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Jovens e leste da Alemanha dão preferência a partido ultranacionalista

Por CNN Brasil 25/02/2025 15h44
Jovens e leste da Alemanha dão preferência a partido ultranacionalista
Líderes do partido A Esquerda comemoram resultado após o anúncio da primeira parcial das eleições alemãs - Foto: AFP

O partido ultranacionalista Alternativa para a Alemanha (AfD) só não venceu as eleições de domingo porque os jovens e a população da antiga Alemanha Oriental são minorias no país. No outro extremo do espectro ideológico, o partido A Esquerda (Die Linke) também teve notável desempenho entre os jovens – o que é revelador sobre as perspectivas do populismo no país, até recentemente um reduto de moderação e tecnocracia.

A votação da AfD dobrou de 10,4% em 2021 para 20,8%, ficando em segundo lugar, atrás apenas da União Democrata-Cristã (CDU), de centro-direita. A principal causa desse êxito foi a mobilização de alemães que não votaram nas eleições anteriores. Essa fatia representou 40% dos 4,4 milhões de votos na AfD, segundo a pesquisa de boca-de-urna da Infratest dimap para a rede de TV ARD.

A capacidade de mobilização da AfD foi em grande medida responsável pelo comparecimento de 84%, um recorde desde a reunificação da Alemanha em 1990. Esses novos eleitores são uma mescla de cidadãos atraídos pela postura anti-sistema da AfD, e de alemães que só recentemente atingiram a idade mínima para eleições federais: 18 anos.

A Esquerda ficou em quinto lugar, saltando de 4% para 9% dos votos nessas eleições, e se tornou o partido mais votado entre os eleitores de 18 a 24 anos de idade. A AfD chegou em segundo lugar nessa faixa etária, e foi vencedora entre os alemães de 25 a 40 anos de idade, obtendo um quarto dos votos nesse grupo.

Esses partidos rivais só não tiveram uma posição melhor no ranking porque mais da metade da população alemã tem mais de 40 anos. O censo alemão não divide as faixas da mesma forma que a boca-de-urna, mas dá uma ideia da representatividade de cada grupo. Os alemães com menos de 20 anos representam 19% da população; entre 20 e 40 anos, 24%; de 40 a 60 anos, 27%; de 60 a 80, 23%; e acima de 80 anos, 7%.

Já a população que vive na antiga Alemanha Oriental soma apenas 15% de todo o país. A AfD venceu nos cinco estados dessa região. A capital Berlim, que se situa nessa região, e cuja parte leste pertencia à Alemanha Oriental, é uma exceção. O Partido Social-Democrata (SPD), que ficou em terceiro lugar, com apenas 16%, o pior resultado desde o século 19, venceu na parte oriental de Berlim, enquanto a CDU foi a mais votada no lado ocidental da cidade.

Desde a reunificação em 1990, a antiga Alemanha Oriental tem sido um reduto de ultranacionalistas, incluindo neonazistas, que apoiam a AfD. Segundo dados de 2021, os alemães orientais têm renda 11% menor que os ocidentais, e herdam metade do patrimônio. O desemprego na região é de 20,5%, enquanto no país todo é de 6,4%.

Já o sucesso da AfD e da Esquerda entre os jovens se deve principalmente à presença desses dois partidos no TikTok. Por causa disso, até mesmo crianças e adolescentes abaixo da idade de votar se autodefinem como AfD-Wähler (eleitor) ou Linke-Wähler.

A líder da Esquerda, Heidi Reichinnek, de 36 anos, tem um estilo que chama a atenção do público do TikTok, com seu cabelo ruivo, franja reta, batom vermelho e tatuagens nos braços. Seus discursos fervorosos viralizam na plataforma, com milhões de visualizações.

Além disso, a Esquerda centrou a campanha em temas importantes para os jovens, como o controle dos preços dos aluguéis e do custo de vida, que têm aumentado significativamente, e programas assistenciais.

Já a AfD capitalizou a insatisfação entre os jovens com os problemas econômicos e com os partidos tradicionais, impulsionando soluções simplistas como a expulsão dos imigrantes.