Mundo
Infraestrutura dos Estados Unidos está sob risco de colapso, diz estudo
Rodovias, ferrovias, barragens e pontes podem comprometer o desempenho econômico americano
Começou nesta segunda-feira o "verão do inferno" para os nova-iorquinos. Quando os trabalhadores correm do trabalho para casa, a Pennsylvania Station, em Midtown, está abarrotada de gente. Cerca de 600 mil pessoas passam todos os dias pela estação, também chamada de Penn Station, a caminho do trabalho em Manhattan, voltando depois a Nova Jersey ou Long Island. São mais passageiros do que recebem, juntos, os três aeroportos de Nova York.
Justamente neste importante ponto de conexão, vários trilhos estão interditados desde segunda-feira para urgentes e necessários trabalhos de manutenção. "Isso pode provocar uma reação em cadeia e levar o sistema de transporte de Nova York à beira do colapso", alertou há duas semanas Andrew Cuomo, governador do estado de Nova York.
Os reparos são inevitáveis. No começo do ano, dois três descarrilaram na estação Pennsylvania, fazendo com que Cuomo decretasse estado de emergência para o transporte público no estado.
Sistema sobrecarregado
O transporte ferroviário em Nova Iorque está cronicamente sobrecarregado, o metrô tem mais de 120 anos de idade. As ruas estão cheias de buracos, túneis estão em ruínas, pontes e o sistema de subterrâneo de esgoto, caindo aos pedaços.
"Mas as redes de eletricidade, gasodutos e oleodutos, portos, tráfego de carga ferroviária e a rede de internet de banda larga estão em melhores condições, porque essas áreas da infraestrutura estão, em grande parte, nas mãos do setor privado", afirma Ingo Walter, professor emérito de finanças da Universidade de Nova York.
O resto da infraestrutura está defasada. A Associação Americana de Engenheiros Civis atribui pontuações a cada quatro anos para rodovias, sistemas de abastecimento de água e de eletricidade. Neste ano, foi fada nota baixa ao estado de Nova Iorque. A situação geral nos EUA foi descrita como "insuficiente".
Segundo a entidade, duas mil barragens romper a qualquer momento, 56 mil pontes estão em ruínas em todo o país e uma em cada cinco rodovias tem que receber reparos. "Buracos nas ruas, desvios, canteiros de obras e trens parados custam US$ 3.400 por ano a cada domicílio americano", diz o diretor da associação, Brian Pallasch.
De acordo com o órgão, as deficiências poderão causar prejuízos de quase US$ 4 trilhões ao PIB americano até 2025. A mesma quantia seria necessária para consertar a infraestrutura.
Tema de campanha
A infraestrutura em ruínas foi um tema eleitoral bem-vindo para Donald Trump. Ele prometeu aos americanos US$ 1 trilhão para reparar a infraestrutura do país. "Nós queremos um pouco mais, mas já é um bom começo", diz Pallasch, da Associação de Engenheiros Civis.
Em maio, a Casa Branca publicou um documento de seis páginas revelando que Washington só investirá cerca de US$ 200 bilhões no prometido pacote de infraestrutura. Os restantes US$ 800 bilhões virão de governos estaduais e municipais. Isto seria um problema, especialmente para áreas rurais e estados com problemas financeiros.
Trump também quer atrair investidores privados para o financiamento de projetos públicos de infraestrutura – através de empréstimos baratos e incentivos fiscais. Estes subsídios têm como meta criar empregos e aliviar o fisco.
"Mas empresas privadas poderiam cobrar taxas extras, como um pedágio para utilização de estradas, para obter retornos atraentes", diz John Rennie Short, professor de administração pública da Universidade de Maryland. "Isso poderia onerar os cidadãos, além dos impostos que já pagam", acrescenta.
'Presente para Wall Street'
Por isso, Short classifica o plano de Trump de "um presente a Wall Street". Além disso, há o perigo de os investidores privados só se interessarem por projetos que trazem um rápido retorno. Mas infraestrutura exige paciência.
"Um retorno dentro de 20 a 25 anos é algo pouco atraente para acionistas de empresas", diz Short. Isso também se aplicado a projetos em áreas rurais, que trazem retornos que não são nem rápidos nem elevados. "O modelo de Trump reforça a desigualdade", acredita Short. "As cidades mais necessitadas não atrairiam investidores."
O site financeiro Wallethub cita cidades como Flint e Detroit, ex-redutos da indústria automobilística, como algumas das "piores cidades" dos Estados Unidos, sobretudo devido à falta de infraestrutura. "Nelas, não há nenhum projeto de prestígio", aponta Short.
Brian Pallasch, da Associação de Engenheiros Civis, discorda, afirmando que muitos estados já não esperam pela ajuda de Washington. "E em estados como Michigan há investidores interessados, porque os planos de Trump tornam os projetos de infraestrutura mais atraentes para eles", argumenta.
Pallasch também não acredita que os investidores estão apenas à procura de retornos rápidos. Sobretudo fundos de pensão são interessados em rendimentos a longo prazo. Neles, os investidores pagam hoje e querem ver seu retorno apenas dentro de décadas.
"Este é o tempo que vai demorar para haver uma melhora na infraestrutura nos EUA", acredita. Ele afirma que um motivo para que a infraestrutura esteja tão defasada está no Legislativo americano. "O Congresso não se preocupou uma década inteira com a infraestrutura. Agora vemos as consequências", diz.
O especialista em finanças Ingo Walter ressalta que, ao mesmo tempo, os estados e o governo federal empurram a responsabilidade financeira entre um e outro. John Short acrescenta que apenas uma catástrofe vai fazer com que as autoridades passem a agir. E os sinais de alerta estão se acumulando. Desde os primeiros descarrilamentos em Nova York, outros três trens saíram dos trilhos, ferindo até agora 34 pessoas.
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