Interior
Moradores de Craíbas querem indenizações
Desde ano de 2021, município é conhecido como “A Terra dos Minérios” e população sofre com rachaduras nas casas
O início da operação da Mineradora Vale Verde (MVV), para a exploração e comercialização de jazidas de cobre e ferro, trouxe divisas financeiras para o município e cidades vizinhas.
Contudo, para a extração do cobre, principalmente, a Vale Verde utiliza um método com detonação de explosivos e desmonte da rocha a céu aberto.
É realizada a perfuração das bancadas para o carregamento dos explosivos, sendo necessária para sua detonação um iniciador no interior da massa explosiva.
Os moradores afirmam que a atividade está causando, há mais de dois anos, muita apreensão e medo nas pessoas que vivem em localidades mais próximas dos centros das explosões.
As famílias temem que haja um desastre ambiental semelhante ao que ocorreu em Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais.
O agricultor Francisco Batista da Silva, o Chiquinho, teve de abandonar a sua casa, localizada no Povoado Lagoa do Mel, na área rural de Craíbas.
Segundo ele, depois das explosões provocadas pela mineradora, toda a estrutura da casa ficou comprometida. As rachaduras estão por todos os lados do imóvel.
“Tive de sair às pressas com a minha família. Outros moradores também estão com as suas casas comprometidas”, relata o agricultor.
Além do risco de acidentes, as famílias reclamam da grande quantidade de poeira lançada no ar durante o período das explosões, que ocorrem duas vezes por semana, às terças e quintas-feiras, por volta do meio-dia.
Os moradores dos povoados Lagoa do Mel, Pau Ferro, Serrote e Torrões reclamam do barulho das explosões que fazem o chão tremer e também assustam os animais.
Foram relatados problemas respiratórios em crianças, e também de origem psicológica.
Barragem da Vale Verde ameaça o Rio São Francisco
Estudo realizado pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) revela que a barragem de rejeitos da mineração de cobre da Vale Verde é a maior já construída em Alagoas, e tem acesso às calhas de rios temporários que deságuam no São Francisco, a exemplo da Bacia do Rio Traipu.
Em artigo assinado pela bióloga, com o título “A mineração de milhões em Craíbas que ameaça a Bacia do Rio São Francisco”, Neirevane Nunes denuncia o suposto crime ambiental, com base em estudos feitos por pesquisadores da Ufal e pede providências aos órgãos ambientais, ao Ministério Público Estadual (MP/AL), ao Ministério Público Federal (MPF) e à Defensoria Pública da União (DPU).
Estudos da Ufal indicam níveis acima dos limites toleráveis na foz do Rio Traipu, principalmente ferro, zinco e manganês.
Segundo os pesquisadores, estas alterações podem ser decorrentes de processos erosivos, assoreamento e revolvimento do solo, mas não pode ser descartada a possibilidade de manejo inadequado do solo e que ações de mineração possam contribuir com o aumento dos níveis destes compostos na região.
Com medo do pior, os moradores agendaram várias reuniões com os diretores da Mineração Vale Verde e cobraram indenizações pelos danos provocados nos imóveis.
A burocracia dos trâmites legais levou alguns moradores a interditar, por duas vezes, o trecho da Rodovia AL-486, no acesso à empresa, no Povoado Serrote da Laje, na área rural de Craíbas.
A expectativa das dezenas de famílias que vivem no entorno da barragem é de que, agora, a solicitação seja atendida e encontrada uma solução para o problema.
Por sua vez, a Mineração Vale Verde (MVV) vem publicando notas públicas afirmando que o processo de desmonte controlado é rigorosamente monitorado por sismógrafos e acompanhado por uma equipe multidisciplinar, cumprindo os padrões internacionais de segurança, em rotina de monitoramento ambiental contínuo.
A empresa também diz que o resultado do trabalho regular de desmonte é semanalmente enviado às comunidades, por meio das plataformas de mensagem.
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