Interior

Família de Davi Hora acredita no poder da Justiça e aguarda condenação de réu

Defesa alega que tiro foi acidental, mas laudo da perícia confirma que Rodolfo Amaral atirou com intenção de matar

Por Texto: Sidinéia Tavares com Assessoria 22/09/2018 08h25
Família de Davi Hora acredita no poder da Justiça e aguarda condenação de réu
Reprodução - Foto: Assessoria
A casa da mãe ainda abriga imagens de garoto sorridente, cheio de energia, que teve o direito a vida retirado aos 18 anos. Davi Hora Barros Omena foi assassinado no dia 23 de junho de 2005, pelo colega de escola, Rodolfo Câmara Amaral, quando estavam retornando do tradicional “São João de São Miguel”. Após 13 anos do crime, Rodolfo Amaral vai sentar no banco dos réus, em um júri popular, no Fórum de São Miguel dos Campos. O julgamento ocorre na próxima segunda-feira, 24, às 9 horas, e será presidido pelo Helestron Silva da Costa, titular da 4ª Vara Criminal da Comarca. Em entrevista, a família de Davi afirma que, apesar de não apagar a dor da perda e da saudade, acredita na justiça e espera que neste julgamento ocorra condenação do réu por homicídio doloso. Resultado diferente do que ocorreu em 2014, quando o réu foi absolvido. Em dezembro do mesmo ano, a Câmara Criminal do Tribunal de Justiça anulou o julgamento, entendendo que a decisão dos jurados foi contrária às provas do processo. "Nossa expectativa é que desta vez possamos concluir esta etapa. A gente precisa da Justiça para encerrar este ciclo de muita dor. É muito difícil retomar a vida com a perda de um filho e a cada julgamento, em cada momento que falamos sobre esse caso, relembramos o pior dia de nossas vidas. O dia em que Davi foi assassinado”, declarou Valéria Hora, mãe de Davi. Davi foi assassinado após tentar convencer Rodolfo a não dirigir embriagado. No carro havia a vítima, o acusado e Petrúcio Soares Filho, que estava no banco traseiro. O réu se recusou, dizendo “Eu vim dirigindo, vou voltar dirigindo”. Davi teria, então, dito: “Se ele me matar, eu volto para pegar ele”. Rodolfo teria replicado: “Tu mata ninguém, gordinho”. Momento em que sacou a arma, uma pistola 635, e disparou um tiro a queima roupa, na cabeça de Davi. A vítima chegou a ser encaminhada ao Hospital Geral do Estado (HGE) e, posteriormente a um hospital particular, mas já havia sido constatada sua morte cerebral. Valéria Hora relembra os últimos momentos que passou com o filho e conta que no dia do crime estava bastante apreensiva. Foi ela que pediu ao filho para não deixar o colega dirigir embriagado. “Os amigos do meu filho viviam na minha casa, eu conhecia a família toda. A minha questão quando Davi falou que iria para São Miguel, e quem iria dirigindo seria o filho do Amaral Joia, eu falei que não sabia quem era esse menino, que não estava gostando disso. Falei para Davi: Não sei se ele bebe, não sei que tipo de comportamento ele tem. Mas o Davi me pediu para confiar, então eu disse que pelo amor de Deus, se o Rodolfo bebesse não deixasse ele voltar dirigindo. Até porquê, Davi só chamou ele para dirigir o meu carro, uma vez que a carteira de motorista de Davi não havia chegado”. Valéria ainda completa afirmando achar uma falta de respeito, a afirmação da defesa, quando diz que Rodolfo estava “brincando”. “Portar arma não é brincadeira, atirar na cabeça de uma pessoa não é brincadeira. É crime. Acho que é um absurdo, um termo agressivo dizer que estava brincando enquanto eu perdi meu filho”. Outro ponto contestado pela família de Davi é a afirmação da defesa que houve disputa pela arma. “A defesa tenta inverter os papeis, e culpar a vítima. Não houve disputa pela arma, no exame de perícia apontou que Davi não tinha pólvora nas mãos e o percurso da bala, mostrando que claramente que foi um homicídio doloso. O advogado de defesa, no júri passado, questionou o resultado da perícia. Como um advogado não pede um segundo exame pericial e questiona um parecer médico?”. Apesar do crime, Rodolfo Amaral passou apenas 15 dias detido. Desde então, ele responde o processo em liberdade. Em 2014, ele negou a prática do crime, dizendo que o disparo foi acidental, argumento que vai de encontro ao documento apresentado pelo Instituto de Criminalística, que caracterizou o crime como homicídio doloso, baseado no artigo 121 do código penal. “Se foi acidente, se foi um homicídio culposo, por que ele não socorreu meu filho? Por que ele jogou a arma? Além disso, o rapaz não tinha porte de arma. Viajou dirigindo nosso carro, foi para uma festa armado, bebeu, tentou dirigir embriagado e ainda atirou contra o meu filho. Ele tem que ser responsabilizado pelos riscos que assumiu. Se não houvesse uma arma naquele momento, meu filho estaria vivo”, desabafa. Segundo o testemunho Petrúcio Soares Filho, anexado no processo contra Rodolfo, o réu teria efetuado disparos para o alto, antes do show, quando estavam viajando para a cidade de São Miguel. “Cada vez que passamos por essa luta, para provar que houve a intenção do réu matar nosso filho, me sinto mais desprotegido, angustiado. Estamos há 13 anos lutando por justiça. Como uma pessoa comete um crime e não assume as responsabilidades sobre ele? Por isso, esperamos que o julgamento de segunda-feira seja definitivo. Que haja justiça”, encerra Luiz Omena Filho, pai de Davi Hora.