Esportes
Paraquedista cai de 120m, é "dado como morto", e volta a saltar 362 dias depois
Erick Lima chegou a ficar 10 dias em coma e teve que reaprender a andar. "Ninguém faz ideia do sacrifício que foi o último ano. Eu posso olhar tudo e dizer que estou de volta", disse amazonense
O dia 15 de setembro de 2019 marcou o "renascimento" do paraquedista amazonense Erick Lira, na época com 34 anos. Lira saltou de uma antena telefônica, na modalidade "Base Jump" (o salto é feito de pontos físicos, e não de aviões), só que o paraquedas não abriu. Resultado: ele caiu de uma altura de quase 120 metros, mas teve a queda amortecida ao bater num fio de alta tensão.
Para piorar: o salto foi feito no km 214 da AM-010, rodovia que liga Manaus ao município de Itacoatiara, distante cerca de 275 km da capital amazonense. Ou seja: no meio do nada e sem sinal de telefone celular para pedir socorro.
- Fez um barulho da explosão de quando bateu no fio do rompimento da rede elétrica. Nessa hora a gente pensou: "o Erick morreu, ou pela queda ou pelo choque" - disse Tito Ribeiro, um dos amigos que acompanhava Erick na ocasião.
Só que Erick não morreu. Pelo contrário. Apesar do salto frustrado e risco eminente de morte, a sorte resolveu virar a seu favor. Mesmo a 50 km do município mais próximo, que no caso era Itacoatiara, eis que uma ambulância - ocupada com um passageira e que estava em seu trajeto para Manaus - passou pela estrada. Desesperado, outro amigo que acompanhava Lira, Dênis Sena, acenou para o veículo.
Os paramédicos, a princípio, ignoraram o chamado, mas não por muito tempo. Ao perceberem a gravidade da situação, simplesmente alteraram a rota. Retiraram a paciente que estava na maca, colocaram Lira em seu lugar e retornaram com pressa para Itacoatiara. De lá, o paraquedista foi atendido inicialmente num hospital local e, em seguida, conduzido de avião para Manaus.
"No momento passou uma ambulância. Foi o Tito que viu a ambulância. No desespero, ele caiu do barranco, fazendo sinal de parada. A ambulância não parou. Eu tive a reação de sair correndo atrás da ambulância também. Aí ela viu a gravidade e parou" - Dênis Sena, amigo de Erick Lira. As consequências e a recuperaçãoAs consequências da queda foram graves: fêmur da perna esquerda quebrado em sete partes, cinco costelas quebradas, fissura na coluna cervical e politraumatismo craniano. E as piores fraturas foram do lado direito: braço, punho, joelho e tornozelo. Ele ficou 10 dias em coma.
O caso era tão grave que a neurologista Drielle Sales revelou que raramente o paciente volta a acordar em situações como essas. Foi tudo tão surreal que até mesmo sua esposa, Evelyn Lira, mostrou pouca esperança no "milagre". Mas ele lutou, ganhou alta médica e voltou para casa após um mês. Só que era quase outra pessoa, tão diferente que a filha do casal quase não o reconheceu.
- Para mim ele estava morto. Ele saiu cabeludo, com o cabelo na altura do ombro, barbudo e voltou para casa um mês depois careca, sem barba e muito magro - disse.
O esforço por novos voosA volta para casa foi só o primeiro passo de uma luta diária para voltar a saltar. Dois meses depois da queda, Erick já havia deixado a cama e ido para cadeira de rodas. Em quatro meses, voltou a andar. Dali para frente, cada etapa o aproximava do objetivo final: saltar novamente. E o ciclo foi concluído exatos 362 dias depois.
No dia 11 de setembro de 2020, agora saltando do avião e cercado de amigos, incluindo até mesmo o presidente da Confederação Brasileira de Paraquedismo, Breno Melo, Erick tornou seu sonho realidade: "Ninguém faz ideia do sacrifício que foi o último ano".
"Sobreviver a essas dores era a consciência constante e inabalável de que eu ia voltar a andar. De que eu ia voltar a voar. Ninguém faz ideia do sacrifício que foi o último ano. Eu posso olhar tudo e dizer que estou aqui, estou de volta" - Erick Lima.Mais lidas
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