Os dois motores do avião Jeju Air que caiu no mês passado continham restos de pato, segundo relatório preliminar divulgado nesta segunda-feira (27), com as autoridades ainda tentando determinar o que causou o pior desastre aéreo em solo sul-coreano.
Embora seja raro que tais relatórios preliminares vão além dos detalhes factuais, o documento não deu nenhuma indicação sobre o que pode ter levado a aeronave a pousar bem abaixo na pista sem o trem de pouso acionado, destacando a falta de pistas imediatas depois que as caixas-pretas do avião pararam de gravar, quatro minutos antes do impacto.
O relatório de seis páginas divulgado pelas autoridades um mês após o acidente afirma que ambos os motores do jato Boeing continham DNA de Baikal Teals, um tipo de pato migratório que voa para a Coreia do Sul no inverno em grandes bandos.
Especialistas explicam que acidentes aéreos são quase sempre causados por um conjunto de fatores.
O voo da Jeju Air de Bangkok em 29 de dezembro ultrapassou a pista do Aeroporto de Muan ao fazer um pouso de emergência e colidir com um aterro contendo equipamentos de navegação, chamados localizadores, matando todos, exceto dois tripulantes, das 181 pessoas a bordo.
“Após a colisão com o aterro, ocorreu um incêndio e uma explosão parcial. Ambos os motores foram enterrados no monte de solo do aterro, e a fuselagem dianteira se espalhou por cerca de 200 metros do aterro”, ressaltou o relatório, fornecendo algumas novas fotos do local do acidente.
O localizador auxilia a navegação de uma aeronave que se aproxima da pista, e a estrutura construída de concreto reforçado e terra no aeroporto de Muan, que suporta as antenas do sistema, provavelmente contribuiu para o alto número de mortos, analisaram especialistas.
A investigação desmontará os motores, examinará os componentes em profundidade, analisará dados de controle de tráfego aéreo e em voo e investigará o aterro, os localizadores e as evidências de colisão com pássaros, informa o documento sobre os próximos passos.
“Essas atividades de investigação completa visam determinar a causa precisa do acidente”, ressaltou.
MAYDAY
O relatório destacou muitas das descobertas iniciais dos investigadores sul-coreanos compartilhadas com as famílias das vítimas no sábado (25), incluindo a consciência dos pilotos sobre um bando de pássaros na aproximação final do avião.
O horário exato em que o choque com pássaros foi relatado pelos pilotos permanece não confirmado, explicou o documento sobre acidente, mas a aeronave “fez uma declaração de emergência (Mayday x 3) para um choque com pássaros durante uma volta”.
A colisão com as aves que causou danos nos dois motores são raros, embora tenha havido casos bem-sucedidos de pilotos pousando sem fatalidades em tais situações, incluindo o pouso no rio “Milagre no Hudson” nos EUA em 2009 e um em um milharal na Rússia em 2019.
Os investigadores juntam geralmente os momentos finais antes de um desastre sincronizando cuidadosamente as gravações de voz e dados para entender como a tripulação e o avião interagiram.
Mas essas pistas vitais não estão disponíveis para o acidente da Jeju Air porque os gravadores pararam de gravar pouco antes dos pilotos declararem a emergência e cerca de quatro minutos antes do impacto.
A aeronave estava a uma altitude de 152 metros voando a 298 km/h a cerca de dois km de distância da pista no momento em que os gravadores de voo pararam de gravar, aponta o documento.
Energia reserva para gravações
Desde 2010, novos aviões construídos nos EUA precisam ter energia de reserva suficiente para fornecer 10 minutos de gravação de dados extras caso a energia elétrica a bordo falhe, após uma série de incidentes em que os gravadores pararam de funcionar.
No entanto, a mudança ocorreu oito meses após o 737-800 envolvido no acidente de Jeju ter aparentemente saído da fábrica da Boeing, conforme dados do FlightRadar24.
O Conselho de Investigação de Acidentes de Aviação e Ferrovia da Coreia do Sul compartilhou o relatório com a Organização Internacional de Aviação Civil (ICAO), Tailândia, Estados Unidos e França, que são os estados de origem dos fabricantes de aviões e motores, ressaltou um funcionário nesta segunda-feira (27).
Segundo as diretrizes globais de aviação, os investigadores emitem relatórios preliminares após 30 dias e um relatório final é esperado em um ano.