Interior

Velho Chico: imagens mostram baixo nível do rio que expõe bancos de areia

CBHSF diz que assoreamento e baixa defluência contribuem para problema

Por Lucas França com Tribuna Independente 18/07/2018 07h59
Velho Chico: imagens mostram baixo nível do rio que expõe bancos de areia
Reprodução - Foto: Assessoria
As imagens feitas pelo fotógrafo Felipe Sena e postadas em um grupo de WhatsApp de jornalistas chamaram atenção para o nível tão baixo do Rio São Francisco em um trecho localizado na Ilha do Ouro, próximo a Belo Monte, Alagoas. A reportagem da Tribuna Independente entrou em contato com o Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF) para saber se estão cientes e atentos sobre o caso e a assessoria de comunicação da entidade disse que estão em constantes contatos com a Agência Nacional das Águas (ANA). “Esse problema acontece devido ao assoreamento provocado pelo Rio Ipanema, que traz água e muita areia e pedras de Pernambuco. O nível baixo do São Francisco nessa região se deve a esse assoreamento e, também, à baixa defluência do rio. A ANA tem conhecimento não apenas desse quadro, mas de situações semelhantes em outras áreas do Velho Chico. Quinzenalmente, acontece uma videoconferência com a Agência, na qual são discutidas as condições hidrológicas da bacia e esse é um dos temas discutidos nesses encontros”, explicou a CBHSF. A CBHSF disse que apesar do rio está muito abaixo do nível normal não é possível atravessar a pé de Alagoas para Sergipe, porque tem um canal ainda muito largo no Rio. A questão foi levantada por conta das imagens que mostram muitos bancos de areia. A CBHSF também confirma que a atual situação do rio tem tudo a ver com as constantes vazões praticadas. “A defluência praticada em Xingó é de 600m³/s, mas já chegou a 500m³/s nos períodos mais críticos”. Pelas imagens dá para notar que as consequências do assoreamento no Rio Francisco são visíveis. Mesmo distante dá para observar os bancos de areia no leito do Velho Chico até mesmo quando a maré está cheia. Segundo informações de moradores da região, o problema atrapalha a principal atividade dos ribeirinhos: a pesca. O Rio São Francisco tem cinco Hidrelétricas fora os pontos de capacitações de água, para os pecadores da região. Isso também influência no assoreamento que vem prejudicando. O presidente da Colônia de Pescadores de Penedo, Alfredo Fernandes disse que o setor da pesca na região está prejudicado. “Muito prejudicado, falta de ‘enchentes [planta que nasce na margem do rio], muita vazão nos últimos tempos”, disse. Em 2017, Alfredo Fernandes já havia dito em entrevistas para sites locais que o período do defeso, quando a pesca é proibida, passou de 60 para 120 dias. “A dificuldade é grande por conta do rio estar baixo e não ter força. A gente coloca uma rede e o rio não tem força de arrastar. Ele fica prendendo no mato, no lodo, porque a pouca força da água faz com que dificulte a pesca para o pescador”, comentou Fernandes para um site local. Bacia atravessa longo período de estiagem   A reportagem entrou em contato com a ANA e, em resposta, o órgão explicou que a bacia do rio São Francisco, assim como praticamente toda a região Nordeste, vem atravessando um período prolongado de estiagem. Desde 2012, vêm sendo registradas precipitações abaixo da média, que levam à ocorrência de vazões também abaixo da média, tanto no período chuvoso como no período seco. [caption id="attachment_117714" align="aligncenter" width="600"] (Foto: Felipe Sena/cortesia)[/caption] “A Ana monitora continuamente a situação da bacia do São Francisco e divulga esse acompanhamento por meio de Boletins Diários, disponíveis no site da agência. Ainda, fazemos o monitoramento da situação de seca na região por meio do Monitor de Secas do Nordeste e acompanhamos o nível dos reservatórios por meio do Sistema de Acompanhamento de Reservatórios. Esse conjunto de informações permite planejar a atuação da agência e de outras entidades responsáveis por minimizar os impactos da seca prolongada sobre a população”, ressalta. Assoreamento causa transtorno para ribeirinhos   O problema do assoreamento no Velho Chico, não é apenas para os pescadores. Os moradores ribeirinhos, que estão acostumados com a abundância de água, embarcações lotadas de turistas, têm outras preocupações e não é de hoje. Em novembro de 2016, a diretora da Rádio Penedo FM 97.3 Marta Martyres, disse que o reflexo da situação não é nada animador e implica problemas inclusive para as embarcações que chegam a ficarem “ilhadas” ou têm suas hélices quebradas no reboco de areia. “Para nós, acostumados a tomar banho no rio e ver a imensidão das águas e o vai e vem de embarcações, pessoas, pescados é muito triste assistir a tudo isso”. O problema da baixa vazão do rio, do assoreamento, da poluição e desmatamento no leito do rio é caso de estudo e divide muitas opiniões. No artigo “Meu Velho Chico um rio pede socorro”, de Andrea Zellhuber e Ruben Siqueira, publicado em 2009, os autores retrataram a força do Velho Chico. Em um trecho do artigo, eles comentam que “O Rio São Francisco, pode-se dizer, é um milagre da natureza, pois faz o capricho de correr ao contrário e se estende do Sul mais baixo para o Norte mais alto, devido à falha geológica denominada ‘depressão sanfranciscana’. Isto o torna muito vulnerável, pois a declividade (média 7,4 cm por km) na maior parte de sua extensão, justamente a que recebe poucos afluentes, favorece o desbarrancamento e o assoreamento”. Além desse estudo, outros autores como Ariano Suassuna citam o Velho Chico e exaltam suas preocupações com a seca em vários pontos do Rio.