Educação

Ufal tem primeira defesa de dissertação por pessoa não binária

Defendendo pesquisa sobre a Teoria Cuir, Aderjan Albert traz visibilidade às pessoas não binárias e às diversidades

Por Ascom Ufal 20/09/2025 00h59 - Atualizado em 20/09/2025 02h53
Ufal tem primeira defesa de dissertação por pessoa não binária
Relevância da pesquisa culminou na aprovação de Aderjan Albert para a passagem direta ao doutorado, que já se iniciou no mês de agosto - Foto: Ascom Ufal

Um novo capítulo sobre respeito e atenção às diversidades foi escrito pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal): o primeiro título de mestrado defendido e aprovado por uma pessoa não binária. Em agosto, Aderjan Albert defendeu o trabalho intitulado A Teoria Cuir: sua reverberação nos espaços e nas (inter)relações sociais e sua contribuição para a formação docente, representando uma relevante contribuição teórica, política e pedagógica no campo dos estudos de gênero, sexualidade, linguagem e educação crítica.

Orientada pela professora Débora Massmann, do Programa de Pós-graduação em Linguística e Literatura (PPGLL), na linha de pesquisa Linguística Aplicada, a dissertação propõe uma escuta sensível às existências dissidentes e tensiona os paradigmas cisheteronormativos que ainda estruturam diversos espaços institucionais, inclusive os acadêmicos. Com um olhar sensível, a pesquisa destaca a Teoria Cuir como uma ferramenta de deslocamento das normatividades e de reconfiguração das relações sociais e formativas.

A banca examinadora foi composta pelo professor José Francisco dos Santos, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), pela professora Lilian Kelly de Almeida Figueiredo Voss e pelo professor Sóstenes Ericson Vicente da Silva, ambos da PPGLL. Em suas avaliações, eles destacaram a densidade teórica do trabalho, sua abordagem interseccional e o compromisso ético-político com uma educação que reconhece a diversidade como princípio formativo e transformador.

Vivência como tema

A temática foi concebida a partir de um insight vivenciado pela estudante. “Durante uma conversa, pensei sobre a Teoria Cuir como objeto de estudo. Já performava como pessoa cuir e percebi que esse campo de pesquisa seria um divisor de águas na minha trajetória na pesquisa”, relembra Aderjan. A proposta chamou a atenção de imediato da professora orientadora, que reconheceu o potencial transformador e simbólico que o estudo carregava. “Era um projeto inovador que tratava de um tema sensível e urgente. A escolha pela teoria cuir como foco central demonstra um compromisso com uma ciência engajada, crítica e socialmente relevante”, destacou a professora Débora Massmann.

Educação, desafios e acolhimento

Um dos principais desafios enfrentados durante a pesquisa esteve na constatação, por parte de Aderjan, de que o ambiente escolar ainda está longe de acolher corpos dissidentes. “A escola reproduz o que é visto do lado de fora: exclusão, preconceito e imposição de modelos normativos. Apesar de seu papel formativo, muitas vezes ainda é um espaço de silenciamento”, pontuou. Mesmo diante dessas constatações, o ambiente encontrado na Ufal se mostrou acolhedor e respeitoso: “Desde o processo seletivo, percebi que havia um cuidado e respeito, do corpo discente e docente que ministraram os componentes curriculares que cursei: considerando o fato de eu já iniciar o processo de seleção sendo uma pessoa não binária, eram respeitados os meus pronomes -ela/dele e ele/dela. Desde a arguição a minha orientadora perguntou como eu gostaria que se referisse a mim, bem como, deu as boas-vindas a partir dos pronomes com os quais eu me identificava. Mais que orientadora, ela sempre esteve sensível às questões que atravessam pessoas que compõem grupos minoritários socialmente. Ou seja, fui muito bem acolhida desde a seleção!”, contou.

Política institucional e impacto social

A conquista da discente está diretamente ligada a um processo maior de transformação institucional. O PPGLL foi pioneiro, no âmbito da Ufal, na implementação de ações afirmativas específicas para pessoas trans na pós-graduação. A iniciativa, fruto da mobilização de estudantes, docentes e movimentos sociais, reconheceu a necessidade de reparação histórica frente à exclusão de identidades dissidentes dos espaços formais de produção de conhecimento.

O impacto foi tão significativo que a Universidade estendeu a política para todos os programas de pós-graduação, tornando-se referência nacional em inclusão e democratização do acesso ao ensino superior. "A dissertação de Aderjan produz diversos impactos para Alagoas e para o país, como a valorização da pesquisa crítica e engajada, incentivo a ações afirmativas, protocolos de linguagem inclusiva, além de contribuir para uma prática docente e um ambiente acadêmico mais inclusivo e respeitoso", ressaltou a orientadora.

Próximos passos

A relevância da pesquisa culminou na aprovação de Aderjan Albert para a passagem direta ao doutorado, que já se iniciou no mês de agosto. "Ao trazer à tona questões que atravessam corpos dissidentes e promover reflexões sobre práticas pedagógicas mais inclusivas, a Ufal mostra ser um ambiente de transformação social e educacional, impulsionando a ocupação dos espaços por pessoas LGBTQIAPN+".

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