Interior
Educação ambiental e reflorestamento trazem vida à reserva da Mata Atlântica
Reserva conta com 50 quilômetros de extensão entre Alagoas e Pernambuco
Verde para os quatros cantos, a se perder de vista. Pássaros cantando nas frondosas copas das árvores. Rios de águas calmas que, vagarosamente, escorrem mata afora, levando vida por onde passam. Um verdadeiro santuário para a vida silvestre. Um cenário de tirar o fôlego para o visitante que tem a oportunidade de conhecer de perto esse pedacinho do paraíso.
Esse lugar tem nome e sobrenome: Reserva Biológica Federal de Pedra Talhada, pertencente ao bioma Mata Atlântica. Com 50 quilômetros de extensão entre Alagoas e Pernambuco, ela abrange os municípios de Quebrangulo, Chã Preta, Lagoa do Ouro e Correntes.
Hoje, com tal dimensão, é considerada um dos últimos resquícios florestais atlânticos em toda a região Nordeste. O que só é possível graças ao árduo trabalho da Associação Nordesta de Reflorestamento e Educação Ambiental, que vem desenvolvendo projetos de preservação da floresta e, com isso, combatendo a degradação e devastação ao meio ambiente.
Segundo a Associação, a riqueza de espécies do reino animal e vegetal na região se dá por três fatores: o tipo de relevo, que permite a diversidade da fauna e flora, que contém uma altitude de mais de 900 metros entre o fundo dos valões e o topo rochoso, seguido da localização geográfica no ponto de convergência dos ecossistemas Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga, os dois últimos típicos do Nordeste. Além da abundância de água fornecida por mais de 160 nascentes que formam riachos e brejos.
Nordesta plantou mais de 2.000.000 de árvores para minimizar efeitos causados pela devastação no local. (Foto: Arquivo/Nordesta)
Resgate da reserva
Em 1988, a associação implantou o primeiro viveiro no município de Quebrangulo, Agreste alagoano, o qual, atualmente, é considerado de alta tecnologia e conta com quase 300 mil mudas de 50 espécies de plantas nativas diferentes.
Apenas em território alagoano, a Nordesta já plantou mais de 2.000.000 de árvores para minimizar os efeitos causados pela degradação e devastação do meio ambiente.
Além das árvores que já foram plantadas, a associação está fazendo um corredor florestal que liga vários fragmentos de mata à reserva de Pedra Talhada, onde às árvores foram plantadas, para tirá-la do isolamento.
O projeto deu tão certo que ganhou um efeito multiplicador em 14 estados do País que passaram a ter viveiros, registrando plantio de cerca de cinco milhões de árvores em todo o Brasil.
No entanto, quando o projeto chegou ao município, havia um forte declívio às margens do rio Paraíba e isso estava colocando em perigo a população ribeirinha com risco de desmoronamento, que podia modificar o percurso do rio.
De acordo com o engenheiro agrônomo e coordenador regional da associação, Rodrigo Guimarães, o reflorestamento da Reserva Biológica de Pedra Talhada se deu através de plantas nativas do bioma Mata Atlântica, uma vez que ela estava sendo devastada na região.
“Criamos um viveiro no local e começamos o reflorestamento desta vertente. Até hoje, estamos dando continuidade a este projeto plantando mudinhas de cipoeiras, árvores nativas e flores nativas para atrair os animais também desse bioma”, destacou Guimarães.
Na reserva, pesquisadores e taxonomistas, parceiros da associação, já catalogaram 2.100 espécies de plantas e animais. Também foram descobertas numerosas espécies endêmicas ou em perigo de extinção com a expectativa de novas descobertas. Essas espécies podem ser vistas no livro científico intitulado como “Biodiversidade da Reserva Biológica de Pedra Talhada: Alagoas, Pernambuco, Brasil”, lançado em maio de 2016.
Guimarães destacou ainda a importância da implementação de viveiros e o manejo como sendo essenciais no cotidiano do trabalho e o quanto eles ajudam na preservação: “Os viveiros servem para o melhor conhecimento das técnicas do plantio de árvores nativas. Geralmente, nós semeamos mais de 40 espécies de árvores provenientes de sementes colhidas na região do viveiro. Eles também são um ponto de partida para a divulgação de dados ligados à ecologia das florestas, como manter a biodiversidade, reduzir a erosão, proteger os solos e ajudar no aumento do volume das nascentes de água”, explicou.
Além disso, o projeto leva a educação ambiental para os moradores próximos às áreas da mata, para que eles conheçam a importância de preservação e se tornem verdadeiros guardiões da floresta, evitando a degradação e a destruição do meio ambiente.
A associação também realizou percursos a pé, colocando placas de sinalização e identificando árvores.
Em 2010, foi reforçado o plantio de espécies nativas durante a época de chuva e, devido a isso, já é possível notar uma grande diferença. A mata, antes devastada, ressurgiu, voltando a ocupar o seu lugar, protegendo as margens dos rios.
Desmatamento em dados
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), o Brasil possui 516 milhões de hectares de florestas compostas, em sua maior parte, por áreas destinadas a reservas extrativistas, de desenvolvimento sustentável, de proteção ambiental, conservação e terras indígenas. E toda essa área somada é equivalente a 60,7% do território nacional.
Porém, ainda não se trata todo esse mérito como orgulho nacional, principalmente porque cerca de 20 mil quilômetros quadrados dessa vegetação nativa são desmatados por ano em consequência de derrubadas e incêndios, segundo mostra os dados do IBGE. O número de desmatamento cresce a cada novo levantamento, comprovando que a destruição gerada tem afetado ecossistemas e todas as riquezas naturais das florestas.
A situação se agravou nas últimas décadas. Estudos recentes mostram que o desmatamento já alcançou 90% das terras das florestas brasileiras. Como não se trata de um fator isolado, o efeito dominó fez com que as bacias de captação da água dos rios ficassem fragilizadas, acelerando os processos de desertificação erosão.
Para tentar mudar esse quadro, civis e estudiosos de vários campos científicos têm unido esforços com a criação de Organizações Não-Governamentais (ONGs) e Associações para trabalharem a educação ambiental e reflorestamento como mecanismos de conscientização. Um exemplo é a Associação Nordesta, que leva a educação ambiental e a sustentabilidade para vários estados do País.
Efeito multiplicador
Para os coordenadores e voluntários da Nordesta, não é apenas plantar árvores em uma área de mata e pronto, é necessário também ensinar aos moradores da região sobre a importância da biodiversidade para que eles continuem se preocupando com o ecossistema.
Moradores do entorno da reserva participam do manejo de mudas em um viveiro. (Foto: Arquivo/Nordesta)
E, para ajudar nessa conscientização, a equipe criou alguns projetos que incentivam os moradores no entorno da reserva a continuarem apoiando e participando.
“Os programas de conscientização implantados pela associação Nordesta, através dos meios de comunicação como rádios comunitárias, exposições, palestras nas escolas, materiais didáticos e cursos para ensinar no manejo das mudas, ateliês de costuras para as mulheres da comunidade fazem grande sucesso entre os moradores da região e eles estão aprendendo como ajudar a contribuir com o ambiente”, pontuou Rodrigo.
Maria dos Santos mora próximo à reserva e aprendeu como fazer o manejo das mudas e atualmente faz parte do projeto do ateliê de costura que ajuda na garantia de renda para algumas famílias. Ela disse que o projeto, além de ser importante para a natureza, é importante para toda a humanidade que vai ter um ar fresco e uma mata bonita cheia de seres vivos. “Com a associação, os moradores aprenderam sobre a importância da natureza”, expôs.
Luiz Filho também faz parte de vários projetos de educação ambiental e sustentabilidade realizado pela associação. Ele disse que já perdeu as contas de quantas árvores plantou. “Todos os projetos da associação são importantes tanto para o meio ambiente quanto para nós. Estou na associação desde a fundação, fui um dos primeiros voluntários. Até perdi as contas de quantas árvores plantei. Também já viajei para outros estados onde a Nordesta atua levando informações e buscando aprimorar os conhecimentos para ajudar ainda mais o nosso bioma”, contou.
“São ações como essas, associadas a outras tantas que demonstram que o conceito de meio ambiente sustentável é muito mais do que um jogo de palavras e que preservação é de responsabilidade de todos nós. A Associação Nordesta é uma instituição reconhecida pela utilidade pública em defesa do desenvolvimento sustentável e da educação no Brasil, que vem desenvolvendo projetos de preservação da floresta para comunidades localizadas em áreas próximas às reservas florestais e todos os nossos projetos são em prol da sustentabilidade. Nós vamos continuar trabalhando para mudar a realidade das nossas florestas”, expôs o coordenador.
Projeto leva a conscientização sobre a importância do meio ambiente para a comunidade. Na foto, Rodrigo Guimarães (primeiro da esquerda) participa de entrega de cisterna no local. (Foto: Arquivo/Nordesta)
Associação Nordesta
Fundada em 1985 pela doutora em ciências Anita Studer, a associação Nordesta, que tem sede internacional em Genebra, na Suíça, é uma entidade reconhecida de utilidade pública. Ela trabalha em prol do desenvolvimento sustentável e da educação no Brasil, desenvolvendo projetos de preservação da floresta e apoiando programas de conservação da biodiversidade e de educação ambiental. Além disso, desenvolve projetos com a meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão).
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