Esportes
Em momento difícil, Internacional comemora 10 anos do título mundial
No dia 17 de dezembro de 2006, colorados dominavam o mundo com tento anotado por Adriano Gabiru
Índio domina contra Ronaldinho e tenta limpar o lance, na risca da linha de fundo. O relógio beira os 36 do segundo tempo. Combalido pelas dificuldades de respirar, fruto de um tampão para estancar o sangramento do nariz quebrado pelo colega Edinho, o zagueiro pena contra o endiabrado craque rival e manda de qualquer maneira para frente. A bola respinga nas cabeças de Adriano Gabiru e Luiz Adriano, até se aninhar nos pés de Iarley.
Do alto de seu 1m71, o camisa 10 tem a frieza de aplicar uma caneta capaz de desalinhar a coluna vertebral de Puyol. O xerife catalão treme diante do talento gigante daquele meia-atacante pequenino. Ao seu lado, Rafael Márquez parece atônito. Os dois recuam acuados, diante do avanço solitário de Iarley, como um batalhão de um home só. Luiz Adriano irrompe pela direita, mais adiantado. Gabiru dispara pelo outro lado.
Com a bola rente ao pé direito, o baixinho tem o jogo a seu dispor. É ele quem dita as regras. É ele quem escreve as linhas da história com a frieza de um conquistador. E a destreza de um passe cirúrgico, na força e na medida certas, com potência suficiente para vencer Belletti e encontrar Gabiru. O camisa 16 quase não estivera ali. Minutos antes, Abel Braga o mandou a campo no lugar do iluminado Fernandão. E só o fez porque Frank Rijkaard havia sacado o marcador Tiago Motta.
Mas estava, predestinado. Ali, dentro da área, o meia-atacante carrega um mundaréu de vaias e críticas da torcida. Alguns sequer entendiam o que fazia dentro de campo em Yokohama, mas ele teve a paciência de explicar a seu modo. Após o domínio, a bola escorre em frente a Valdés, até o toque certeiro, enviesado, para fazê-la se aninhar nas redes.
Gabiru logo irrompe em uma corrida inabalada, braços abertos, para comemorar o tento. Em meio à euforia, não tem a dimensão exata da história que escreveu com a parte externa de seu pé direito. Mais do que o gol. Mais do que a festa. Mais do que o 1 a 0 sobre o gigante Barcelona, na final do Mundial de clubes. Gabiru pintou a Terra de vermelho.
A partir daí, o jogo dentro de campo ganha ares de epopeia. Enfurecido, o Barça se lança ao ataque. Deco obriga Clemer a fazer um milagre, com a ponta dos dedos. Ronaldinho e seu olhar fatal, focado no empate, cobra uma falta venenosa, que fez tremer a trave antes de sair para tiro de meta. Iarley, um gigante naquela final, é capaz de segurar a bola por um minuto rente à bandeirinha de escanteio. Em um último suspiro culé, Clemer, novamente, intervém para executar a defesa. Vem o apito final, e o resto é história.
Há 10 anos, os colorados vivenciaram tudo isso e muito mais num 17 de dezembro que persiste a povoar seu imaginário. Em um momento de tristeza, frente à pior mácula da história do clube, é até difícil de traçar um paralelo com sua maior conquista. Mas a homenagem se faz necessária. Enquanto o Inter se reestrutura para fugir da Série B em 2017, o GloboEsporte.com revisita o gol de Adriano Gabiru acima. Abaixo, faz questão de resgatar alguns fatos e feitos da estadia no Japão.
Fernandão, o eterno capitão, beija a taça do mundial (Foto: (Jefferson Bernardes/Vipcomm Divulgação)
Confira algumas lembranças do título mundial do Inter:
Solidariedade na ida ao Japão
As dificuldades inerentes à conquista de um Mundial iniciaram ainda em solo brasileiro para os colorados. Em meio à euforia da torcida, que carregou nos braços os jogadores até praticamente o avião, a delegação teve de enfrentar greves no aeroporto de São Paulo, em meio à crise aérea.
Os problemas não pararam por aí. Numa série de escalas até chegar ao Oriente, o Colorado pousou em Paris, onde passaria uma noite antes de seguir viagem. Num infortúnio, o colombiano Vargas e o peruano Hidalgo, sem visto para entrar na França, ficaram detidos no aeroporto, sem poder repousar no hotel. E ficariam sozinho ali, não fosse Iarley. O camisa 10 se dispôs e, solidário, permaneceu com os companheiros na sala de embarque, entre visitas às lojas e conversas, até a delegação prosseguir seu trajeto.
Tensão na semi
Num vestiário povoado por figuras irreverentes como Perdigão, Ediglê e Edinho, o pagode e as brincadeiras eram cena recorrente no trajeto de ônibus da concentração ao estádio. Tudo servia para distensionar o ambiente antes das partidas, num cenário que contrasta – e muito – com o clima no trajeto para a semifinal, contra o Al Ahli.
Envoltos em ansiedade, os colorados rumaram calados à partida. Esperavam dificuldades que se concretizaram dentro de campo. A equipe abriu o placar com Alexandre Pato, mas viu os egípcios empatarem. O gol da vitória, de Luiz Adriano, outro prata da casa, só veio no final da partida.
Reunião-chave
Às vésperas da decisão com o Barcelona, Abel Braga promoveu um trabalho coletivo para ajustar alguns posicionamentos. Viu seus titulares serem batidos por 3 a 0 pelos suplentes, num sinal de mau agouro para a final. Aí, irrompeu a liderança de Fernandão. Ao lado de Iarley e do ainda jovem Alexandre Pato, o eterno capitão se reuniu com o comandante, já no hotel da delegação.
Em pauta? A marcação a ser adotada contra o rival catalão, que contava com craques do quilate de Iniesta, Deco e Ronaldinho. O capitão sugeriu que o Inter marcasse em cima o Barcelona, com ele próprio sendo incumbido de pressionar Thiago Motta, na saída de bola. Deu resultado.
Discurso de Fernandão
Fernandão ainda intercedeu num último momento antes de a bola rolar. Na reclusão do vestiário o capitão tomou para si as palavras derradeiras, instantes antes de entrar em campo. Ali, proferiu um discurso de motivação, emocionado e efusivo, seguido da oração costumeira.
"Chegou a hora. Chegou o tão sonhado momento. Ninguém chegou aqui por acaso. Ninguém ganhou no sorteio a classificação para vir jogar essa final. Ganhou com muita luta, com muita determinação, com muita vontade. Com muita DO-A-ÇÃO dentro de campo. Lá dentro, dá o máximo. Dá o máximo. Só que lá dentro a gente vai ver quando está chegando no máximo, a gente pode dar mais um pouquinho. Vamos lá dentro, e vamos sair daqui CAM-PE-ÃO!"
Recepção em Porto Alegre
O retorno ao Brasil também rende lágrimas nos olhos dos colorados. O avião com a delegação pousou na base aérea de Canoas, na região Metropolitana de Porto Alegre. Dali ao Beira-Rio, o caminhão de bombeiros com a delegação colorada foi carregado pela torcida, que lotou o estádio. Clemer e Fernandão comandaram a festa, aos gritos de "Vamo, vamo, Inter", numa tarde de sol forte em que a euforia invadiu o gramado. Entre abraços, gritos e cumprimentos, era até difícil de se locomover para os campeões.
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