No universo das produções nacionais, 2025 vem sendo o ano do crime. Séries brasileiras que exploram criminosos - tanto fictícios, como "Dias Perfeitos" e "Os Donos do Jogo", quanto inspiradas em fatos reais, como "Tremembé" - dominaram o ranking das mais assistidas nas plataformas de streaming e incendiaram as discussões nas redes sociais. Mas afinal, por que o público brasileiro se mostra tão fascinado por histórias que giram em torno de crimes e criminosos?

O fascínio pelo comportamento criminoso

Uma das explicações está na curiosidade natural do ser humano pelo que é proibido. Há um desejo quase instintivo de compreender a mente criminosa: o que motiva alguém a cruzar a linha da moralidade? Quais são as consequências emocionais e sociais disso? Esse impulso de entender o "porquê" e o "como" é o que mantém o público atento a cada episódio.

Além disso, o formato seriado potencializa o interesse. As tramas são altamente envolventes e estruturadas para prender o espectador, o que combina perfeitamente com o hábito contemporâneo de "maratonar" séries. Mesmo quando o desfecho é conhecido, o público quer descobrir os bastidores do crime, as motivações ocultas e o impacto nas pessoas envolvidas.

Pesquisas também ajudam a entender o fenômeno. Um estudo da Universidade de Illinois, realizado em 2010, revelou que as mulheres tendem a se interessar mais por produções sobre crimes reais - especialmente aquelas que exploram como as vítimas escaparam, reagiram ou entenderam as ações de seus agressores. O medo, nesse caso, se mistura com aprendizado e identificação.

A força das produções brasileiras

Séries sobre criminosos não são novidade, mas assistir a histórias ambientadas no Brasil traz uma camada extra de reconhecimento e realismo. Diferentemente de produções estrangeiras, como "Silêncio dos Inocentes" ou "Making a Murderer", as obras nacionais traduzem a complexidade da criminalidade dentro do nosso contexto social, político e cultural.

Desde a origem dos crimes até as falhas nas investigações e as particularidades da punição, tudo ganha novos significados quando retratado sob o olhar brasileiro. É o que explica o sucesso de clássicos como "Linha Direta" e, mais recentemente, de fenômenos como "Vale o Escrito", ambos retratando casos emblemáticos que marcaram o país.

Casos reais e o peso da mídia

Outro fator decisivo é o papel da imprensa brasileira na construção da memória dos crimes. Casos como o de Eloá e Lindemberg, que chocaram o país e tiveram ampla cobertura ao vivo, tornaram-se parte do imaginário coletivo. Não à toa, "Tremembé" desperta tanta curiosidade ao revisitar histórias de figuras já conhecidas, como Suzane von Richthofen e Elize Matsunaga - personagens cercadas por mistério, emoção e intensa exposição midiática.

Até mesmo entrevistas históricas, como a de Suzane ao apresentador Gugu Liberato, são retomadas como elementos narrativos que ampliam a compreensão do público sobre essas pessoas e seus crimes.

Um espelho da sociedade

O sucesso das séries criminais brasileiras mostra que o interesse vai além da violência retratada. O público busca entender quem são esses indivíduos, o que os levou a cometer tais atos e como essas histórias refletem nossa própria sociedade.

Enquanto o crime continuar presente no noticiário e nas conversas cotidianas, ele permanecerá como um tema irresistível para o audiovisual. Afinal, quando algo faz parte da vida real, é natural que também ocupe espaço na ficção - e, inevitavelmente, na curiosidade de quem assiste.