Entretenimento
Matrix completa 25 anos e se consolida como um fenômeno pop
O clássico se tornou uma importante influência para a sétima arte
Há exatos 25 anos, no dia 21 de maio de 1999, "Matrix" estreava nos cinemas brasileiros. Um quarto de século após o seu lançamento, podemos mensurar os impactos que o filme gerou em toda a indústria cinematográfica e as grandes referências e novidades que ele agregou à cultura pop.
O longa foi bastante inovador, tanto em seu roteiro quanto nos efeitos especiais utilizados. A princípio, "Matrix" fazia parte de uma trilogia, mas com o lançamento de "Matrix Resurrections" (2021) e da confirmação de um quinto filme, feita recentemente, é possível que a saga ainda reserve inúmeras histórias para contar.
Em comemoração ao aniversário do filme, fizemos uma análise dos seus pontos fortes, provando que "Matrix" já pode ser considerado um clássico do cinema, com uma enorme importância para a história da sétima arte. Confira:
CYBERPUNK E O NOVO MILÊNIO
O gênero de ficção científica já era representado por muitos títulos de peso, como "Blade Runner – O Caçador de Androides" (1982), "O Quinto Elemento" (1997), entre tantos outros. Contudo, "Matrix" nos apresenta um futuro distópico com um enredo tão bem embasado, que larga na frente de muitos outros representantes da temática.
O fundo filosófico que permeia a dúvida: "será que tudo que vivemos é real?”, aliado a uma estética e mitologia totalmente autorais, fizeram com que o filme agradasse a uma infinidade de públicos: desde aqueles que buscavam uma história “cabeça”, até os que ansiavam por cenas de ação e efeitos especiais de primeiríssima qualidade.
Quando Matrix foi lançado, a humanidade estava prestes a cruzar a fronteira do Novo Milênio, e a ansiedade coletiva (quem não se lembra do bug do milênio, ou das profecias de povos antigos sobre o Fim do Mundo?) vivida à época do lançamento, também contribuiu para que o contexto fosse bastante bem-recebido.
LUTAS COREOGRAFADAS
s cenas de luta do longa são primorosamente bem executadas. O esforço foi tamanho, que o elenco treinou por quase seis meses, incansavelmente, para filmá-las. Quase todos os atores dispensaram dublês para estas sequências, coreografadas pelo especialista em artes marciais, o chinês Yuen Woo-ping.
Apesar da prática já existir em Hollywood, "Matrix" popularizou esse tipo de cena em gêneros menos específicos. Antes mais presentes em filmes de artes marciais, as coreografias de luta agora podem ser vistas em outros tipos de longa: "O Dublê" (2024) e "John Wick – De Volta ao Jogo" (2014) são apenas alguns dos inúmeros exemplos.
CULTURA HACKER
Os mais jovens talvez não se lembrem, mas em 1999, a Internet Banda Larga era impensável no Brasil. Ela só surgiu no país no ano 2000 e, mesmo assim, demorou bastante para se popularizar.
Tendo acesso somente à conexão discada, a figura do Hacker era quase mitológica por aqui – quem tinha nas mãos algum conhecimento sobre informática, causava estranheza, admiração e curiosidade.
O filme soube explorar muito bem esse imaginário, uma vez que Neo, antes de alcançar o status de O Escolhido por Morpheus e sua turma, era um programador que, nas horas vagas, trabalhava ilegalmente, invadindo computadores e roubando dados.
ESTÉTICA E INFLUÊNCIA NA MODA
Os figurinos do filme são um capítulo à parte de sua história, e o tratamento das imagens na pós-produção também. O filme preza por cores com pouca saturação, técnica utilizada em muitos outros filmes de ficção científica mais recentes. Tons de verde e azul, aliados ao visual all black dos protagonistas, contrastam com objetos importantes do longa, como as pílulas azul e vermelha, ícones da escolha de Neo.
O couro e o vinil influenciaram figurinos como o do primeiro "X-Men - O Filme" (2000), lançado logo depois – de fato, virou tendência! Óculos inspirados nos usados pelos personagens também foram lançados, prova de que sua estética foi inserida na cultura de forma muito marcante.
EFEITO MATRIX (BULLET TIME)
Posteriormente explorada à exaustão por Hollywood, a técnica intitulada Bullet Time foi criada especialmente para "Matrix". O efeito que vemos na cena em que Neo desvia das balas e o mundo ao seu redor parece “congelar”, foi revolucionário na época.
Reproduzida em outras produções cinematográficas, videogames e eventos por mundo afora, a técnica consiste em uma centena de câmeras, lado a lado, que capturam a cena em vários ângulos, podendo reproduzir todos os quadros em uma sequência que “passeia” lentamente em um único momento captado. Mesmo que a clássica cena tenha sido alvo de sátiras, a técnica ainda é utilizada com frequência.
UMA METÁFORA SOBRE TRANSIÇÃO DE GÊNERO
Lilly e Lana Wachowski, criadoras do universo Matrix, são mulheres transgêneras, o que significa que ambas não se identificam com o gênero o qual lhes foi imposto ao nascer. A dupla, durante o desenvolvimento da história, lidava em paralelo com as descobertas, preconceitos e desafios impostos às suas condições.
Desde que a transgeneridade das irmãs se tornou pública, entre os anos de 2012 e 2016, os fãs do filme se questionam: a produção carregaria, além de todas as nuances, reflexões acerca de questões de gênero?
Quando questionada sobre a verdadeira mensagem por trás do filme, e as especulações feitas durante os anos que sucederam a estreia, Lilly confirmou o que muitos já comentavam:
"Estou feliz que tenha vazado, pois esta era a intenção original, mas o mundo não estava totalmente pronto ainda, em termos corporativos. O mundo corporativo não estava pronto para isso", afirmou ela, em entrevista à Netflix, referindo-se às questões de gênero e sexualidade abordadas metaforicamente - e de maneira intencional - na produção.
"Nós tínhamos o material de Matrix, e tudo era sobre o desejo de transformação. Porém, tudo partia de um ponto de vista fechado, então tínhamos o personagem Switch, que era como alguém que seria um homem no mundo real e depois uma mulher na Matrix. E, você sabe que, ambos estavam... onde nossos [eu e Lana] pensamentos estavam naquele momento", concluiu, referindo-se ao período em que ela e a irmã refletiam sobre suas identidades.
Assistindo à antiga trilogia e ao filme mais recente da saga, é possível perceber que o legado de "Matrix" vai muito além dos efeitos visuais inovadores, das reflexões sobre o avanço desenfreado da tecnologia e das inteligências artificiais, e do modo como enxergamos a alteridade: a história, sobretudo, propõe um olhar sobre nós mesmos, enquanto indivíduos carregados de nuances e de identidades, infinitamente plurais.
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