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Na Rússia, projeto de lei que despenaliza a violência doméstica avança

Agressor que não causar danos à saúde da vítima e não voltar a bater em um ano não responderá criminalmente

Por G1 27/01/2017 11h50
Na Rússia, projeto de lei que despenaliza a violência doméstica avança
Reprodução - Foto: Assessoria

A Câmara Baixa do Parlamento russo (Duma) aprovou nesta sexta-feira (27) em terceira e última leitura o projeto de lei que despenaliza a violência doméstica sempre que a agressão não causar danos à saúde da vítima e não se repetir.

O projeto de lei, que provocou intenso debate público, estabelece que mesmo as agressões que causem dor física e deixem marcas ou arranhões nas vítimas não serão consideradas um crime.

A nova orientação nos casos de violência doméstica ainda precisa ser aprovada pela Câmara Alta e sancionada pelo presidente Vladimir Putin, que já sinalizou seu apoio.

Os deputados estabeleceram que o agressor responderia civilmente com uma multa de 30.000 rublos (US$ 502), serviço comunitário ou uma detenção de 15 dias. Só quando o agressor voltar a bater no mesmo familiar poderá ser processado pela via penal.

No entanto, para se caracterizar a repetição da agressão, é necessário que ela ocorra em um intervalo de um ano, dando aos abusadores um passe para bater parentes uma vez por ano, como o observa o jornal britânico “The Economist”.

Outro detalhe importante: o agredido deverá demonstrar os fatos, porque a justiça não atuará de ofício nestes casos. "As vítimas deverão reunir elas mesmas todas as provas da agressão e comparecer a todas as audiências nos tribunais para prová-lo. É absurdo que não se atue de ofício. O agredido deve investigar seu próprio caso", explicou à Agência Efe a advogada especializada em violência de gênero Mari Davtian.

"Na prática, 90% dos denunciantes acabam não indo aos tribunais, porque o procedimento é muito embaraçoso e porque o agressor é alguém do ambiente mais próximo, que quase sempre compartilha o lar com sua vítima", acrescentou.

Agências de inteligência dos EUA afirmaram que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou que as eleições americanas fossem influenciadas através de ataques cibernéticos para beneficiar Donald Trump (Foto: Alexei Druzhinin, Sputnik, Kremlin Pool Photo/AP)

Os autores da iniciativa - duas deputadas e duas senadoras da Rússia Unida, o partido do presidente russo, Vladimir Putin - argumentam que apenas querem descriminalizar as surras que não causem dano à saúde das vítimas, de acordo com a Efe.

"A descarada ingerência na família pela justiça é intolerável", disse Putin há um mês em sua entrevista coletiva anual, ao responder a uma ativista que lhe perguntou sobre a conveniência de acabar com uma lei que permite "prender um pai por causa de um tapa no traseiro que a criança mereceu".

O presidente da Duma, Viacheslav Volodin, considerou inaceitável as pressões por parte do Conselho da Europa, que se dirigiu por escrito a ambas as câmaras do Parlamento russo para expressar sua preocupação.

Uma pesquisa realizada este mês pela estatal VTsIOM mostrou que 19% dos russos disseram que "pode ser aceitável" bater na esposa, no marido ou na criança "em certas circunstâncias", de acordo com a Associated Press. A pesquisa nacional, feita por telefone, consultou 1.800 pessoas entre 13 e 15 de janeiro. A margem de erro é de 2,5 pontos percentuais.