Interior
Resgate e liberdade: a missão de salvar a fauna silvestre e conscientizar para a conservação ambiental
Da fiscalização à educação, a Jornada da 13ª FPI em defesa da biodiversidade de Alagoas
“Ninguém preserva o que não conhece”, expressou Fernando Pinto, do Instituto de Proteção ao Meio Ambiente (IPMA) de Alagoas, capturando a essência das diretrizes que guiaram a 13ª Fiscalização Preventiva Integrada (FPI) da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Ao longo de duas semanas, ao mesmo tempo em que incentivou discussões, a força-tarefa promoveu a conscientização ecológica e a salvaguarda do meio ambiente a partir da disseminação de informações e conhecimento.
Entendendo o peso da educação na estruturação de uma cultura de preservação, a FPI do Rio São Francisco conduziu uma série de atividades educacionais focadas na conscientização ambiental, beneficiando diversas comunidades e escolas nos municípios de Arapiraca, Jaramataia, Traipu, Craíbas, Igaci e Girau do Ponciano.
Além disso, a equipe do “Sede de Aprender” inspecionou questões estruturais das escolas e verificou in loco o progresso dos serviços oferecidos tanto a sociedade em geral, quanto a comunidade acadêmica. O projeto ainda focou na averiguação da potabilidade da água, do esgotamento sanitário e do descarte de resíduos nas unidades escolares, buscando conjugar o uso da água à preservação ambiental como um todo.
De acordo com Pedro Normande, do Instituto do Meio Ambiente (IMA), mais de 1.500 alunos e professores participaram das atividades educativas propostas pela FPI. Como é uma região com grande concentração de agricultura familiar, também foram realizadas atividades com os agricultores, para a devolução e uso corretos dos equipamentos de proteção individual relacionados aos agrotóxicos.
“Alagoas foi a primeira FPI, entre todos os estados, a implementar essa educação ambiental. Então, é um trabalho contínuo que vem sendo desenvolvido há vários anos e a gente vem vendo o resultado”, destacou.
Animais reintegrados à natureza
Em seu último dia de atividade, a FPI São Francisco realizou a reintrodução de 269 animais ao seu habitat, no sertão alagoano, sendo 242 aves e 27 jabutis. A maior parte deles foi devolvida à natureza em Delmiro Gouveia, na Reserva Ecológica, o Castanho, pela equipe de Fauna da FPI do Rio São Francisco, que é composta pelo IMA, Batalhão de Polícia Ambiental (BPA), IPMA e Instituto SOS Caatinga.
Rafael Cordeiro, do IMA, explica que todas as espécies de animais exercem diferentes funções ecológicas no meio ambiente que impactam diretamente no equilíbrio da biodiversidade.
“As aves, por exemplo, exercem grande influência devido aos seus hábitos alimentares, dispersando sementes, controlando pragas e polinizando. No caso dos Jabutis, temos a dispersão de semente, o controle da vegetação a ciclagem de nutrientes no solo, assim cada espécie possui uma importância e quando analisamos ‘ao todo’ podemos começar a ter noção sobre o papel de cada um com o meio ambiente”, explicou o técnico ambiental.
Desde o início da FPI, 496 animais foram devolvidos ao seu habitat e 130 foram encaminhados ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), em Maceió. Ao todo, a FPI resgatou 665 animais silvestres de cativeiros no agreste e sertão de Alagoas. 21 animais foram entregues de forma voluntária em campanha promovida pela força-tarefa.
Educação ambiental nas comunidades
Para além da soltura dos animais, houve ainda um momento de educação e de esperança nas próximas gerações, com a participação estudantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental Antônio Augustino dos Anjos, da comunidade quilombola Cabloco, localizada na zona rural de São José da Tapera.
Antes de colaborar na soltura de 60 pássaros, os alunos engajaram-se em um projeto artístico sob a orientação de seus professores, transformando as gaiolas que serviam para encarcerar as pequenas aves em obras de arte.
Uma dessas jovens é a Ana Carla, 16 anos, da comunidade quilombola Cabloco. Apesar de toda familiaridade e segurança ao segurar um sapo Cururu, que surgiu no meio da trilha que leva ao local de soltura dos pássaros, ela afirmou desconhecer as espécimes e que tem muita vontade de continuar no projeto.
“Esse momento de soltar os passarinhos de volta na natureza foi muito emocionante, mas eu quero muito aprender mais, conhecer mais. Eu já tive curiosidade de conhecer, mas nunca tive oportunidade. Quero aprender coisas novas e colocar também o povo para aprender a importância dos animais”, relata a estudante.
Guardiões da Caatinga
Recentemente, o Instituto SOS Caatinga lançou o inovador programa "Guardiões da Caatinga", com o objetivo de capacitar jovens e inspirar uma nova geração a cuidar e preservar a natureza. O programa busca uma transformação gradual de cultura das comunidades, investindo nos jovens, que possuem maior abertura para mudanças de paradigmas.
Através da exposição ao dia a dia e o compartilhamento de experiências valiosas, os jovens estão sendo preparados para assumir um papel ativo na preservação da Caatinga, demonstrando grande entusiasmo pelo projeto que pode ser a garantia de um futuro para o bioma.
À frente do Instituto SOS Caatinga e defensor do bioma há mais de 20 anos, Marcos Araújo não esconde a felicidade e a emoção em poder iniciar esse projeto com os jovens da comunidade.
“Apesar de nativos dessa região, muitos deles não conhecem a biodiversidade que existe no quintal de suas casas e nós estamos proporcionando esse momento de descoberta e de conhecimento para eles. Estar hoje diante deles e dar início a esse projeto é a realização de um sonho”, relatou Marcos.
Imersão na Caatinga
Um outro projeto do Instituto é a Imersão Caatinga. O que era apenas a vontade de alguns amigos de fugir do barulho da cidade e se isolar na mata por dois dias, cresceu e se tornou um grande encontro de conhecimento teórico e prático sobre a vida na Caatinga, com participação de estudantes e professores de diversas áreas como biologia e zootecnia, além de amantes da natureza.
A ideia é que nas próximas edições, sejam convidados especialistas em peixes, em primatas, em felinos, em aves e em répteis. A imersão dura 48 horas e os participantes conseguem observar de perto boa parte da fauna que vive na região.
“O que os estudantes veem na teoria, a gente apresenta a eles na prática. Então esse trabalho que nós estamos fazendo de monitoramento das Jaguatiricas, dos Macacos-pregos-galegos, permite que eles tenham acesso ao que, até então, eles só poderiam ver em capas de revista ou em reportagens”, destacou Marcos.
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