Interior
Comércio clandestino de queijo coalho ameaça saúde de população vulnerável
FPI do Rio São Francisco apreende cerca de 200 quilos de laticínio impróprio para consumo humano; quando feito em condições irregulares, produto de origem animal pode levar a Doenças Transmitidas por Alimentos
Ameaça à saúde da população, em especial de crianças, idosos, gestantes, pessoas com doenças crônicas e pacientes transplantados. Esse é o maior risco ao consumir produtos oriundos da fabricação clandestina de queijo coalho flagrada pela Fiscalização Preventiva Integrada da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (FPI do Rio São Francisco) nesta terça-feira (30), na zona rural de Craíbas/AL. Dias antes em Traipu, a operação interditou outra fábrica irregular de laticínios. Ao todo, foram apreendidos cerca de 200 quilos de queijo impróprios para consumo humano.
Quem esteve à frente das ações foi a equipe de Produtos de Origem Animal da FPI do Rio São Francisco. O grupo é formado pela Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária de Alagoas (Adeal), Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL), Batalhão de Polícia Ambiental (BPA) e Conselho Regional de Medicina Veterinária de Alagoas (CRMV/AL), Ministério Público do Estado de Alagoas (MPE/AL) e Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Ao chegar no alvo de Craíbas, os agentes da FPI encontraram um ambiente considerado nocivo para produção de queijo, com instalações precárias, paredes e tetos tomados por mofo, equipamentos enferrujados, panos sujos, presença de moscas e vários pacotes de sal para o preparo do laticínio.
A queijaria funcionava sem licença ambiental do IMA/AL, o que também configura crime ambiental constatado pelo BPA. O empreendimento não tinha autorização da Adeal para produzir e comercializar produtos que representam risco à saúde pública, nem acompanhamento de profissional registado no CRMV/AL.
A proprietária da residência chegou a alegar que a produção de queijo era para consumo próprio, mas acabou desmentida com o flagrante de cerca de 60 quilos de queijo num freezer localizado na residência da família. De acordo com a coordenação da equipe, a estrutura encontrada na fábrica de laticínios permite a produção de uma tonelada de queijos por mês.
Feira de Traipu
Situação similar ocorreu em Traipu, dias antes, quando a equipe de Produtos de Origem Animal flagrou a produção clandestina de queijo coalho para comércio na feira do município. Por lá, o ambiente possuía as mesmas irregularidades da queijaria de Craíbas, com o agravante de estar repleto de cães e outros animais com livre acesso às dependências da fábrica.
A matéria-prima era mantida em balde no chão, coberto por lençol, sem qualquer tratamento térmico, imediatamente à frente da porta de acesso ao quintal da residência. Na ocasião, foram apreendidos 135 quilos de queijo.
Segundo a coordenação da equipe, a produção e área de manipulação de alimentos devem ser vedadas à entrada de vetores, pragas e outros contaminantes, com pisos, paredes e tetos em superfície higienizável, evitando o risco do acúmulo de sujidades e outros contaminantes. Os materiais, utensílios e equipamentos também devem ser constituídos de materiais higienizáveis, permitindo a higienização e sanitização deles antes e após a produção dos produtos de origem animal.
“Todos os produtos derivados lácteos devem permanecer refrigerados, o que não era prática dos responsáveis pelo produto em questão. Além das necessidades de infraestrutura, existe também a necessidade de capacitação de todas as pessoas responsáveis pela manipulação, desde a matéria-prima, até o produto final, para que todo o processo de produção seja executado com a segurança adequada dos alimentos”, explica a coordenação do grupo.
Em virtude das irregularidades encontradas, os proprietários das duas queijarias receberam autos de infração que podem ser convertidos em multas. Eles também deverão se apresentar ao Sistema de Justiça para responder por crime ambiental. Já o queijo e utensílios de fabricação apreendidos foram destinados no Centro de Tratamento de Resíduos de Craíbas.
Riscos à saúde
O consumo de queijos produzidos a partir de leite não pasteurizado (leite cru) oferece diversos riscos microbiológicos significantes, frequentemente ignorados pela população, que se torna vítima das Doenças Transmitidas por Alimentos (DTAs).
As DTAS decorrentes do consumo de queijos produzidos em condições irregulares são infecção por salmonella, listeriose, tuberculose, febre tifoide, campilobacteriose e difteria.
A equipe de Produtos de Origem Animal explica que os microrganismos que levam às DTAs podem ser veiculados pelas fezes e glândulas mamárias (tetas) da vaca, tal como pelas condições higiênico-sanitárias do estábulo de ordenha e pelas próprias mãos do ordenhador. Tais agentes patológicos podem estar presentes no leite cru e, consequentemente no queijo produzido a partir dele, sem pasteurização.
“Essas bactérias podem prejudicar a saúde de qualquer pessoa que consuma o leite cru e seus derivados. No entanto, vale destacar que elas podem ser extremamente perigosas para pessoas com alterações em seu sistema imunológico. Refiro-me a pacientes transplantados e indivíduos portadores de doenças crônicas, assim como crianças, idosos e gestantes”, alerta a coordenação da equipe de Produtos de Origem Animal.
A produção clandestina também provoca danos ao meio ambiente, visto que são lançados efluentes contaminadores dos recursos hídricos, e prejuízos à concorrência leal no comércio de laticínios. Além dos investimentos em condições regulares de produção, a queijaria legalizada eventualmente tem como concorrentes produtos impróprios para consumo humano com embalagens e selos oficiais de autorização falsificados, que, por esse motivo, são vendidos por valores menores.
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