Interior
Mestre Rubério Oliveira é o guardião do patrimônio naval e ferroviário do Baixo São Francisco
Com mais de 40 anos de dedicação, o artesão alagoano transforma madeira em verdadeiras obras de arte, preservando a memória cultural do sertão e do Velho Chico
Há mais de 40 anos, um talentoso artesão transforma madeira em peças únicas no sertão alagoano. Rubério de Oliveira Fontes, carinhosamente chamado de mestre Rubério, é conhecido por seu estilo inconfundível e traços marcantes, que refletem sua identidade e habilidade artística em cada peça esculpida.
Nascido e criado no povoado Canto, no município de Piranhas, filho do serralheiro Pedro Fontes de Oliveira e da doméstica Dalva Fontes, Rubério cresceu imerso no universo das embarcações e da marcenaria. Ele foi influenciado pelas memórias de seu pai, um torneiro mecânico e serralheiro da Rede Ferroviária. Ainda na adolescência, despertou seu interesse pela carpintaria, trabalhando como ajudante de oficina.
Sua jornada profissional começou em 1959, na Chesf, onde atuou como carpinteiro até 1977. Após deixar a Chesf, o Mestre Rubério se entregou à sua verdadeira paixão: a criação artística em madeira. Seu ateliê, localizado no Centro Histórico de Piranhas, é um verdadeiro santuário de memória cultural. É lá onde ele recria com precisão e carinho peças como a Canoa Chata, a Canoa de Tolda, e embarcações icônicas como o Navio Comendador Peixoto, Tupan, Tupy e Tupigy. Seu trabalho não é apenas um tributo à navegação e à ferrovia da região, mas também um resgate das tradições quase esquecidas do Baixo São Francisco.
A paixão pelo Velho Chico é um sentimento inexplicável, uma verdadeira recordação dos tempos em que as águas do São Francisco eram movimentadas por embarcações de todos os tipos e tamanhos. E é exatamente nos mínimos detalhes de cada peça que mestre Rubério consegue expressar toda essa preservação da história e das tradições da região.
“Eu me sinto muito feliz, agradeço a Deus pelo dom que ele me deu, porque até agora, com meus 83 anos, eu continuo fazendo o meu trabalho na madeira. Eu tenho muita vontade de transmitir o meu conhecimento para outras pessoas”, disse o artesão.
PRIMEIRO CONTATO
Rubério não imaginava que aquela curiosidade de menino pelas embarcações despertaria um talento inigualável, que mais tarde lhe daria o título de mestre do Patrimônio Vivo de Alagoas.
O seu primeiro contato com a arte de esculpir em madeira veio na fase da sua adolescência, quando ele junto com outros meninos da sua idade, construíram canoas para soltá-las nas águas do Velho Chico. Diante disso, Rubério foi se aperfeiçoando e construindo a sua identidade em cada peça produzida.
Considerado um dos últimos representantes da arte em madeira no Baixo São Francisco, mestre Rubério agrega valor histórico e cultural nas suas peças que hoje são apreciadas e reconhecidas como guardião do patrimônio naval e ferroviário de Alagoas.
RECONHECIMENTO E LEGADO
Guiado por sua curiosidade e paixão pela arte, mestre Rubério se dedicou a aprimorar suas técnicas e criar peças que, juntas, ajudaram a fortalecer a memória e a história da lapinha do Sertão.
Ao longo dos anos, o trabalho de Mestre Rubério ganhou reconhecimento além das fronteiras de Piranhas. Em 2019, ele foi homenageado com uma Moção de Aplausos e Congratulações pela Câmara Municipal do município. No mesmo ano, representou o artesanato de sua cidade na Feira dos Municípios Alagoanos.
Em 2020, sua obra foi celebrada numa grande exposição com curadoria do arquiteto Álvaro Moreira, intitulada "Exposição Fotográfica e de Objetos Mestre Rubério: Um artesão de Piranhas". Nesse evento, também foi lançado um selo postal em sua homenagem.
Em 2022, sua participação no Encontro de Negócios do Sertão Alagoano, promovido pelo Sebrae/AL, foi mais um marco em sua carreira, onde teve a oportunidade de expor e vender suas obras. Em 2024, seu trabalho foi oficialmente reconhecido pelo Governo de Alagoas, quando foi selecionado no edital de Registro do Patrimônio Vivo de Alagoas pela Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult), solidificando seu papel como um dos principais guardiões da cultura popular do estado.
“Eu me sinto extremamente feliz pela nomeação como Patrimônio Vivo de Alagoas, pois eu sou reconhecido no meu estado. Essa é uma homenagem muito grande, eu me sinto merecedor, porque aqui no nosso estado não tem ninguém que faça um trabalho completo como esse de catamarã, embarcação e maria fumaça”, disse o mestre.
UM FUTURO QUE CONTINUA A INSPIRAR
Hoje, aos 83 anos, Mestre Rubério segue trabalhando em seu ateliê, desafiando a memória e as habilidades para criar miniaturas que revelam sua paixão e maestria. Seu legado vai muito além das peças que produz; ele é um símbolo vivo da resistência cultural e da preservação das tradições do Baixo São Francisco. Através de suas mãos habilidosas, a história continua viva, inspirando novas gerações a valorizar e perpetuar a herança de Alagoas.
O Registro do Patrimônio Vivo de Alagoas não apenas preserva a memória cultural, mas também garante a transmissão dos saberes e fazeres artísticos para o futuro. Cada peça de Mestre Rubério é uma janela para o passado, uma celebração do presente e uma promessa de que a cultura popular de Alagoas continuará a florescer.
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