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Carlos Saldanha dá lição de tolerância e respeito e representa o Brasil no Oscar

Primeiro brasileiro da história indicado duas vezes ao Oscar, o cineasta carioca Carlos Saldanha, 53 anos, disputa ao prêmio de 2018 com uma fábula sensível sobre respeito, inclusão e aceitação das diferenças. O Touro Ferdinando, dirigido por ele, concorre à estatueta de melhor animação, ao lado de O Poderoso Chefinho, The Breadwinner, Viva – A Vida é Uma Festa e Com Amor, Van Gogh.
A 90ª cerimônia da maior premiação do cinema acontece neste domingo (4), em Los Angeles (Califórnia), e será exibida no Brasil pela TV Globo (23h52) e pela TNT (20h30). Saldanha, o nome por trás das franquias de animação A Era do Gelo e Rio, conversou com o CORREIO sobre a indicação, expectativas para a premiação, projetos e analisou ainda o cenário da animação brasileira. Falou também sobre a mensagem do Touro Ferdinando: “Um mundo com um pouquinho mais de tolerância seria muito melhor”. Confira entrevista exclusiva completa.
O Touro Ferdinando esteve entre os finalistas do Globo de Ouro de animação e agora disputa Oscar 2018 na categoria Melhor Animação. Como foi receber a sua segunda indicação ao Oscar? Quando a gente faz um filme, não pensamos nos prêmios. Queremos fazer um bom trabalho, que o público goste. Premiações são a cereja do bolo de um longo processo. Fechamos com chave de ouro. Com a indicação ao Globo de Ouro eu já estava super feliz e o Oscar foi uma surpresa ainda maior. Fiquei bem feliz e animado. Já fico satisfeito de ter sido indicado e, ganhando ou não, vou estar feliz.
Você é o nome do Brasil quando falamos em animação e o primeiro brasileiro da história indicado duas vezes ao Oscar. Como você vê isso? Mesmo estando nesse patamar, estando bem conceituados e conhecidos, a luta é mesma. A gente corre atrás. A gente está sempre na batalha e nunca pára, sabe? Claro que os prêmios e os reconhecimentos todos são maravilhosos e muito bons, mas o nosso dia a dia é o mesmo. A gente está sempre brigando para fazer os projetos que a gente quer fazer e continua tendo surpresas e decepções e alegrias. Tudo é fruto de muito trabalho e de correr atrás. A diferença é que as portas se abrem mais facilidade, mas isso não quer dizer que as coisas vão acontecer imediatamente. Então a gente tem que continuar brigando e lutando. Cada projeto que eu faço é como se eu tivesse começando do zero, porque cada projeto é diferente, é uma equipe que tem uma proposta diferente, um desafio diferente... Não tenho tempo para viver dos louros. A gente quer mesmo é fazer um bom trabalho.
Você vai na cerimônia neste domingo (4), no Teatro Dolby, em Los Angeles (EUA)? Tem alguma superstição para dar sorte no dia? Sim, a gente vai e eu quero curtir e me divertir. Cheguei em Los Angeles com a Isabella (esposa dele, com quem tem quatro filhos) quinta (1º), porque acontecem várias festas e eventos antes da cerimônia. Não tenho nenhuma superstição nem nada não (risos). Quero curtir e me divertir e, se vier, veio.
Qual é sua aposta para o Oscar de melhor filme? Tem vários filmes maravilhosos, mas tem dois que eu gostaria muito que ganhassem: Três Anúncios Para Um Crime e Me Chame Pelo Seu Nome.
O que você acha que fez com que a Academia incluísse o filme entre os indicados? Qual o diferencial dele? Eu acho que a mensagem. É algo que está muito forte agora, de ser fiel a quem você é. De você se valorizar não pelo que aparenta, mas pelo que você realmente é por dentro. E tem também uma mensagem de paz muito forte sobre lutar sem brigar, não precisar usar da violência para provar seu ponto de vista. De lutar com paz, lutar com a cabeça, lutar buscando seus direitos. É uma temática muito atual e muito forte. O filme tem esse carisma e essa pegada emotiva, que trouxeram um peso para a produção, e que agradaram as pessoas da Academia que votaram a favor.Em tempos de intolerância, O Touro Ferdinando fala de um touro "diferente” e dá uma lição de tolerância. Como surgiu essa ideia? Você já conhecia o personagem do livro cultuado de Munro Leaf? A mensagem vem do livro. É um livro pequeno, mas é muito conhecido. É uma obra que aqui (Estados Unidos) todas as crianças leem na escola. Publicado originalmente em 1936, Ferdinando, o touro, tem um histórico de ser lido pelos pais, pelos avós, pelos filhos. Meus filhos, por exemplo, leram o livro na escola, conhecem a história. Não é só uma história muito conhecida como admirada e amada por aqui. Tem uma mensagem muito bonita, singela, poética, de um mundo que a gente gostaria que fosse real. Um mundo com um pouquinho mais de tolerância seria muito melhor. Em meio a tantos retrocessos, muitas vezes a gente busca mensagens como essas, que resgatem um pouco da humanidade nas pessoas.
Demorou quanto tempo para fazer o filme? Como foi o processo? A gente comprou os direitos autorais e começou a trabalhar nas ideias, uma coisa mais devagar no início, a cerca de sete anos. A produção mesmo começou tem uns quatro anos. Demora geralmente de três a quatro anos para fazer um filme desses. É um período bem intenso, em que a gente desenvolve a história, roteiro e todo o processo. Além disso, a equipe é grande, foram mais de 300 pessoas trabalhando sem parar. É um processo longo, mas muito gratificante porque a gente ama o que a gente faz, e a gente dá um gás maior e dá aquela vontade boa de acordar de manhã e ir para o trabalho.
A animação tem raízes na cultura hispânica. Teve alguma pesquisa? O livro se passa no sul da Espanha e o filme se passa lá mesmo. Mostramos Madri e as touradas. Fui para lá, a gente viajou pelas cidades e fez todo um processo de pesquisa, estudando e buscando referências.
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