Interior
Invento alagoano revoluciona educação musical para pessoas com deficiência visual
Dispositivo TouchBraille reúne peças modulares que se encaixam e formam variadas partituras musicais
A dificuldade de encontrar um equipamento ideal para ministrar aulas de piano e teclados a jovens com deficiência visual levou o professor de Matemática e educador musical Leandro Teyller a criar um aparelho inovador e inclusivo.
Desde o início deste ano que o educador musical desenvolve alternativas tecnológicas para facilitar o aprendizado dos alunos.
Leandro Teyller chegou a criar um equipamento artesanal, feito com papelotes e sementes de feijão no formato Braille para o uso com os pés.
Mas a forma rudimentar do artefato colocou algumas limitações para os jovens identificarem as partituras mais complexas.
Por conta disso, o professor de música procurou o Espaço 4.0, um laboratório Maker no campus do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), em Arapiraca.
Com o apoio da professora de Eletrônica e coordenadora do Laboratório de Tecnologia, Renata Pereira, no final do mês de outubro deste ano, o invento foi aperfeiçoado e criada
uma versão aprimorada da ferramenta pedagógica para aulas de piano a pessoas com deficiência visual.
Batizado de “TouchBraille”, o dispositivo foi criado a partir do corte a laser de fibra de madeira (Medium Density Fiberboard), popularmente conhecida como MDF, e os pontos em relevo do Braille, que representam as letras das notas musicais, criados na impressora 3D do laboratório com plástico resistente.
Renata Pereira revela que as peças modulares, feitas por meio da cortadora a laser e de impressora 3D, foram projetadas com o apoio da estudante Anne Karolyne, que é aluna do curso de Sistemas da Informação e monitora no Espaço 4.0 no campus do Ifal em Arapiraca, e do professor Daniel Ferreira, que leciona na rede municipal de ensino, no povoado Canaã.
A criação dos módulos individuais está permitindo agora uma performance jamais vista na educação musical de teclado para pessoas com deficiência visual.
Cada módulo permite o encaixe com outras peças, criando novas partituras musicais para o teclado, de acordo com a vontade do professor ou do próprio aluno.
A professora de Eletrônica e coordenadora do Laboratório de Tecnologia do Ifal/Arapiraca, Renata Pereira, reforça a importância da criação da nova ferramenta pedagógica para a educação musical de pessoas com deficiência visual.
“Ficamos felizes em contribuir com esse projeto que o professor Leandro executa com tanta dedicação. Nosso intuito é expandir a ideia cada vez mais longe, para que a tecnologia chegue a quem precisa, trazendo esperança e autonomia às pessoas com deficiência visual", frisa.
Signos
Um detalhe que chama a atenção nas peças é a colocação das letras C, D, E, F, G, A e B nos diferentes módulos. O professor explica que os alunos fazem duas leituras nas peças.
“Na primeira, é a letra em Braille, e a segunda leitura é para o estudante identificar a letra ou nota de cada música na partitura. Tem, então, as sete notas musicais”, acrescenta Leandro Teyller, parabenizando o capricho e os detalhes produzidos na ferramenta pedagógica para os alunos com deficiência visual.
“Nunca na minha vida pensei em trabalhar com uma coisa tão extraordinária assim. Quando o aluno coloca o pé no módulo, ele automaticamente vai conseguir sentir a partitura com maior sensibilidade”, pontua Leandro Teyller, que é professor na Escola Municipal de Artes, que funciona como Centro de Apoio para Escolas em Tempo Integral em Arapiraca.
Recentemente, o prédio passou por completa reestruturação para atender os jovens que desejam aprender aulas de música, balé, artes visuais, entre outras atividades artísticas e culturais. Leandro Teyller também leciona na Escola Estadual Francisco Domingues, na cidade de Limoeiro de Anadia.
Tecnologia a serviço da inclusão social
“Os alunos ficaram muito felizes com a invenção. É tudo perfeito. Além disso, o kit vai gerar mais autonomia para eles. Aonde quer que vá, o aluno poderá colocar as peças em uma pequena maleta e montar a sequência dos módulos conforme a música desejada”, destaca o professor.
Entre os alunos satisfeitos com a criação do invento, José William e José Xavier, ambos com 21 anos de idade, já iniciaram os testes e aprovaram o dispositivo. Os dois jovens são alunos da Escola Estadual Francisco Domingues, na cidade de Limoeiro de Anadia.
Emocionado, José William expressa a alegria de, finalmente, conseguir tocar piano graças à iniciativa do professor Leandro Teyller e do grupo de tecnologia do Espaço 4.0 do Ifal.
“O invento está permitindo que estudantes com deficiência visual tenham mais acesso à educação musical inclusiva de forma única e criativa”, argumenta o professor Daniel Ferreira, colega e parceiro de Leandro Teyller.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que, no estado de Alagoas, 27% das pessoas ter algum tipo de deficiência. Entre as deficiências declaradas, a mais comum foi a visual, com 4,3% da população. Desse total, 0,22 das pessoas com cegueira ou baixa visão.
A cegueira é considerada a perda total ou a baixíssima capacidade de enxergar, e tal condição leva o indivíduo a precisar do Sistema Braille como um método de leitura e escrita.
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