Polícia

Polícia Civil indicia dono de clínica de reabilitação em Marechal

Maurício Anchieta é proprietário do estabelecimento onde morreu Cláudia Pollyanne

Por Valdete Calheiros - repórter / Tribuna Independente 02/12/2025 08h40
Polícia Civil indicia dono de clínica de reabilitação em Marechal
Delegada Ana Luiza Nogueira esteve à frente das investigações - Foto: Assessoria

A Polícia Civil de Alagoas indiciou, por homicídio doloso, o proprietário da clínica de reabilitação para dependentes químicos, Luz e Vida, onde ocorreu a morte da esteticista Cláudia Pollyanne Farias de Sant’Anna, de 41 anos. O crime aconteceu em agosto deste ano, no município de Marechal Deodoro, no litoral sul de Alagoas. A investigação revelou abusos em série e uso de coerção na instituição.

O proprietário da clínica é Maurício Anchieta de Souza. O inquérito policial referente à morte da esteticista Cláudia Pollyanne foi concluído no último dia 20 de novembro. A investigação da Polícia Civil foi conduzida pela delegada Ana Luiza Nogueira, coordenadora das DEAMs (Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher).

Durante as investigações, os agentes apreenderam medicamentos de uso restrito, uma arma de choque e um facão. A suspeita é de que os objetos eram utilizados para intimidar internos.

A morte da esteticista em Marechal Deodoro, na região metropolitana de Maceió, expôs um extenso esquema de violência na comunidade terapêutica.

Um laudo divulgado pelo Instituto Médico Legal, no dia 25 de agosto, indicou que a causa do óbito foi insuficiência respiratória, provocada por agressões e intoxicação medicamentosa.

No exame cadavérico, o perito médico legista Lucas Emanuel identificou lesões em diferentes regiões do corpo da esteticista, em estágios evolutivos variados, o que indica episódios anteriores de agressão.

A análise toxicológica confirmou que a vítima havia ingerido diversos fármacos de uso controlado, como antidepressivos, antipsicóticos, antiepilépticos, anti-histamínicos e benzodiazepínicos. A combinação desses medicamentos é capaz de induzir coma e parada respiratória.

Após a notícia da morte de Cláudia, novas vítimas procuraram as delegacias especializadas para registrar boletins de ocorrência. Foram muitas denúncias de maus-tratos contra outros internos, como agressões físicas, uso inadequado de medicamentos para sedação e restrição de contato com familiares.

Os proprietários da clínica, Maurício Anchieta de Souza e Jéssica da Conceição Vilela, foram presos preventivamente. O proprietário indiciado foi localizado em um motel após ser considerado foragido. A coproprietária é suspeita de abuso sexual contra uma adolescente que estava internada. A clínica foi interditada.

A Polícia Civil aguarda a definição da Justiça sobre qual vara ou comarca possui a autoridade legal para processar o inquérito. De acordo com a polícia, essa definição é crucial para garantir o correto encaminhamento e a validade jurídica dos procedimentos subsequentes ao indiciamento.

Relembre o caso

Cláudia Pollyanne Farias de Sant’Anna morreu no dia 09 de agosto, nas dependências da clínica de reabilitação. A família registrou boletim de ocorrência após ser informada pela Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do município que o corpo da esteticista apresentava hematomas, olho roxo e sinais de violência, o que levantou suspeitas imediatas.

O dono da clínica, preso dias após o ocorrido, afirmou à polícia que ela teria tido um surto de abstinência, sido medicada e dormido, sendo encontrada morta pela manhã.

Contudo, familiares relataram que um médico da UPA informou que Cláudia já estava sem vida havia pelo menos quatro horas quando chegou ao local.

Em nota à imprensa, os amigos de Cláudia celebraram a conclusão do inquérito com um misto de emoção e alívio. Para eles, o indiciamento é o primeiro passo concreto rumo à justiça:

“Foram semanas de luta incansável: meses de mobilização, noites sem dormir, busca ativa por informações, testemunhas e documentos. Nada disso devolverá Polly, mas hoje existe a certeza de que a Justiça começou a ser feita.”

O grupo reforça, porém, uma preocupação: tanto o dono da clínica, Maurício Anchieta, quanto Jéssica Vilela, também investigada, podem obter habeas corpus, cujo julgamento deve ocorrer ainda esta semana no Tribunal de Justiça de Alagoas. Ambos estão reclusos por crimes que incluem estupro e tortura.

A nota também agradeceu o trabalho da delegada Liana Franco, responsável pelas primeiras diligências e pela prisão em flagrante de uma das investigadas. “Seu trabalho foi essencial para que o inquérito chegasse até aqui”, concluiu.