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Dois homens e uma história de vida, Paulo Miklos vive Chet Baker hoje no Teatro Deodoro

Espetáculo sobre queda e ascensão do músico chega aos palcos alagoanos, em única apresentação

Por Editoria de D&A com Tribuna Independente 31/08/2019 08h40
Dois homens e uma história de vida, Paulo Miklos vive Chet Baker hoje no Teatro Deodoro
Reprodução - Foto: Assessoria
Quando o filme brasileiro o Invasor estreou nas telas de cinema, em 2001, se tornava oficial e público o processo de reinvenção de Paulo Miklos, que até então era conhecido por fazer parte da banda de rock Titãs.  De lá pra cá fez vários personagens, entre eles encarnou  o sambista paulista Adoniran Barbosa (1910 – 1982) no curta-metragem Dá Licença de Contar (Brasil, 2015). Pelo trabalho foi ovacionado pela crítica. Agora ele retoma um projeto de 2016, que também dá vida a outro músico e, desta vez, nada mais, nada menos, que o polêmico Chesney Henry Baker Jr- trompetista e cantor norte-americano de jazz conhecido por uma vida conturbada e interrompida depois da queda de uma janela de hotel em Amsterdã. Chet Baker – Apenas um Sopro poderá ser vista em Maceió, neste sábado (31), no Palco do Teatro Deodoro a partir das 21h. O espetáculo faz um recorte de um dos momentos mais dolorosos da vida do trompetista e quando ele teve que se reinventar para continuar tocando. Encenada sob direção de José Roberto Jardim, a peça de Sérgio Roveri flagra o trompetista após a surra levada em 1968, em São Francisco (EUA), que o deixou sem os dentes da frente e, consequentemente, sem aptidão e sem embocadura para tocar o trompete que o consagrara nos anos 1950. Na pele sensível de Baker, Miklos consegue evidenciar a fragilidade do músico, ponto nervoso da ação. É dele a dramaturgia para transformação de um homem que viria ser um dos maiores nomes do jazz mundial. Ele ainda diz que, de alguma forma, há pontos de intersecção entre ele e Baker. “Eu já era influenciado por ele como músico. Sempre foi um dos meus preferidos. Pouca gente saber, mas Chet Baker foi um dos influenciadores da Bossa Nova. Quando recebi o convite veio tudo isso na minha cabeça e aceitei. O resto foi mergulhar na história dele, e trabalhar”, Paulo Miklos, em entrevista por telefone para o D&A. “Eu tinha desejo de fazer teatro, mas era algo que não achava que fosse acontecer assim tão cedo. Eu projetava isso, era um desejo, até porque não me via pronto. Mas, quando apareceu o convite, aconteceu novamente aquilo que me aconteceu quando fui chamado para fazer ‘O invasor’, há 15 anos: aceitei o desafio e fui descobrir como fazer. Acho que a gente vai descobrindo isso a vida inteira”, comentou. A encenação prima pela musicalidade, até porque a ação é inteiramente centrada numa ida de Baker ao estúdio para (tentar) gravar um disco com a cantora Alice (personagem da atriz e cantora Anna Toledo, dona de voz tão afinada quanto a capacidade de interpretar as emoções das canções) e com os músicos vividos pelos atores Jonathas Joba (baixo), Ladislau Kardos – cujo longo solo de bateria no início da encenação pode assustar espectador que ignora que a música é também personagem central na dramaturgia de Roveri – e Piero Damiani (piano). Uma das cenas marcantes, apontadas  por Miklos, é o momento em que Baker tem uma bad trip de heroína e expõe toda a vaidade do artista considerado símbolo sexual. O jogo de luz e de áudio nos leva a invadir as alucinações do mago do trompete. Longe das drogas há dez anos, Miklos diz que esse é um tema com o qual ele se identifica muito e se torna um tempero a mais para o que o músico está experimentando como ator. “A peça discute uma coisa que para mim é muito importante, que é o personagem, a pessoa do artista, o ser humano. A miséria humana, as dificuldades da dor, o descaminho... Tudo isso dentro de uma situação da fama. O texto é fantástico, muito bem desenhado. Ele reproduz aquilo que a gente conhece bem de uma maneira muito natural e real. Tem as relações entre os músicos, tudo o que acontece de verdade”, diz Miklos.