Interior
Marca de Conversa: 'Arapiraca precisa ser redescoberta', diz historiador em podcast
Daniel Alves, vulgo Zé de Quinô, explanou sobre a necessidade de o povo de Arapiraca-AL conhecer mais sua própria história
Em conversa franca no podcast alagoano Marca de Conversa, o historiador, poeta e professor Daniel Alves, vulgo Zé de Quinô, explanou sobre a necessidade de o povo de Arapiraca-AL conhecer mais sua própria história. Nesta segunda-feira (30), a cidade fez 99 anos de Emancipação Política.
Durante a entrevista, ele falou sobre seus anos como vendedor de prestação até se formar na Universidade Estadual de Alagoas (Uneal) campus Arapiraca.
No episódio, foi traçado sobre sua vida, lutas, paixões e, claro, sua história. A história de um historiador é sempre muito importante, também.
Zé diz de onde veio esse apelido carinhoso e também do bairro de onde saiu, com pouco acesso à Educação e à Cultura. Dentro disso, está o seu chão, o lugar onde nasceu: a cidade de Arapiraca, aqui no coração do Agreste alagoano.
“Foi para isso que montamos o Marca de Conversa — para ouvirmos as pessoas e, assim, ajudarmos a ampliar a biografia de onde estamos”, diz Paulo Victor Brito, host do programa, que já está na metade de sua temporada de estreia.
A dissertação de mestrado (UFS) de Zé de Quinô teve o título “Arapiraca no Estado de Alagoas: História, Discurso e (Arte)Fatos na Invenção da Terra do Fumo (1950-1990)" e revela seu profundo conhecimento — e afeto — sobre a região agrestina.
“A nossa cidade precisa ser redescoberta. Sabemos apenas uma versão propagada em livros e histórias em quadrinhos sobre esse local: de que Manoel André ‘descobriu’, 'fundou' a cidade. Ele, na verdade, recebeu a tarefa de explorar a terra comprada pelo seu sogro, vindo diretamente de Cacimbinhas. Nada além disso. Não há esse romantismo de ele ter se sentado ao pé de uma árvore arapiraca e dito que descansaria ali, fazendo daquele lugar a sua morada. Ele avistou o espaço, chegou à terra e montou casebres iniciando uma vila, vinculada à Limoeiro de Anadia. Há outra versão que traz Arapiraca surgindo com os pescadores da Perucaba e pouco gente fala sobre isso”, pontua o historiador.
Confira o episódio na íntegra:
MUITA HISTÓRIA
Há outras histórias, ainda, em paralelo. Pouco antes da chegada de Manoel André, em 1848, já havia gente em Arapiraca. Isso foi repercutido na conversa, fato trazido pelo outro host do programa, Breno Airan.
É o caso, por exemplo, do Carrasco, onde data-se a presença de pessoas nos idos de 1802. Há relatos nessa comunidade remanescente de quilombo de que a Festa de Santa Luzia já acontecia por lá desde esse ano.
Naquele início de século, o 19, quem mandava nas terras do Carrasco era uma capitã chamada Antônia Rosa, que recebia ordens diretas de Portugal. As mucamas dela vieram de Angola, como a Bilinda, uma das pessoas que foram escravizadas. Ela teve uma filha, que se casou e teve 18 filhos. Segundo a presidente da Associação de Desenvolvimento da Comunidade Remanescente de Quilombo do Carrasco, Genilda Queiroz, o Carrasco começou assim.
Na época do florescer da tradicional Feira Livre de Arapiraca — depois considerada uma das maiores do Nordeste —, as pessoas que moravam no Carrasco (filhos das pessoas escravizadas, já em etapa de libertação) levavam potes de barro para comercializar lá.
Tudo isso é levantado durante o papo entre Zé de Quinô e os hosts do Marca, uma conversa enriquecedora, repleta de conhecimento, poesia e causos fascinantes.
IMPRESSÕES
No YouTube, uma das plataformas onde o episódio com Zé de Quinô já está disponível, há alguns comentários:
* “Valorizar nossa terra, nosso povo e nossa cultura é honrar a nós mesmos”, comenta a profissional de Educação Física, Michelly Leite.
* “Zé de Quinô é um personagem com uma história muito potente e essa conversa ainda há de reverberar por muito tempo”, ressalta o roteirista e professor de Teologia, Vitor Souza.
* “Que episódio sensacional! Estão de parabéns! Que aula sobre Arapiraca!”, exclama o designer Victor Hugo, um dos apoiadores do programa.
Para o historiador arapiraquense Zé de Quinô, cabem aos atuais alunos e alunas do curso de História seguirem esses passos, a partir de uma curiosidade inata, para entender melhor o lugar onde brotamos, para que então os vários conhecimentos e ângulos sobre Arapiraca possam fazer uma real sombra acolhedora, sobre todos e todas nós — sem exceção.
Ele próprio é um exemplo, tendo entrado tardiamente na faculdade, mas encarando que só há futuro com a Educação. Hoje, tem muita história de superação para contar.
DEIXANDO MARCA
O Marca de Conversa é capitaneado pelo farmacêutico Paulo Victor Brito e o jornalista Breno Airan Brito, com produção de ambos juntamente com o designer Riann Karlo Brito. Além da vontade de criar um espaço de memória e diálogo para Arapiraca se conhecer melhor, o sobrenome os une; eles são primos.
O podcast pode ser conferido no Youtube e Spotify, com incidência mensal, contando com apoio cultural da A5VC; Arapiraca Podcast; Arko; Ateliê Savana; Breja em Casa; Vinisso Fotografia & Audiovisual; e Vitoug Designer.
O Marca está em sua primeira temporada, já rumando os 100 anos de Arapiraca em 2024.
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