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Guerra põe ministro da Defesa da Rússia na corda bamba

Um dos aliados mais leais a Putin, Sergei Shoigu vendeu ao chefe uma operação rápida, que não se concretizou 20 dias após invasão do país vizinho.

Por G1 15/03/2022 11h33 - Atualizado em 15/03/2022 11h40
Guerra põe ministro da Defesa da Rússia na corda bamba
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, cumprimenta o ministro da Defesa, o general do exército Sergei Shoigu, durante cerimônia no Kremlin, no dia 11 de abril de 2021 - Foto: Alexey Nikolsky/Sputnik/

Sem histórico militar, o ministro da Defesa da Rússia tem a patente de general e ascendeu no Kremlin com campanhas exitosas na Crimeia e na Síria. Aos 66 anos, Sergei Shoigu é visto como provável sucessor do presidente Putin, mas a demora em obter um desfecho favorável à Rússia na ocupação da Ucrânia faz balançar a sua esfera de influência no Kremlin.

Se a guerra de Putin fracassar, Shoigu será responsabilizado. Ainda que as forças russas saiam vitoriosas, o custo terá sido alto e o general também terá falhado: ele vendeu ao chefe uma operação rápida e certeira, sem levar em conta o despreparo de suas tropas, de um lado, e a combativa resistência ucraniana, de outro.

Radicado nos EUA, o escritor russo Leon Aron lembrou, num artigo publicado no jornal “Washington Post”, que a tradição russa costuma ser implacável com os revezes militares. “Mais do que qualquer outro governante russo, Putin fez da guerra, ou da ameaça de guerra, a base de seu apoio popular”, explicou. Fomentou a ideia de que o Ocidente está em guerra permanente com a Rússia.

Há 22 anos no comando da Rússia, ele se cercou de assessores que praticam, sobretudo, a lealdade. Shoigu compartilha deste círculo íntimo de Putin e ajudou a difundir os seus ideais – nacionalismo e embate com as nações ocidentais. Como consequência, figura na lista dos sancionados pelos EUA e pela UE.

Engenheiro civil, Shoigu não fez carreira militar. Destacou-se como encarregado da gestão de emergências no fim da URSS, tornando-se o único ministro remanescente da era Yeltsin ainda no poder. O sucesso em gerir situações de crise o alçou, há dez anos, à pasta da Defesa.

É frequentemente creditada a Shoigu a modernização das forças armadas, obsoletas após a retirada do Afeganistão, em 1989, e duas guerras na Chechênia, na década de 1990. A reestruturação se mostrou eficiente na anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014, e na campanha na Síria, no ano seguinte, que garantiu a sobrevivência do ditador Bashar al-Assad no poder.

Shoigu saiu fortalecido, aos olhos do chefe e do povo russo, como uma das figuras mais populares do governo. Desfila de uniforme militar, remodelado no estilo do que foi introduzido por Stalin após a vitória na Segunda Guerra. O atual ministro não esconde a admiração por Georgy Zhukov, o mais combativo dos marechais de Stalin e um dos comandantes do triunfo sobre a Alemanha nazista.

O prestígio conquistado pelo ministro da Defesa, contudo, está sob ameaça. Os 20 dias de guerra na Ucrânia foram marcados por falhas de logística e pela lenta evolução para a conquista de Kiev. Shoigu continua a assegurar a Putin que tudo corre conforme o planejado. No domingo, o chefe da Guarda Nacional, Viktor Zolotov, deixou transparecer a apreensão, ao falar num serviço religioso liderado pelo patriarca ortodoxo Kirill: “Gostaria de dizer que sim, mas nem tudo está indo tão rápido como gostaríamos.” Zolotov repetiu o discurso oficial, atribuindo o lento progresso às forças ucranianas de extrema direita, que fazem civis de escudos. Mas, como avaliou Leon Aron, cada dia que a Ucrânia resiste, o regime de Putin corrói.