Esportes
Provas do "Caso Fifa" chegam ao Brasil, que inicia investigação própria
Autoridades paraguaias enviam ao Brasil documentos apreendidos na sede da Conmebol; Ministério Público Federal vai apurar se houve crime cometido por brasileiros
A CBF, dirigentes de clubes da elite do futebol brasileiro e empresas de marketing esportivo que têm ou tiveram relação comercial com a Conmebol são os alvos de uma recém-iniciada investigação do Ministério Público Federal, com base em documentos enviados ao Brasil por autoridades do Paraguai. A investigação está sob sigilo.
Em janeiro de 2016, a pedido dos EUA, o Ministério Público do Paraguai fez uma operação de busca e apreensão na sede da Conmebol, em Assunção. O material recolhido foi enviado para o Tribunal Federal do Brooklyn, em Nova York, onde corre o "caso Fifa" – que tem três cartolas brasileiros entre os indiciados: o atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, e seus antecessores José Maria Marin e Ricardo Teixeira.
Após mais de um ano de negociação, chegaram ao Brasil dezenas de caixas contendo contratos, comprovantes de depósitos bancários, escrituras, anotações, trocas de correspondência e inúmeros arquivos digitais com informação sobre a relação de brasileiros com a Conmebol. Manuel Doldán Breuer, promotor de Assuntos Internacionais do Paraguai, confirmou ao GloboEsporte.com a conclusão da cooperação com o Brasil.
José Maria Marin, Nicolas Leoz e Juan Ángel Napout: todos presos (Foto: AFP)
O material chegou à Procuradoria-Geral da República, em Brasília, que o redistribuiu para procuradores em cinco estados: Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Eles vão avaliar se há indícios de crimes cometidos por brasileiros. Em junho do ano passado, o GloboEsporte.com revelou que documentos apreendidos na Conmebol quase apodreceram embaixo de uma goteira no prédio da entidade.
O "Caso Fifa", que estourou em 2015 com a prisão de José Maria Marin e vários outros dirigentes, mostrou que a Conmebol estava no centro da corrupção do futebol mundial: seus últimos três presidentes – Nicolas Leoz, Eugenio Figueredo e Juan Angel Napout – estão presos.
A atual administração da confederação pediu ao Ministério Público do Paraguai que investigue desvios de quase US$ 130 milhões cometidos por seus ex-presidentes. Há ainda uma apuração em curso no Uruguai, onde Eugenio Figueredo está preso. Agora chegou a vez do Brasil.
Marco Polo Del Nero é acusado de corrupção nos EUA (Foto: Reuters)
Parte do material enviado ao Brasil será usada por promotores americanos contra o ex-presidente da CBF José Maria Marin, o ex-presidente da Conmebol Juan Angel Napout, e o ex-presidente da federação peruana Manuel Burga. Entre os 27 acusados no "caso Fifa" que cumprem prisão domiciliar nos EUA, eles são os únicos que se dizem inocentes, não colaboram com a justiça e estão dispostos a enfrentar julgamento – marcado para o dia 6 de novembro.
Marin é acusado de receber propina para beneficiar empresas de marketing esportivo em contratos da CBF e da Conmebol. Marco Polo Del Nero e Ricardo Teixeira são acusados dos mesmos crimes. Em documento tornado público neste mês, promotores americanos afirmaram:
Governo dos EUA diz que vai provar o recebimento de propina por parte de cartolas brasileiros (Foto: Reprodução)
A defesa de Marin afirma que ele é inocente. Por meio da assessoria da CBF, Del Nero sustenta que "não existe e nem existirá qualquer prova" que o incrimine. A defesa de Ricardo Teixeira afirma que só vai se manifestar depois de ser comunicada formalmente do caso, o que ainda não ocorreu.
A investigação recém-iniciada pelo MPF com base nos documentos apreendidos no Paraguai junta-se a outra, que vai começar a partir do pedido de prisão de Ricardo Teixeira na Espanha. O ex-presidente da CBF é acusado de formar uma associação criminosa com Sandro Rosell, ex-presidente do Barcelona, para lavar dinheiro obtido ilicitamente.
Eles teriam, sempre segundo a acusação espanhola, recebido mais de R$ 50 milhões em comissões ilegais na venda de amistosos da seleção brasileira. Rosell está preso na Espanha há dois meses. No mês passado, o ex-presidente do Barcelona tentou usar a CBF para sair da cadeia. Ele apresentou como recurso uma carta da entidade, assinada pelo secretário-geral Walter Feldman, na qual a confederação diz que "não se sentiu prejudicada" pela atuação de Rosell e Teixeira. A justiça da Espanha negou o pedido.
Neste caso específico da Espanha, a defesa de Ricardo Teixeira afirma que ele é inocente. Em entrevista recente ao jornal "Folha de S.Paulo", o ex-presidente da CBF afirmou:
– Tudo que me acusam no exterior não é crime no Brasil. Não estou dizendo se fiz ou não.
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