Esportes

Xadrez como ginástica da inteligência

Prática melhora a imaginação, a criatividade e a comunicação, além de desenvolver o raciocínio matemático e o pensamento crítico

Por Texto: Ana Paula Omena, com assessorias com Tribuna Independente 13/11/2021 09h03
Xadrez como ginástica da inteligência
Reprodução - Foto: Assessoria

O xadrez, - jogo de tabuleiro de natureza recreativa ou competitiva para dois jogadores, - traz uma boa mistura de esporte, arte, ciência, pedagogia, cultura e muito mais. Ele se enquadra em várias áreas do conhecimento, que fica até difícil dimensionar qual a disciplina se pode lecioná-lo. Atualmente existem professores de xadrez formados em diversas profissões do matemático ao educador físico, e se engana quem pensa que ele é exclusivo de pessoas inteligentes.

Jayme Amorim de Miranda Neto, presidente da Federação de Xadrez do Estado de Alagoas (Fexeal), explicou que o xadrez mexe muito com a questão cognitiva, melhorando a concentração, autoestima, tomada de decisão, raciocínio lógico, envolvendo todas as áreas do conhecimento.

“Nós temos enxadristas médicos, engenheiros, professores, então dizer que só é bom em xadrez quem é bom em matemática não passa de mito. O xadrez realmente muda o comportamento da pessoa no sentido de autocontrole, respeitar a opinião do outro, deixar de ser individualista, lhe deixando com uma sensibilidade muito maior, além de melhorar em vários aspectos que lhe dará uma capacidade para entrar em qualquer área”, ressaltou.

[caption id="attachment_478522" align="aligncenter" width="800"] Foto: Cortesia[/caption]

O representante da federação salientou também que nos lugares onde se pratica o xadrez social em bairros periféricos há uma redução da criminalidade, índice de gravidez. Isto é, se tem uma consciência maior de si, principalmente quando é adolescente porque o xadrez ensina ter muita disciplina.

“Nós chamamos de ginástica da inteligência que vai te ajudar a passar num concurso, entrar na faculdade. Temos vários enxadristas, vindos da periferia de Maceió e até da cidade de menores infratores, que conseguiram isso, que foram inseridos no mercado de trabalho”, contou.

Ele observou que o xadrez não é um esporte difícil e é um mito dizer que é para pessoas inteligentes. “Na verdade o xadrez requer um pouco mais de tempo do que outros jogos para você aprender suas estratégias e as suas táticas. Diferentemente do jogo de dama, que tem uma movimentação simples, e uma peça com movimento simples também, e a forma de captura, o xadrez tem seis peças com movimentos diferentes, alguns parecidos e que você precisa um pouco de tempo para entender as estratégias. Mas, quando você passa de certa fase, por exemplo, um ou dois meses de prática ele vai se tornando fácil”, garantiu.

Jayme reforçou que o xadrez requer um pouco mais de dedicação para poder conseguir entender e se querer levar à frente realmente como esporte. A dedicação será como qualquer outro esporte, seja basquete, vôlei, futebol. “É só treinar. No caso do Xadrez é estudar as jogadas, aberturas, problemas táticos, finalizações, mas é um esporte que existe realmente o mito de que ele é difícil e só para pessoas inteligentes”, mencionou.

[caption id="attachment_478520" align="aligncenter" width="450"] Foto: Cortesia[/caption]

“Por isso que algumas pessoas não querem nem chegar perto, mas quebrando essa barreira depois a pessoa vê que não é esse bicho de sete cabeças”, acrescentou.

Jayme Amorim de Miranda Neto destacou que o xadrez tem sido praticado também por socioeducandos e que estes vêm participando dos eventos da federação. “O xadrez serve na questão dos limites, das regras, então é muito bom essa prática e a federação apoia”, disse.

Atualmente existem mais de quatro mil atletas federados em Alagoas, mas o número é bem maior. De acordo com Jayme Amorim de Miranda Neto, o xadrez foi o esporte que mais cresceu na pandemia por estar ligado à tecnologia. “Hoje é possível jogar virtualmente”, lembrou.

“O tabuleiro é barato e de fácil locomoção. Inclusive as escolas particulares de Maceió já estão tendo aulas de xadrez, seja dentro da grade curricular ou como esporte e, no interior do estado, entrando como projeto. No município de Feira Grande, por exemplo, têm mais de mil alunos praticando o xadrez. A federação faz um evento grande todo mês, na pandemia parou, mas estamos voltando”, salientou.

[caption id="attachment_478521" align="aligncenter" width="600"] Foto: Cortesia[/caption]

Quem quiser aprender as aulas são gratuitas, de terça-feira e quinta-feira, das 14h às 17h, na sede da Fexeal, no Estádio Rei Pelé, Sala 10, no Trapiche da Barra.

Esporte muda a vida de jovens em privação de liberdade no Estado

No dia 21 de outubro, a Superintendência de Medidas Socioeducativas (Sumese), que é coordenada pela Secretaria de Estado de Prevenção à Violência (Seprev), promoveu o primeiro campeonato de xadrez após o retorno das atividades presenciais. A disputa contou com a participação de 10 socioeducandos, além de dois competidores de escolas particulares que são destaque em campeonatos estaduais.

O socioeducando C.A.S.S., de 18 anos, aprendeu a jogar xadrez dentro da Unidade de Internação e foi um dos finalistas do campeonato. Ele diz que encontrou no esporte uma paixão e ressalta que no xadrez não há espaço para sorte: é a estratégia e o raciocínio do competidor que fazem a diferença.

“É sempre bom participar de competições como esta, mas para ganhar é preciso ter cabeça, entender as jogadas do seu oponente e criar sua estratégia vencedora. É uma experiência muito boa, que ajuda muito o psicológico, porque a gente aprende muito, faz amizades e passa o tempo de forma produtiva”, comentou.

O supervisor de Esporte, Cultura e Lazer da Seprev, Thiago Santos, explica que o xadrez “além de trabalhar as habilidades cognitivas, a concentração e o raciocínio lógico, tem ajudado os adolescentes nesse momento de privação de liberdade, quando o emocional fica fragilizado.” O esporte de mesa também contribui para a formação cidadã do socioeducando, tornando-o mais acessível à construção de uma nova mentalidade e de novas perspectivas para o futuro.

Cássia Moreno, gerente de Desenvolvimento Integral da Sumese, ressalta o esforço das equipes da Sumese durante o período de pandemia e vê no retorno das atividades coletivas uma vitória a ser comemorada.

“Demos o pontapé inicial para o retorno ao ‘normal’, o que é muito gratificante para a equipe pedagógica e demais equipes da Sumese. Passamos por um ano de adaptação das atividades e de reforço humano buscando manter acesa no coração dos meninos a chama de que a mudança vale a pena é de que precisamos acreditar no amanhã”, afirmou.

Prática é aliada importante dos reeducandos durante a pandemia

Para amenizar os efeitos da pandemia da Covid-19, a Secretaria de Ressocialização e Inclusão Social (Seris) iniciou, no Núcleo Ressocializador da Capital (NRC), um projeto que estimula a prática do xadrez entre os reeducandos da unidade.

Há três meses, as aulas do projeto ‘Xadrez Transformando Vidas’ são divididas em teóricas e práticas, realizadas de acordo com a programação de trabalho dos reeducandos. Elas acontecem, geralmente, uma vez por semana. Além das aulas, os custodiados também são liberados para a prática diária do xadrez na unidade, utilizando os quatro tabuleiros disponíveis no Núcleo Ressocializador.

Os jogos utilizados para a prática do xadrez foram confeccionados pelos reeducandos que integram a oficina de marcenaria da Fábrica de Esperança, que funciona no complexo penitenciário de Maceió. “Um custodiado é responsável pelo processo de ensino das normas e regras do xadrez aos demais. O objetivo principal desta ação é reduzir, ainda que minimamente, os efeitos da pandemia diante do cotidiano dos reeducandos”, explica a supervisora de Educação, policial penal Rúbia Lira.

“O xadrez é um jogo fascinante. Alguns estudos científicos apontam que a prática do xadrez contribui para estabilizar as ondas cerebrais e, durante a pandemia, acaba sendo uma importante forma de ocupar o tempo, já que outras atividades rotineiras que os custodiados desenvolviam foram suspensas. Além disso, o xadrez desenvolve a concentração, fato que acaba refletindo na melhora do nível de aprendizagem do custodiado”, destaca o policial penal Tony Câmara, que supervisiona o projeto.

Ainda de acordo com o policial penal, a expectativa é que, muito em breve, um campeonato de xadrez seja realizado no Núcleo Ressocializador. Outra meta é expandir o projeto para outras unidades prisionais.

O reeducando J.C.C. participa do projeto há três meses. O custodiado, inclusive, já tinha experiência com o jogo, tendo sido campeão de torneio de xadrez realizado há dois anos, no mesmo Núcleo Ressocializador. Para ele, o xadrez assume um papel ainda mais importante durante a pandemia.

“Além de ser útil para o desenvolvimento mental, o jogo é uma forma de ocupar o tempo com coisas produtivas, pois, com a suspensão das visitas, a saudade dos familiares é grande”, disse.