180 dias, conforme medida adotada no curso das investigações.

A decisão tem como objetivo assegurar o andamento da apuração sem interferências.

O governador também autorizou a criação de uma comissão especial formada pelo secretário-chefe do Gabinete Civil, pela Controladoria-Geral do Estado e pela Procuradoria-Geral do Estado.

O grupo ficará responsável por acompanhar os trabalhos investigativos, colaborar com os órgãos competentes e fornecer as informações solicitadas, observando os princípios do devido processo legal, do contraditório e da presunção de inocência.

Em nota, o Governo do Estado afirmou que colabora com a Polícia Federal, o Ministério Público e demais órgãos de controle e fiscalização, e que não admite irregularidades, especialmente quando envolvem recursos públicos destinados à saúde.

O Executivo estadual esclareceu ainda que as atividades da Secretaria de Estado da Saúde seguem em funcionamento regular, sem prejuízo aos atendimentos prestados à população em unidades e programas do sistema público de saúde.