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Madame Aema e a história real por trás do novo K-drama da Netflix

Conheça mais sobre a história por trás de Madame Aema, novo k-drama da Netflix.

Por Anderson Narciso com Mix de Séries 25/08/2025 19h04
Madame Aema e a história real por trás do novo K-drama da Netflix
Madame Aema e a história real por trás do novo K-drama da Netflix - Foto: Reprodução

A Netflix lançou recentemente o K-drama Madame Aema, que mistura ficção e realidade para revisitar um momento marcante da história do cinema sul-coreano: a produção de Madame Aema (1982), considerado o primeiro grande filme erótico da Coreia.

Mais do que apenas uma série sobre bastidores de um set de filmagem, Aema resgata um período de transformações políticas, censura e contradições sociais durante a ditadura militar de Chun Doo-hwan, refletindo sobre como arte, política e desejo se cruzaram nos anos 1980.


O que é Madame Aema, a série da Netflix?

Na trama de Madame Aema, acompanhamos uma atriz veterana, um diretor inexperiente, o chefe misógino de um estúdio e uma jovem dançarina de boate que se encontram em torno da missão de produzir o primeiro filme adulto do país. Embora os personagens principais sejam fictícios, eles representam arquétipos muito presentes na indústria cinematográfica da época: atrizes pressionadas a se despir, diretores sem autonomia criativa e executivos dispostos a sacrificar tudo em nome do lucro.

A protagonista Jeong Hee-ran (Lee Ha-nee) é inspirada em tantas atrizes que, no auge da carreira, se viram limitadas a papéis hipersexualizados. Sua recusa em fazer mais cenas de nudez ecoa o embate entre ambição artística e imposições de uma indústria dominada por homens.


A verdadeira Madame Aema (1982)

O filme original Madame Aema foi lançado em 1982 e se tornou um marco do cinema coreano. Estrelado por Ahn So-young, contava a história de uma mulher casada que, insatisfeita, busca prazer em diversos amantes. A cena mais famosa mostrava a protagonista cavalgando um cavalo nua — uma imagem ousada e provocativa para a época.

O impacto foi imediato: o filme vendeu mais de 100 mil ingressos em Seul (um feito raro na época), originou 12 sequências oficiais e ao menos 16 derivados, criando uma verdadeira era de “ero films” no país.

Curiosamente, até o título enfrentou censura: originalmente escrito em hanja como “mulher que ama cavalos”, foi alterado para “mulher que ama cânhamo”, suavizando a conotação explícita, mas mantendo o apelo erótico.

O contexto histórico: censura e a política dos “3S”

O sucesso de Madame Aema não pode ser entendido sem olhar para o período político da Coreia do Sul. Durante os anos 1980, o general Chun Doo-hwan governava o país sob regime militar autoritário.

Para tentar distrair a população das atrocidades cometidas por seu governo — incluindo o Massacre de Gwangju (1980), no qual mais de 200 manifestantes foram mortos pelo exército — Chun implementou a chamada política dos “3S” (sex, screen e sports). A ideia era clara: incentivar produções de entretenimento, inclusive eróticas, e promover esportes (como preparação para as Olimpíadas de 1988) para “acalmar” a sociedade e evitar mobilizações políticas.

Assim, ao mesmo tempo em que a censura política era severa, filmes com apelo sexual eram não só liberados, mas incentivados pelo governo, desde que não criticassem diretamente o regime.


Chungmuro: o “Hollywood coreano”

Grande parte da ação de Madame Aema da Netflix se passa em Chungmuro, distrito de Seul conhecido como o coração da indústria cinematográfica sul-coreana até os anos 1990. Foi ali que funcionaram estúdios, agências e cinemas históricos, como o Dansungsa, um dos mais antigos do país.

Na série, Chungmuro é o centro nervoso da trama, representando tanto as oportunidades quanto a exploração que definiram a indústria naquele momento.


O paradoxo da liberdade erótica e censura política

Embora os filmes eróticos tenham ganhado espaço, a liberdade criativa era uma ilusão. As produções passavam por rígidas comissões de censura, cortes eram frequentes e qualquer menção política contrária ao regime era imediatamente vetada.

Como explica o diretor Lee Hae-young, responsável pelo K-drama, a série busca expor esse paradoxo: “Nos anos 1980, o governo incentivava os filmes eróticos, mas a censura era implacável. Não havia liberdade real de expressão. Revisitar esse contraste hoje é uma forma de reinterpretar e questionar aquele período”.


Madame Aema como ícone cultural

Madame Aema se tornou mais do que um filme erótico: virou símbolo de uma era. Representava os desejos reprimidos de uma sociedade em transformação, mas também a exploração de atrizes e a manipulação cultural por parte do governo.

Sua influência foi tamanha que até hoje o nome “Aema” é associado a esse período do cinema coreano. Ao dramatizar esse processo, a série da Netflix não apenas revisita a história, mas também lança luz sobre como desigualdade de gênero, exploração e censura caminharam lado a lado naquele contexto.


A relevância para os dias de hoje

Embora se passe nos anos 1980, Madame Aema traz discussões que ainda ecoam no presente:

Assédio e misoginia na indústria do entretenimento
, que seguem sendo denunciados em várias partes do mundo.

Exploração do corpo feminino como moeda de troca para sucesso e poder.

Uso do entretenimento como distração política, um recurso que ainda pode ser percebido em diferentes governos.

Como afirmou o diretor Lee: “Estamos contando uma história do passado, mas se olhar com atenção, verá que ela se conecta ao mundo de hoje”.

O K-drama Madame Aema não é apenas uma série sobre bastidores de um filme polêmico. É uma reflexão sobre como a Coreia dos anos 1980 lidou com modernização, censura e desejo, transformando um longa erótico em ícone cultural.

Ao trazer esse debate para 2025, a Netflix convida o público a refletir sobre o quanto ainda vivemos dilemas parecidos — entre poder, liberdade e exploração.

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